Crítica | Anatomia de uma Queda

Crítica | Anatomia de uma Queda

O que é a verdade? O filme “Anatomia de uma Queda” de Justine Triet analisa essa pergunta do ponto de vista da morte de uma pessoa. A protagonista da história é Sandra Voyter (Sandra Hüller), uma mulher alemã que mora com seu marido Samuel e o filho Daniel no interior da França. Um dia o garoto volta para casa após um passeio e encontra seu pai caído no chão do lado de fora da residência. Apenas Sandra e Samuel estavam em casa, então existem três possibilidades sobre o ocorrido: um acidente, ele se matou ou então ela o empurrou.

O roteiro de Justine Triet e Arthur Harari aborda diversos temas como machismo, relacionamentos e saúde mental, e faz críticas ao sistema judiciário francês, mas que pela universalidade do tema se aplicam a qualquer lugar do mundo. Após a polícia não encontrar indícios sobre ter sido um acidente, decide acusar Sandra como suspeita de matar o marido. Assim, após o trauma da perda de um ente querido, a família passará pelo julgamento.

Apesar de se passar um bom tempo dentro do julgamento, “Anatomia de uma Queda” explora de forma brilhante todos os elementos acerca do ocorrido. A primeira questão para Sandra é ter que depor em francês, que não é sua língua nativa.

No entanto, o maior problema é que a protagonista é julgada da pior forma possível, onde sua vida pessoal é totalmente exposta e os acusadores têm mais convicções do que provas concretas. Além do fato dos julgamentos morais por ser mulher, ainda tem que lutar contra o patriarcado. Impossível não sentir um pouco de raiva pela forma como ela é tratada. Para completar a relação de Sandra com o filho Daniel é abalada, sendo que o jovem é uma das principais testemunhas do caso. O detalhe é que o garoto é deficiente visual.

As atuações são excelentes e o principal destaque é Sandra Hüller. A força da personagem impressiona, pois a situação que ela passa no julgamento é muito sofrida. A atriz constrói a personagem de maneira verossímil e multidimensional, criando uma empatia onde ela ser culpada ou não é apenas um mero detalhe dentro da narrativa. Milo Machado-Graner como Daniel também está muito bem e o jovem demonstra uma maturidade enorme dentro do seu papel.

Justine Triet filma muito bem, com um realismo impressionante em que muitas vezes parecemos estar diante de um documentário (usando em alguns momentos câmera na mão), tamanha a verossimilhança da narrativa. Um detalhe importante é como ela usa o julgamento para apresentar pontos de vista que desenvolvem os personagens, sem ter que utilizar flashbacks. Contudo, ela quebra isso em dois momentos cruciais para a história.

Dessa forma, “Anatomia de uma Queda” se transforma em um filme extremamente impactante, graças a suas grandes atuações e especialmente como a história é contada, que “assusta” pelo realismo. Sem dúvidas um longa-metragem que faz refletir sobre diversas questões atuais.


Uma frase: – Sandra: “Sabe que sou inocente, né?”

Uma cena: Quando Daniel encontra o pai caído do lado de fora da casa.

Uma curiosidade: Por seu papel como Snoop, o border collie Messi foi premiado com o Palm Dog no Festival de Cinema de Cannes de 2023.


Anatomia de uma Queda (Anatomie d’une chute)

Direção: Justine Triet
Roteiro: Justine Triet e Arthur Harari
Elenco: Sandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado-Graner, Antoine Reinartz, Samuel Theis, Jehnny Beth, Saadia Bentaieb, Camille Rutherford, Anne Rotger e Sophie Fillières
Gênero: Policial, Drama, Suspense
Ano: 2023
Duração: 152 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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