Crítica | O Assassino (The Killer)
Em “O Assassino” o diretor David Fincher faz um estudo de personagem interessante sobre um assassino profissional e sua metodologia de trabalho. Quem interpreta o protagonista é Michael Fassbender e ele fala pouco em cena, assim sua atuação é muito corporal. Para compensar ele também é o narrador e explica bem ao espectador como funciona o dia a dia do seu ofício. O conflito do longa-metragem surge quando O Assassino (não é dito o nome do personagem) falha durante um trabalho e lida com as consequências disso.
Em seu novo trabalho Fincher retorna a uma história com um estilo mais similar ao visto em sua filmografia, após um desafio em “Mank”. É possível identificar algumas similaridades com “Clube da Luta”, por exemplo, que também tinha um protagonista sem nome e que narrava a história com muitos comentários ácidos sobre a sociedade. A diferença é que o personagem-título de “O Assassino” é extremamente metódico. O problema é que uma simples falha coloca em prova todo o seu método de trabalho e a sua própria vida.
O roteiro de Andrew Kevin Walker explora bem os clichês em torno de filmes sobre assassinos profissionais e aposta no carisma do protagonista como diferencial. A atuação de Fassbender é sem dúvidas um dos destaques do filme, que conta também com um elenco muito bom. Os outros personagens ditam o tom da conversa, já que O Assassino não é muito de usar as palavras. O destaque dos atores fica para a participação de Tilda Swinton, que rouba a cena quando está na tela. Ela é apenas uma das pessoas que cruza o caminho do protagonista durante a sua jornada.
Inclusive é interessante notar os figurinos, pois o protagonista sempre usa roupas de tons discretos para não chamar a atenção das pessoas. No entanto, as pessoas que ele está indo atrás também usam cores neutras, como cinza, mostrando que o protagonista não demonstra simpatia por ninguém. Afinal de contas, como ele mesmo diz, isso é importante para cumprir bem o seu trabalho. A única exceção é Magdala, interpretada pela brasileira Sophie Charlotte, que apesar de estar com uma roupa de hospital branca, a vestimenta contém bolinhas azuis e vemos uma cortina verde no fundo, mostrando que por ela o personagem tem empatia.
O primeiro ato define bem o tom da narrativa e apresenta muito bem o protagonista. Notamos também uma trilha sonora minimalista e atmosférica da dupla Trent Reznor e Atticus Ross, colaboração recorrente do diretor desde “A Rede Social”. O uso de sintetizadores misturado com sons diegéticos ajuda na construção do clima de tensão da jornada de “O Assassino”.
No entanto, na parte musical o que se destaca mais é o uso de canções da banda The Smiths, que o protagonista é fã. As músicas servem para acalmá-lo e fazer com que mantenha o foco. A mixagem de som faz um trabalho interessante quando ele está ouvindo alguma música ao colocá-la em volume normal quando vemos o ponto de vista dele, e quando a câmera muda para outra posição o som fica mais baixo e abafado. Esse detalhe ajuda na imersão dentro do universo do protagonista.
Assim, apesar de “O Assassino” não apresentar grandes novidades em relação à narrativa sobre um matador profissional, o diretor David Fincher é talentoso o suficiente para incluir no longa-metragem suas marcas autorais e detalhes que tornam a jornada interessante e divertida. Sem dúvidas o talento e o carisma de Michael Fassbender contribuem bastante para que o filme saia do lugar-comum.
Uma frase: – O Assassino: “Lute apenas a batalha pela qual é pago para lutar.”
Uma cena: O encontro entre O Assassino e A Especialista.
Uma curiosidade: Esse é o segundo filme de um contrato de 4 anos de exclusividade entre David Fincher e a Netflix, sendo que o primeiro foi “Mank”.
O Assassino (The Killer)
Direção: David Fincher
Roteiro: Andrew Kevin Walker
Elenco: Michael Fassbender, Arliss Howard, Charles Parnell, Kerry O’Malley, Sala Baker, Sophie Charlotte e Tilda Swinton
Gênero: Ação, Aventura, Policial
Ano: 2023
Duração: 118 minutos