Crítica | O Espaço Infinito

Crítica | O Espaço Infinito

O filme “O Espaço Infinito” de Leo Bello aborda a saúde mental de forma inteligente e que foge dos clichês, em busca da humanização da protagonista. Nina é uma astrofísica que passa por um surto psicológico e entre as prováveis causas estão a obsessão pelo trabalho, a cobrança como mãe e questões do passado envolvendo o pai.

A montagem de Rafael Lobo faz um bom trabalho ao passar para o espectador um pouco do sentimento de desorientação na qual a protagonista passa. Dessa forma, se em um instante vemos a jovem Nina com o pai, em outro ela está na universidade e na sequência e vemos contemplativa no meio da natureza. Aos poucos o roteiro apresenta a protagonista e os elementos se encaixam, desenvolvendo um estudo de personagem eficiente, ainda que siga uma linha mais subjetiva.

A performance de Gabrielle Lopes é o grande destaque de “O Espaço Infinito”, pois a atriz se entrega totalmente à personagem, em uma atuação extremamente física e naturalista. Ela constrói Nina de forma complexa e multidimensional, sem cair em clichês caricatos de pessoas que sofrem de algum problema de saúde mental.

É interessante como o filme de Leo Bello tem um papel importante em tirar um pouco do estigma de pessoas com problemas psicológicos. Vemos isso em “O Espaço Infinito” principalmente nos momentos nos quais Nina está internada em uma clínica e interage com outros pacientes. O diretor também aborda o lado alternativo da protagonista, como a meditação e outros tratamentos não convencionais, que é demonstrado através da influência do marido dela.

A relação de Nina com o pai é outro ponto importante para conhecer a personagem e entender como ela chegou aos problemas do presente, mas o relacionamento com a mãe não é tão bem explorado, além do simples fato de existir uma complicação entre elas. Os flashbacks mostram como a figura paterna foi a principal influência na escolha dela na área de astrofísica, pois eles observavam juntos as estrelas no céu.

Por último, é importante ressaltar a questão feminina, pois com certeza a grande questão da saúde mental de Nina gira em torno da pressão da sociedade para que ela consiga dar conta tanto de ser mãe, quanto bem-sucedida na carreira. Mesmo com apoio e suporte do marido, sua obsessão pela pesquisa na universidade não é bem-vista pelo orientador dela. Além disso, o problema do relacionamento com a mãe resulta num julgamento da figura materna na forma como ela cuida da filha e do seu jeito alternativo de viver.

Ainda assim, “O Espaço Infinito” talvez pudesse se aprofundar mais na mente de Nina, especialmente na conclusão do filme. A forma como o diretor e roteirista Leo Bello desenvolve a protagonista funciona para mostrar ao espectador o ponto de vista subjetivo dela e assim sentirmos um pouco na pele as angústias de sua situação. Contudo, um aprofundamento melhor, somado à subjetividade existente, renderia uma maior compreensão acerca de questões tão importantes que o longa-metragem aborda apenas de maneira periférica. O trunfo sem dúvidas é a grande atuação de Gabrielle Lopes.


Uma frase: – Nina: “Eu sinto que a minha alma tá sendo devorada por um cão de três cabeças.”

Uma cena: A sessão de terapia alternativa.

Uma curiosidade: O diretor e roteirista Leo Bello conta que fez pesquisas em duas frentes: astrofísica e saúde mental para escrever o filme e compor a personagem. “Além de conversar com um professor da área, da UnB, que me mostrou o trabalho de um astrofísico, além de me mostrar a disciplina na teoria e prática, fiz também uma pesquisa sobre mulheres astrofísicas que me inspiraram para a estética, a firmeza e paixão/obsessão do trabalho da Nina.”


O Espaço Infinito

Direção: Leo Bello
Roteiro: Leo Bello
Elenco: Gabrielle Lopes, Welligton Abreu, Luciana Domschke, Adriana Lodi, Sergio Sartório, Gaivota Naves, Gabriel Sabino, Isabela Ferrari e Anna-Maria Hefele
Gênero: Drama
Ano: 2023
Duração: 78 minutos 

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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