Crítica | O Silêncio da Vingança
É bom ver John Woo novamente dirigindo um filme americano, afinal de contas o cineasta é um dos mais importantes no gênero ação. Em “O Silêncio da Vingança” ele tem a oportunidade de mostrar que ainda está em forma, apresentando um longa-metragem interessante e digno da sua filmografia. É possível verificar alguns elementos autorais importantes incluídos na história de vingança protagonizada por Joel Kinnaman.
Um ponto importante que faz com que “O Silêncio da Vingança” se diferencie do que John Woo fez em sua carreira e nos filmes de ação atuais: ele não tem diálogos. Esse elemento é um dos diferenciais desta obra de 2023 e deixa o longa-metragem de Woo ainda mais visceral. Para que essa falta de diálogos funcione, alguns pontos são importantes.
O primeiro deles é roteiro de Robert Archer Lynn que é interessante ao apresentar um estudo de personagem, onde o lado psicológico e a forma como o protagonista lida com o luto são fundamentais. Na trama, Brian Godlock (Joel Kinnaman) é um homem comum que vê seu filho ser morto durante um tiroteio entre gangues de traficantes de drogas. Ele tenta reagir, mas também é atingido por uma bala na garganta, sobrevivendo milagrosamente. Isso faz com que ele perca sua voz. A dor da perda da criança impacta no seu casamento com Saya (Catalina Sandino Moreno) e a forma que ele encontra para lidar com a tristeza é planejar uma vingança. Dessa forma Lynn utiliza clichês básicos de histórias do gênero de forma eficiente.
A atuação de Joel Kinnaman é muito boa e o ator explora bem o lado físico do personagem. Sua expressão corporal é fundamental para que o espectador entenda a sua dor, já que o protagonista não é capaz de expressar seus sentimentos com palavras. É interessante observar a mudança dos estados da dor, que começa com a falta de vontade de prosseguir com a vida, usando a bebida e o isolamento como forma de lidar com o luto. Em seguida o desejo de vingança se transforma em sua maior motivação, assim ele começa um treinamento físico intenso envolvendo também lutas, tiros e direção de carro. Kinnaman expõe esses sentimentos de maneira eficaz em uma atuação intensa.
Outro ponto fundamental é a trilha sonora composta por Marco Beltrami. Os temas desenvolvidos por ele ajudam a ditar o tom de “O Silêncio da Vingança”. O filme começa com canções mais emotivas, mostrando a dor do protagonista perdendo o seu filho, e em seguida investe melodias mais urgentes, evocando a necessidade do protagonista em buscar a vingança. Um detalhe importante é que parte da história se passa no período de Natal, que inclusive é referenciado no título original em inglês “Silent Night” (noite silenciosa, mas no Brasil conhecemos como “Noite Feliz”), fazendo referência à clássica canção natalina. Dessa forma, Beltrami aproveita para incluir na trilha alusões ao período de festas, cujo sentimento de felicidade contrasta com a tristeza de Brian, utilizando versões melancólicas dos temas natalinos.
Por último, é importante ressaltar a direção de cenas de ação realizadas por John Woo. Sua filmografia apresenta esses momentos como se fossem um balé, algo similar à franquia John Wick. Contudo, Woo opta por um tom mais visceral e menos exagerado, em busca de um maior realismo. Isso funciona bem e apesar de “O Silêncio da Vingança” não apresentar nenhuma grande inovação ao gênero ação. O longa-metragem apresenta cenas eficientes e divertidas, que são recheadas de câmera lenta, marca registrada do cineasta. Dessa forma a nova obra do diretor chinês se torna uma das mais divertidas de 2023, provando que ele ainda está inspirado e é um dos melhores filmes de ação de 2023.
Uma frase: (o filme não tem diálogos)
Uma cena: Quando Brian volta do hospital e tenta gritar sem sucesso na frente do espelho.
Uma curiosidade: O Silêncio da Vingança (2023) marca o retorno de John Woo como diretor americano, tornando-se o primeiro filme americano que ele dirige desde O Pagamento (2003).
O Silêncio da Vingança (Silent Night)
Direção: John Woo
Roteiro: Robert Archer Lynn
Elenco: Joel Kinnaman, Scott Mescudi, Harold Torres e Catalina Sandino Moreno
Gênero: Ação, Suspense
Ano: 2023
Duração: 104 minutos
Excelente crítica, de alguém que realmente prestou atenção aos detalhes do enredo, que entende de técnicas de cinema. Vi outras críticas vazias sobre o filme, de pessoas que se acham especialistas mas que não captaram a essência da história. Parabéns.
Valeu 🙂