Crítica | O Pacto (Guy Ritchie’s The Covenant)
Guy Ritchie fez um enorme sucesso no início da carreira com os ótimos Snatch: Porcos e Diamantes e Jogos, Trapaços e Dois Canos Fumegantes, mas acabou se transformando em um cineasta irregular. Chega até a ser surpreendente a qualidade deste O Pacto, que pode se juntar aos dois filmes anteriormente citados como os pontos altos de sua filmografia, apesar da abordagem bem diferente.
A trama se passa na guerra do Afeganistão. Acompanhamos a importante e perigosa função do intérprete. Muitos afegãos contrários ao talibã e de preferência com habilidades militares foram contratados pelo exército americano para ajudar na rotina da guerra. Os riscos que esses intérpretes corriam eram inimagináveis. Tanto eles como suas famílias não tinham qualquer sossego, pois se fossem descobertos seriam alvos de atrocidades por serem considerados traidores. Mas eles precisavam do dinheiro e ansiavam pela promessa de receber passaportes e vistos quando o serviço acabasse.
No pelotão do sargento John Kinley o novo intérprete Ahmed rapidamente mostra suas habilidades, inclusive extrapolando sua função primordial. Só que o território é extremamente hostil e qualquer tipo de descuido pode transformar uma missão protocolar em um verdadeiro pesadelo.
Conseguimos sentir toda a tensão que o pelotão enfrenta ao investigar lugares suspeitos de produzirem bombas. O suspense cresce a medida que o cerco se fecha, culmimando em uma inevitável batalha. O que era para ser mais uma missão comum se transforma em uma épica luta pela sobrevivência cujo fim não é tão previsível assim.
Ainda que O Pacto não faça muita questão de fugir dos clichês do gênero, a primeira metade do filme é executada de maneira brilhante tanto nas sequências de confronto como naquelas mais intimistas.
Guy Ritchie não conta essa história com pressa. Há um ritmo mais contemplativo que nos deixa imersos e com a sensação de que tudo pode dar errado a cada instante. O diretor foge do estilo pelo qual ficou reconhecido e entrega uma obra mais séria, comedida e até certo ponto realista.
Apesar de não ser o seu foco principal, o filme faz algumas críticas ao exército norte-americano e seu governo, jamais ao soldado que está no meio do caos. No final das contas, O Pacto é um thriller bélico acima da média que conta com atuações sólidas, suspense, drama e intensas batalhas na dose certa. Ótima adição para o catálogo da Amazon Prime.
Uma frase: Está vendo o caraca de barba? Eu escolheria ele. Ele fala quatro línguas que são revelantes. Mas ele pode ser meio complicado. Ele não vai aceitar ser pressionado. Alguns não gostam dele.
Uma cena: A investida do pelotão americano que deu errado.
Uma curiosidade: Devido ao trágico acidente durante as gravações do filme Rust, Guy Ritchie não permitiu que nenhuma arma de verdade no set. Todas as armas aqui são de air soft ou de brinquedo.
O Pacto (Guy Ritchie’s The Covenant)
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: Guy Ritchie, Ivan Atkinson, Marn Davies
Elenco: Jake Gyllenhall, Dar Salim, Sean Sagar, Emily Beecham, Alexander Ludwig, Antony Starr
Gênero: Ação, Suspense, Guerra
Ano: 2023
Duração: 123 minutos
