Crítica | É Assim que Acaba

Crítica | É Assim que Acaba

Um filme “água com açúcar” que deveria ser amargo… Assim é possível definir a adaptação do livro de Colleen Hoover para o cinema, “É Assim que Acaba” (It Ends with Us). O longa suaviza a violência contra a mulher enquanto romantiza de certa forma as relações tóxicas.

Uma em cada três mulheres no mundo são submetidas a violência, seja ela física ou sexual, durante sua vida, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). O Brasil ocupa a 5ª posição no ranking mundial de feminicídio. Supõe-se então que o cinema e as artes em geral seriam os principais aliados no combate a esses absurdos, mas não é sempre isso que acontece.

O filme dirigido por Justin Baldoni, também protagonista do longa como Ryle Kincaid, deixa a desejar na construção que a história requer. O enredo apresenta Lily Bloom (Blake Lively), uma mulher que trava suas próprias batalhas contra o passado e, conhecendo Ryle, inicia o que acredita ser um romance encantador, já que seu amado é divertido, charmoso, envolvente, além de ter prestígio por ser neurocirurgião.

O sonho de Lily é abrir sua própria floricultura, sonho inicialmente incentivado por Ryle, que a conhece através da sua amiga e funcionária Allysa (Jenny Slate) – atriz que apresenta uma atuação impecável e cativante. Allysa é irmã de Ryle e quando descobre que há um romance entre os dois avisa a amiga que ele não costuma namorar e sim ter relacionamentos rápidos com diversas mulheres, o que inconscientemente se torna um desafio para a moça – transformar o rapaz.

Abusos psicológicos, manipulação emocional, omissão da verdade, ciúmes, distorção de informações são características da violência contra a mulher. No entanto isso aparece sutilmente no filme. Tanto a direção quanto o roteiro pecam em não aprofundar os assuntos. Algo agradável, por outro lado, é a trilha sonora que com o passar do tempo evolui de músicas românticas, às de tensão até chegar em um tom de redenção.

O relacionamento do casal começa a evidenciar os primeiros sinais de que algo está errado quando Lily encontra um antigo amor, Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), gerando então um ciúme de Ryle. O romance de infância baseou-se em confiança e coragem, tudo que ela esperaria de seu namorado, não foi exatamente o que ela aconteceu. 

As cenas de violência não são claras, tudo é apresentado de forma minimalista e dúbia. Pode ter sido a intenção do longa deixar o espectador em dúvida se foi um acidente ou não (pode ocorrer com muitas mulheres). O romance do casal Lily e Ryle, apesar de ter inúmeras cenas apaixonadas, não passa verossimilhança, uma vez que a química dos atores é péssima e a atuação de Blake Lively é bem apática.

Lily Bloom é apresentada na adaptação do livro de Colleen Hoover como uma moça atormentada por questões do passado que se envolve com um homem que ao longo do filme passa a violentá-la de inúmeras formas. Infelizmente o longa não consegue abordar questões importantes quanto ao tema e peca em não aproveitar o enredo como alerta para o assunto.


Livro x Filme

Por Thais Thieme De Paula Okumoto

Thais Thiemi De Paula Okumoto tem 32 anos, reside em Brasília – Distrito Federal, mas nasceu em Campo Grande – Mato Grosso do Sul. Seus hobbies são a leitura, viajar, ir em cafeterias, assistir filmes e séries. Leitora de diversos gêneros literários, Thaís aproveita seu tempo  cuidando de seu pequeno de 1 ano de idade, bem como se dedicando a sua profissão, mas não deixa de lado a leitura. Ela apresentou para a POCILGA alguns pontos de análise do livro da escritora Colleen Hoover, adaptado para o cinema, descrito aqui.

O filme foi uma boa adaptação. Possui alguns pontos positivos como:

  • Os personagens principais são apresentados mais jovens no livro do que no filme. Gostei dessa mudança por conta do filme retratar um relacionamento com violência doméstica, o que faz mais sentido na história.
  • No começo não gostei da escalação dos atores. Mas o Justin Baldoni me surpreendeu com sua atuação.
  • Foi muito interessante o acréscimo da cena em que Lily visita o túmulo de seu pai com a mãe e Emerson, encerrando para ela um ciclo.

O filme no entanto também apresenta também alguns pontos negativos em relação ao livro:

  • Cenas de violência doméstica poderiam ser como no livro, com detalhes, foi tudo muito rápido sem ser bem explorado;
  • Senti falta dos amigos do Atlas no filme;
  • Faltou mostrar mais profundamente a relação entre Lilly e Atlas quando eram jovens;
  • Para os leitores infelizmente faltou algumas frases marcantes do livro que não apareceram como por exemplo: “Quinze segundos. Esse é o tempo necessário para mudar completamente tudo o que você conhece sobre uma pessoa. Quinze segundos”

Espero que o segundo livro, “É assim que começa”, caso seja adaptado, tenha os direitos comprados e que vire filme para termos uma finalização de fato. Meu medo é de que isso não aconteça por conta dos boatos de que existe uma briga entre o ator/diretor Justin Baldoni (que comprou os direitos do primeiro livro) e a atriz/produtora Blake Lively. Inclusive não gostei da forma como a atriz resolveu promover o filme. Houve uma certa romantização.


Uma Frase: “ – Porque você continuou com ele? – Seria mais difícil partir.”

Uma Cena: O primeiro encontro entre Lily e Atlas.

Uma Curiosidade: A música Britney Spears: Everytime (2004) aparece no filme, com Britney Spears sendo agradecida nos créditos finais. Blake Lively é uma grande fã de Spears e também prestou homenagem a ela na estreia do filme usando um vestido vintage Versace que a própria Britney usou em 2002 em um desfile de moda.


É Assim que Acaba (It Ends with Us)

Direção: Justin Baldoni
Roteiro: Christy Hall
Elenco: Blake Lively, Justin Baldoni, Jenny Slate, Hasan Minhaj e Brandon Sklenar
Gênero: Drama, Romance
Ano: 2024
Duração: 130 minutos

Tássya Macedo Queiroz

Uma porquinha radioativa mestre em energia nuclear na Rússia, que adora química, Harry Potter e Minions, além de amar escrever, se arriscando como crítica de cinema após um tempo se dedicando como band aid de um certo porcolunista da POCILGA.

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