Crítica | Blue Jean

Crítica | Blue Jean

Jean, a protagonista de “Blue Jean”, é uma professora de educação física que trabalha em uma escola no Reino Unido. Ela é obrigada a viver uma vida dupla, onde esconde dos colegas e dos alunos informações sobre sua vida pessoal, especialmente o fato de ser lésbica. Infelizmente ela faz isso por causa da situação do país, pois a trama se passa nos anos 1980, época da primeira-ministra Margaret Thatcher, que junto com outros políticos da extrema direita fazia ataques a minorias em nome de um conservadorismo estúpido.

A diretora Georgia Oakley faz um ótimo estudo de personagem onde explora muito bem a situação de forma sutil, apresentando a protagonista sem pressa e com poucas palavras, onde mesmo o que não é dito fala muito sobre ela. Se hoje as pessoas LGBTQIAPN+ ainda lutam por seus direitos e respeito, nos anos 1980 era ainda mais complicado. E a pressão da sociedade, seja de forma direta ou indireta, é sentida por Jean. Quando ela chega em casa e liga a tv o que é mostrado são jornais onde temos políticos falando contra os gays ou então um programa de tv de namoro onde o participante masculino pergunta às mulheres sobre o que as torna mais femininas.

Até mesmo em seus relacionamentos amorosos, essa vida dupla influencia Jean. Sua parceira Viv (Kerrie Hayes) é assumidamente lésbica, mas ela não parece entender o quanto esconder a sexualidade é algo complicado para Jean. Outra questão que surge em “Blue Jean” é a chegada de uma nova aluna na turma da protagonista. Elas se encontram fora da escola em um bar gay que Jean frequenta e a professora fica transtornada sem saber como lidar com a situação. Isso a deixa ainda mais pressionada em relação a sua vida pessoal na escola, pois caso descubram que ela é lésbica pode ser que seja demitida.

A atuação de Rosy McEwen é muito boa, onde a atriz também usa poucas palavras, assim a expressão corporal, principalmente a facial, é fundamental para entender as angústias da personagem. A diretora e roteirista Georgia Oakley desenvolve muito bem o drama da protagonista e a narrativa é enriquecida pelos elementos técnicos. Um bom exemplo é a trilha sonora de Chris Roe, que capta muito bem a melancolia e inquietude de Jean.

Em síntese, “Blue Jean” é um ótimo filme ao pegar um momento histórico complicado do Reino Unido dos anos 1980 para mostrar que apesar dos avanços, a luta das pessoas LGBTQIAPN+ ainda hoje é importante. Afinal de contas, o novo avanço do conservadorismo e da extrema direita tem ecos do passado, justamente por causa de políticos como Margaret Thatcher, que usam a pauta do ódio contra minorias para se promover.


Uma frase: – Jean: “Eu sou lésbica.”

Uma cena: Quando Jean consegue dizer em voz alta que é lésbica.

Uma curiosidade: O filme foi reconhecido em diversos circuitos internacionais, como o Festival de Cinema de Veneza, na categoria de voto popular, no British Independent Film Award, com cinco indicações, levando o prêmio de Melhor Atriz, e ainda conseguiu uma indicação ao BAFTA deste ano em Melhor Estreia de Roteirista, Diretor ou Produtor Britânico para Georgia.


Blue Jean

Direção: Georgia Oakley
Roteiro: Georgia Oakley
Elenco: Rosy McEwen, Kerrie Hayes, Lydia Page e Lucy Halliday
Gênero: Drama, História
Ano: 2022
Duração: 97 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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