Crítica | Godzilla Minus One

Godzilla é um dos maiores símbolos do Japão e suas versões ocidentais nunca fizeram jus ao famoso monstro. O diretor Takashi Yamazaki resgata a tradição japonesa em “Godzilla Minus One”, com uma história que inclui o contexto político ao colocar a trama no pós segunda guerra mundial. Além disso, o próprio Yamazaki é o roteirista e desenvolve um argumento forte no qual os personagens são multidimensionais e humanos. Assim o espectador rapidamente cria empatia com eles, o que é fundamental para um filme desastre funcionar. Para completar, o artista é responsável também pelos efeitos visuais de grande qualidade, que misturaram efeitos práticos com computação gráfica.

O protagonista da história é Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um ex-piloto kamikaze que retorna vivo da guerra após desertar da posição. Ele volta com um enorme sentimento de culpa e encontra sua cidade natal destruída pelo conflito. Seu destino se cruza com Norik (Minami Hamabe), uma mulher em busca de sobrevivência com um bebê nas mãos, que por acaso não é dela. Assim eles se tornam uma família e após alguns anos o protagonista encontra um novo trabalho. É uma forma de seguir em frente quando ele se junta a um grupo liderado por um cientista, cujo objetivo inicial é encontrar e destruir minas marítimas que sobraram da guerra. O problema surge quando Godzilla aparece para atacar o Japão e dessa forma o protagonista tem uma chance de se redimir ao enfrentar essa nova ameaça ao seu país.

A maneira como Takashi Yamazaki desenvolve a narrativa é muito boa, pois não tem pressa em desenvolver o lado humano dos personagens e apresentar bem o contexto histórico da trama. O Japão está em processo de reconstrução após o fim da guerra, sofreu com o ataque de bombas atômicas americanas e agora tem que lidar com a ameaça do Godzilla. Inclusive a forma como o monstro surge tem a ver com as explosões atômicas, mas o diretor e roteirista não perde tempo com muitas explicações sobre isso. Ele sabe que o mais importante são as pessoas envolvidas no conflito.

Outro detalhe interessante é a forma como as pessoas enxergam a figura do Godzilla, pois tem também uma “aura” de divindade, como se fosse um castigo dos deuses. Especialmente para o protagonista que carrega o sentimento de culpa, o que para ele seria uma forma de punição divina.

O contexto histórico e político do pós-guerra é importante para mostrar o poder do povo em lidar com essa nova ameaça. O Japão ficou sem exército após o conflito, assim são os civis que precisam se reunir e encontrar uma forma de solucionar a questão. Nesse ponto Takashi Yamazaki aproveita para incluir uma crítica política e social a “Godzilla Minus One”, tornando seu longa-metragem ainda mais interessante.

A trilha sonora de Naoki Satō ajuda a ditar o tom da narrativa, que alterna entre o épico e a emoção, indo no limite dos sentimentos sem em nenhum momento passar do limite, criando algo genuíno. Junto com o roteiro explora bem o lado humano dos personagens e emociona sem se tornar piegas.

Não poderiam faltar, é claro, as cenas de ação e os ataques do Godzilla impressionam pela qualidade dos efeitos visuais. O diretor e responsável pelo CGI cria a mistura dos efeitos práticos antigos de filmes do monstro, onde uma pessoa vestia um figurino e destruía maquetes, com computação gráfica. O resultado parece algo nostálgico e atual, criando algo único, que mistura de maneira inteligente a imersão dentro do universo do longa-metragem.

Dessa forma, “Godzilla Minus One” se torna uma das grandes surpresas de 2023 e com certeza um dos melhores filmes do ano. É bom ver um diretor japonês como Takashi Yamazaki resgatar a tradição de filmes de monstro de Godzilla com tanto talento e carinho. Ele mostra para os ocidentais como se faz para desenvolver um longa-metragem do gênero de maneira eficaz e com qualidade.

Uma frase: – Noriko: “Aquilo é… Godzilla.”

Uma cena: Quando Godzilla ataca a cidade de Ginza.

Uma curiosidade: O “Menos Um” (Minus One) refere-se ao fato de que o Japão já havia sido devastado pela Segunda Guerra Mundial (reduzido a zero), mas com o surgimento de Godzilla, coloca o Japão no negativo. Isso se reflete no slogan original japonês do filme, que se traduz como “Japão do pós-guerra. De zero a menos”.

Godzilla Minus One (Gojira -1.0)

Direção: Takashi Yamazaki
Roteiro: Takashi Yamazaki
Elenco: Ryunosuke Kamiki, Minami Hamabe, Yuki Yamada, Munetaka Aoki, Hidetaka Yoshioka, Sakura Ando e Kuranosuke Sasaki
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Ano: 2023
Duração: 125 minutos