Crítica | Meu Filho, Nosso Mundo (Ezra)

Crítica | Meu Filho, Nosso Mundo (Ezra)

Com um bom elenco e um roteiro dramático, Meu Filho, Nosso Mundo ganha pontos pelo anti capacitismo, mas peca ao deixar de problematizar o óbvio: homens que estão sempre aprendendo, independentemente da idade. Bobby Cannavale interpreta Max Bernal, um comediante fracassado que mora com o pai (Robert De Niro), enquanto enfrenta os desafios de lidar com um filho dentro do espectro autista.

O longa traz como premissa os embates entre Max e sua ex-esposa, Jenna (Rose Byrne), sobre o melhor caminho para educar Ezra (William A. Fitzgerald), de 11 anos e diagnosticado neuro divergente (espectro autista). Desnecessário dizer que a criança mora com a mãe, restando ao pai tarefas essencialmente menores, como levar o filho à escola e a passeios. Mesmo assim, Max, com comportamentos impulsivos e até violentos, causa uma série de transtornos ao lidar com as questões do filho. Se, por um lado, é bem-vinda a crítica sobre medicações e a indústria farmacêutica, por outro, o filme entrega essa crítica a um personagem desajustado que, muitas vezes, se comporta como uma criança, ainda que seja um adulto perfeitamente funcional. 

Ao decidir fazer uma viagem com o filho, o roteiro trata o personagem de Max como alguém que está em busca de respostas para a sua relação paternal (tanto dele com o filho, como com o próprio pai). Contudo, o que se vê em tela é apenas um homem agressivo, que coloca o filho em perigo em algumas situações, tirando-o de sua rotina (essencial para pessoas dentro do espectro) sem se importar com as consequências de suas ações, tanto para ele, quanto para a criança. 

O mais preocupante, é que tudo isso é narrado de uma forma romantizada, como se fosse perfeitamente natural que um homem de mais de 30 anos – pai de uma criança de 11 – possa ter ações agressivas e impulsivas, e tudo isso em nome do amor. Como se aos homens fosse dado o eterno tíquete do “tudo é permitido desde que sua intenção seja boa”. 

Escrito e roteirizado por homens, não à toa ouvimos da boca da única mulher no elenco (Jenna) uma crítica cruel à mãe ausente de Max. Essa cena serve ao único propósito de ser tecnologia de gênero, sedimentando o ideal do mito da maternidade, criado histórica e culturalmente apenas para invisibilizar as mulheres e justificar seu encarceramento ao âmbito privado, enquanto que, em verdade, a habilidade de cuidar não seja apenas daquelas que têm um útero, mas sim uma habilidade humana.

O mesmo acontece com a personagem de Jenna, a mãe de Ezra. Mesmo exausta pela rotina que uma criança dentro do espectro exige, ainda que tenha que lidar com as questões existenciais do ex-marido (Max), Jenna parece desaparecer no roteiro e funciona quase como uma vilã, apenas para que Max seja elevado a pai herói.

Por fim, o filme celebra pessoas neuro divergentes como Ezra, mas erra feio ao passar pano em homem que, a essa altura da vida, ainda não aprendeu a ser pai e a lidar com questões complexas da vida adulta.


Uma frase: “Me dê a bola.”

Uma Cena: Ezra acariciando um cavalo.

Uma Curiosidade: Tony Goldwyn dirige Whoopi Goldberg, com quem co-estrelou em Ghost: do outro lado da vida.


Meu Filho, Nosso Mundo (Ezra)

Direção: Tony Goldwyn
Roteiro: Tony Spiridakis
Elenco: Bobby Cannavale, Rose Byrne, Vera Farmiga, Whoopi Goldberg, Rainn Wilson, Tony Goldwyn, William Fitzgerald e Robert De Niro
Gênero: Comédia, Drama
Ano: 2023
Duração: 100 minutos

Elaine Fonseca

Jornalista, servidora pública e nerd.

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