Crítica | Às Vezes Quero Sumir

Crítica | Às Vezes Quero Sumir

O título em português do filme da diretora Rachel Lambert ameniza um pouco o original, talvez no intuito de não assustar o espectador brasileiro em relação ao longa-metragem. “Às Vezes Quero Sumir” se chama originalmente “Sometimes I Think About Dying”: às vezes penso em morrer. E é justamente isso que acontece com a protagonista Fran, interpretada muito bem por Daisy Ridley. Ela parece estar dentro de um quadro de depressão e no espectro autista.

Fran trabalha em um escritório em uma cidade pequena no interior dos EUA. Seu ambiente de trabalho lembra levemente um clima da série The Office, onde os funcionários parecem mais interessados em interagir entre si e fazer algumas brincadeiras do que realmente trabalhar. A única que leva seu ofício a sério é a protagonista. Seu jeito reservado e de pouca interação com outros seres humanos felizmente é respeitado pelos colegas.

Acompanhamos um pouco do dia a dia de Fran e em alguns momentos presenciamos algo fantasioso, que são os pensamentos que ela tem em morrer. Temos muitos planos detalhes de partes do corpo de Daisy Ridley, ressaltando os pequenos gestos da forma como ela reage ao mundo, criando um clima intimista na narrativa.

O design de produção se destaca ao criar um ambiente que equilibra bem a fantasia e o realismo, criando uma imagem com uma estética meio poética. A trilha sonora de Dabney Morris contribui bastante em criar esse clima meio fabulesco, onde realidade e sonhos se misturam. Esses elementos juntos com a performance de Ridley desenvolvem bem a personalidade da protagonista onde o espectador tenta entender o que se passa em sua cabeça.

A situação muda quando Robert (Dave Merheje), um novo funcionário, começa a trabalhar junto com Fran. Ele é o único no escritório que realmente nota a presença da moça no ambiente e após algumas interações os dois saem juntos fora do horário do expediente. Surge um interesse romântico entre eles, mas cada um tem suas próprias questões que dificultam o desenvolvimento do sentimento. No entanto, isso é uma grande mudança para a protagonista, que se vê saindo totalmente da sua zona de conforto e refletindo sobre os novos sentimentos que surgem a partir desse relacionamento.

O roteiro escrito por Kevin Armento, adaptando para o cinema a sua peça “Killers”, juntamente com Stefanie Abel Horowitz e Katy Wright-Mead explora de maneira correta o que se passa na cabeça de Fran. É interessante como é incluído no argumento o fato de Robert gostar de cinema, assim a narrativa explora alguns elementos de metalinguagem. Isso é explorado nas conversas entre ele e a protagonista sobre ter gostado ou não do filme que acabaram de ver, que por acaso não é revelado qual foi. Esse artifício reflete justamente o sentimento do espectador que ao ver o longa “Às Vezes Quero Sumir” pensa se está gostando mesmo ou não.

No entanto, o filme de Rachel Lambert peca por não explorar mais a fundo a psique da protagonista. Não sabemos muito sobre o seu passado e nem as condições de sua saúde mental. Dessa forma não é possível se conectar tanto com o que se passa na cabeça de Fran e ter uma maior empatia por ela, além de torcer para que a relação dela com Robert funcione. Apesar dessa questão, “Às Vezes Quero Sumir” é um filme correto e que se beneficia principalmente pela ótima atuação de Daisy Ridley.


Uma frase: – Fran: “Qual é o café triste? O “Depresso”.”

Uma cena: Quando Fran vai a uma festa na casa de uns “amigos”.

Uma curiosidade: O longa participou da Seleção Oficial do Festival de Sundance e rendeu indicação do júri principal do Festival Sundance à diretora Rachel Lambert.


Às Vezes Quero Sumir (Sometimes I Think About Dying)

Direção: Rachel Lambert
Roteiro: Kevin Armento, Stefanie Abel Horowitz e Katy Wright-Mead
Elenco: Daisy Ridley, Dave Merheje, Parvesh Cheena, Marcia DeBonis, Meg Stalter, Brittany O’Grady e Bree Elrod
Gênero: Drama, Romance, Comédia
Ano: 2023
Duração: 93 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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