Crítica | Oppenheimer

Crítica | Oppenheimer

Escrito e dirigido por Christopher Nolan, “Oppenheimer” apresenta uma abordagem ambiciosa e visualmente impressionante da vida do enigmático J. Robert Oppenheimer. O filme se destaca por seus efeitos especiais, atuações excepcionais, maquiagem impecável e uma produção com bastante cuidado nos detalhes, mostrando que o talento de Nolan está em plena forma. No entanto, por trás dessas qualidades notáveis, “Oppenheimer” possui alguns desafios narrativos que podem deixar os espectadores menos empolgados com a carreira do cineasta, cansados em suas longas três horas de exibição.

Intencionalmente ou não, existem algumas passagens iniciais onde mergulhamos nos devaneios da mente de Robert (Cillian Murphy), ou o homem que criou a bomba atômica, que remetem a jornada do Big Bang de Terrence Mallick em A Árvore da Vida. Nolan gosta também de brincar com o tema atômico quando exibe em tela partículas, seja de minúsculos flocos de neve no tempo frio ou de fagulhas. E é nesse jogo visual que também vemos a trama ser picotada em centenas de partes. Algumas em preto e branco – uma novidade para os cinemas IMAX – que retratam os eventos que seriam verdadeiros historicamente, e outras coloridas que seria o mergulho narrativo ao qual o cineasta inglês pretende carregar o espectador ao longo da jornada do protagonista.

Temos aqui um elenco de estrelas, liderado por Cillian Murphy como J. Robert Oppenheimer e Emily Blunt como sua esposa, Katherine “Kitty” Oppenheimer. As atuações são excepcionais e cativantes, dando vida aos personagens de maneira envolvente. Além disso, os efeitos práticos e todo trabalho cenográfico utilizados no filme são deslumbrantes, transportando-nos para diferentes períodos históricos com incrível realismo.

Outro ponto interessante de se notar está na maquiagem, que é simplesmente impecável. Especialmente nas cenas em que os personagens são apresentados em suas versões mais velhas. É surpreendente ver o cuidado dado aos detalhes, proporcionando uma representação autêntica do envelhecimento dos protagonistas ao longo dos anos. 

Todos esses pontos são praticamente inegáveis, “cientificamente” (tecnicamente) falando, é uma produção deslumbrante. No entanto, o filme padece de um problema comum em obras de Nolan: A extensa duração e a abordagem excessivamente complexa da narrativa. “Oppenheimer” é recheado de longos debates e diálogos expositivos, que acabam tornando a experiência exaustiva.

Existe um thriller bem interessante na metade final do filme com cerca de 40 minutos intensos e interessantes. O problema fica no restante do longa (literalmente), onde em mais de duas horas a narrativa se arrasta em alguns momentos, por mais que estruturalmente, tudo se amarre e faça sentido ao final.

Outro aspecto que pode desapontar é a abordagem ambígua de Nolan em relação aos personagens. Ao tentar mostrar que ninguém é totalmente bom ou mau, exceto os políticos, o diretor parece se colocar como uma figura predestinada, como se ele mesmo fosse a bomba de hidrogênio da história. Às vezes parece ser muito esforço para salvar uma visão empreendedora americana, de como pequenos notáveis, de conduta moral no mínimo duvidosa e interesses egoístas fantasiados de “procura pelo progresso”, merecem algum tipo de redenção.

Em determinada parte, uma pergunta crucial é feita enquanto se desenrola uma longa “inquisição” que rola como pano de fundo da história principal: “Quem será a pessoa que vai então contar a verdadeira história para o mundo?”. Eu amaria dizer que essa pessoa seria ninguém menos que Albert Einstein, mas infelizmente Nolan é egocêntrico demais para isso, afinal ele está ali como o predestinado. O colisor de núcleos, o nosso Prometeus que precisava salvar o seu heroi falho.

Para completar, o filme conta com um duplo clímax. Um muito bem construído, trazendo uma bela surpresa tardia e cuidado nos detalhes; e o outro que soa como uma pegadinha do malandro. Acabou o filme? Não, vamos mergulhar mais uma hora aqui, sua bexiga aguenta, pode confiar (Spoiler: não confie, vá ao banheiro antes e durante a sessão mesmo se estiver no cinema). Essa reviravolta pode ser frustrante para os espectadores que esperavam uma conclusão mais épica, digamos assim.

Por fim, embora “Oppenheimer” possua qualidades notáveis, como a execução técnica primorosa e um elenco talentoso, a narrativa extensa, juntamente com a abordagem ambígua dos valores morais em relação a construção da bomba atômica, prejudica um pouco o resultado final. Já para os admiradores do estilo característico de Nolan e sua teimosia e chatice técnica – como a exigência de ser visto nas melhores salas de cinema possíveis –, o resultado pode ser um pouco mais satisfatório.


Uma frase: – Oppenheimer: “Não sei se somos confiáveis com uma arma dessa, mas não temos escolha.”

Uma cena: A explosão de Trinity

Uma curiosidade: Para que as partes em preto e branco do filme fossem filmadas com a mesma qualidade do restante do filme, a Kodak desenvolveu o primeiro estoque de filme em preto e branco para Imax.


Oppenheimer

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Cillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Josh Hartnett, Casey Affleck, Rami Malek e Kenneth Branagh
Gênero: Biografia, Drama, História
Ano: 2023
Duração: 180 minutos

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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