Crítica | Nosso Sonho

Crítica | Nosso Sonho

Nosso Sonho” felizmente foge dos principais clichês de cinebiografias musicais pela jornada diferente dos protagonistas. Claudinho e Buchecha não tiveram problemas com drogas e álcool, assim a maioria das dificuldades que eles enfrentaram foram impostas pela própria vida. A principal delas é a desigualdade social por serem de famílias humildes que moram em favelas do Rio de Janeiro.

Assim, o filme de Eduardo Albergaria foca na amizade entre os dois do ponto de vista de Buchecha (Juan Paiva), que fala da importância da relação com Claudinho (Lucas Penteado) e de como o amigo salvou a sua vida em diversos momentos. Primeiro vemos um pouco da infância deles, mas é na juventude e início da vida adulta que a trama investe mais. A principal salvação é através da música, graças a insistência de Claudinho para que ele e Buchecha formassem uma dupla de MCs.

Contudo, o filme também investe nos problemas de Buchecha com o pai (interpretado por Antônio Pitanga). É ele quem introduz a música na vida do filho, mas problemas com a bebida atrapalham no relacionamento. Esse é o elemento que permeia toda a projeção de “Nosso Sonho” e serve para trazer conflitos para o protagonista após o sucesso musical.

As atuações também merecem destaque e a dupla Lucas Penteado e Juan Paiva dá vida a Claudinho e Buchecha de maneira impressionante. As partes musicais, onde os atores cantam de verdade, são as melhores partes. A química entre os dois é muito boa, assim eles demonstram bem o carinho que existia na relação entre os personagens. Quem rouba a cena é Penteado, que recria a forma de falar com “língua presa” de Claudinho sem parecer caricato. Além disso, ele tem um carisma incrível.

A história flui muito bem graças ao ritmo da montagem de Felipe Bibian, focando nos principais acontecimentos da carreira da dupla Claudinho e Buchecha. O roteiro também se destaca ao retratar o lado pessoal dos artistas. É interessante como ao focar no ponto de vista de Buchecha, o filme apresenta Claudinho em alguns momentos quase como uma figura “mística”, como se fosse talvez um anjo. Aliás, a religiosidade é também um tema focado na trama, quando vemos os dois fazendo preces antes de subir no palco.

Em síntese, “Nosso Sonho” acerta ao mostrar o lado pessoal da dupla de artistas famosa da história recente da música brasileira. Lucas Penteado e Juan Paiva esbanjam carisma em uma trama cativante e emocionante. O diretor Eduardo Albergaria resgata e ressalta a importância deles para a cultura do Brasil como representantes da classe pobre e trabalhadora, e de como o funk é um grande gênero musical que até hoje é menosprezado. Além disso, é uma bela homenagem a Claudinho, que faleceu ainda muito jovem. 


Uma frase: “Quem tem talento não tem patrão.”

Uma cena: A primeira apresentação de Claudinho e Buchecha.

Uma curiosidade: A produção musical do longa é do cantor Buchecha e da agência Atabaque, que também desenvolve a trilha sonora com a produtora Urca Filmes, incluindo uma série de lançamentos com diferentes gerações de funkeiros.


Nosso Sonho

Direção: Eduardo Albergaria
Roteiro: Fernando Velasco (argumento); Fernando Velasco, Mauricio Lissovsky, Daniel Dias e Eduardo Albergaria (roteiro)
Elenco: Lucas Penteado, Juan Paiva, Tatiana Tiburcio, Nando Cunha, Lellê, Clara Moneke, Antônio Pitanga e Isabela Garcia
Gênero: Biografia, Drama, Comédia
Ano: 2023
Duração: 117 minutos 

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *