Crítica | Pisque Duas Vezes

Crítica | Pisque Duas Vezes

O que de ruim poderia acontecer se um milionário te convidasse para ir a sua ilha particular com um grupo de desconhecidos? Zoë Kravitz em sua estreia como diretora desenvolve essa premissa de forma visceral no filme “Pisque Duas Vezes”.

O longa apresenta Frida, vivida pela incrível Naomi Ackie, a protagonista que aos poucos nos mostra sua personalidade e nos cativa. Ela trabalha como garçonete nos eventos do milionário e CEO de uma grande empresa de tecnologia, interpretado por Channing Tatum, Slater King. Com um certo fascínio, Frida se aproxima de Slater que, com sucesso, se encanta com ela e demonstra seu interesse nitidamente, mostrando ser um homem encantador e gentil, além de muito bonito.

Após alguns momentos de entrosamento, Frida e sua amiga Jess (Alia Shawkat) são convidadas pelo magnata da tecnologia para irem à sua ilha, com alguns outros convidados da alta sociedade. Destaque para Adria Arjona (Sarah) e Haley Joel Osment (Tom). O que poderia dar errado? Quem não aproveitaria essa oportunidade de ir a um resort particular, com pessoas famosas e interessantes, comer as iguarias mais caras e beber as melhores bebidas possíveis? Aqui não se define a culpa às vítimas, a construção do roteiro deixa claro que, os acontecimentos são definidos muito pela imagem que a sociedade como um todo tem dos famosos e desse lifestyle do dinheiro, que é capaz de encantar qualquer um.

O filme aborda questões sociais, raciais e de gênero, aproveitando para criar camadas em torno de um mistério que vai tomando novas dimensões. Durante alguns dias na ilha, Frida e sua amiga percebem que, apesar de toda diversão, algo não está certo e, de algum modo, elas estão esquecendo de alguns fatos e momentos vividos na própria ilha, desde que chegaram. Zoë cria uma atmosfera envolvente neste thriller, deixando o espectador cada vez mais curioso e tenso. A cada cena é apresentado um detalhe ou uma pista que pode ajudar a entender o mistério por trás dessa situação, sem deixar que isso torne o longa previsível ou monótono.

No terceiro ato a leveza e o divertimento que são apresentados no início do filme se tornam pavor e nervosismo. Torna-se importante aqui citar que o filme contém alguns gatilhos, principalmente na questão da violência de todos os seus tipos. Então, o longa aqui cria uma nova face e mostra que a diretora sabe de fato aproveitar a habilidade dos atores em cena, tornando verossímil cada ato. O mistério ao redor dos acontecimentos finalmente é revelado e, de forma extremamente forte, são mostrados em forma de flashes, para que o espectador tenha a mesma sensação da protagonista, a dificuldade em lembrar de coisas e do horror que é lembrá-las pouco a pouco.

Em parceria com E.T.Feigenbaum (com quem trabalhou na série “Alta Fidelidade”) Zoë Kravitz cria um filme que irá surpreender a todos. Especialmente no que diz respeito à visão da mulher na sociedade, trazendo à tona discussões as quais mulheres são objetificadas e vítimas do comportamento imoral e ilegal dos homens. 

Uma mistura de “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” com “O Menu”, o filme “Pisque Duas Vezes” é uma construção de excelência, que provoca no espectador inúmeros sentimentos, cria uma atmosfera inquietante e alcança o que propõe, chocar e indignar.


Uma frase: – Slater King: “Há um lindo lugar no inferno para as pessoas que não fazem nada.”

Uma cena: O momento em que as mulheres ficam sozinhas na ilha

Uma curiosidade: A filmagem começou em 23 de Junho de 2022, com a produção ocorrendo no México.


Pisque Duas Vezes (Blink Twice)

Direção: Zoë Kravitz
Roteiro: Zoë Kravitz e E.T. Feigenbaum
Elenco: Naomi Ackie, Channing Tatum, Christian Slater, Simon Rex, Adria Arjona, Kyle MacLachlan, Haley Joel Osment, Geena Davis e Alia Shawkat
Gênero: Comédia ácida, Thriller psicológico, Mistério, Thriller
Ano: 2024
Duração: 102 minutos

Tássya Macedo Queiroz

Uma porquinha radioativa mestre em energia nuclear na Rússia, que adora química, Harry Potter e Minions, além de amar escrever, se arriscando como crítica de cinema após um tempo se dedicando como band aid de um certo porcolunista da POCILGA.

2 comentários sobre “Crítica | Pisque Duas Vezes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *