Crítica | The Flash (2023)
The Flash é uma comédia sobre um super-herói que viaja no tempo e não tem problemas em abraçar essa ideia. Ainda que os elementos que compõem esse ponto de partida não sejam necessariamente uma novidade, é uma boa notícia que o filme seja competente em divertir ao explorar diferentes ângulos do seu personagem título.
O humor se destaca numa produção que também inclui a ação indispensável ao gênero e um toque de drama que até surpreende. A sua fraqueza recai na, aparentemente obrigatória e aqui indevidamente acelerada, inclusão de outros elementos do universo cinematográfico da DC.
Anunciado há quase dez anos, o filme sobre um dos heróis mais famosos da DC Comics foi cercado de expectativas, fortes campanhas de marketing e, negativamente, pelo comportamento público de Ezra Miller, intérprete do Flash. No entanto, é necessário dizer que a força do longa metragem reside, em grande medida, na sua excelente interpretação. Miller encarna com habilidade os diferentes Barry Allens, com tom de voz e gestuais únicos e coerentes, facilitando a tarefa do público em se conectar com eles.
Na história, vemos que Barry Allen, já apresentado em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) e nas duas versões de Liga da Justiça (2017 e a Snyder Cut de 2021), não encontra felicidade em sua vida solitária, prestes a ver o pai (Ron Livingston) definitiva e injustamente condenado pelo assassinato da esposa (Maribel Verdú). Mesmo com alguns alertas, Flash decide voltar ao passado e impedir a morte da mãe, o que ele espera que resolva todos esses problemas.
The Flash aborda temas clássicos da viagem no tempo: quem você se torna se as coisas que marcaram a sua vida mudam e também qual o impacto dessas alterações em todo o resto. O filme trilha um bom caminho e é competente ao tratar do primeiro assunto, abarcando no processo quase uma história de origem. Contudo, o mesmo não pode ser dito sobre a segunda questão, sobrecarregada pela já mencionada escolha de encaixe no SnyderVerse.
O longa dirigido por Andy Muschietti (It – A Coisa) é inteligente ao explicar o conceito de, digamos, multiverso temporal, no qual uma mudança altera não apenas eventos futuros, mas também os anteriores ao ponto modificado, criando um emaranhado de linhas do tempo (ou de universos) que é explicado com o auxílio de um prato de espaguete. E, sim, isso faz sentido!
Também é impossível não mencionar o poder da nostalgia, que é adicionada à história de maneira fluida, incluindo mais uma excelente atuação de Michael Keaton (quem não gosta de suas performances tá errado e ponto final). Ele não só reencarna e nos remete ao Batman dos filmes de Tim Burton, como nos apresenta a uma continuidade lógica do personagem, acompanhado da trilha sonora característica. Com a conhecida e agora mais domesticada amargura do órfão combatente do crime, o homem-morcego de Keaton já possui sabedoria e experiências acumuladas, mas também uma vida de perdas que o aproxima do Flash, proporcionando a ligação entre eles.
Ainda no aspecto da nostalgia, as referências e piadas sobre filmes populares, que não deixam de fora o já clássico De Volta para o Futuro, também se encaixam muito bem e incrementam a leveza necessária a uma comédia. O humor vai bem quando consegue fazer comentários perspicazes sobre coisas corriqueiras da vida, umas mais e outras menos importantes, o que não é um atestado de que todas as piadas do filme funcionem, mas isso não chega a prejudicar.
Já a participação e as motivações da Supergirl (Sasha Calle) são criadas de forma apressada, assim como a interseção com outros personagens do Universo da DC, o que traz cenas grandiosas de ação, mas que nos desviam um pouco da história principal. Outro elemento que deixa a desejar em diversos momentos são os efeitos especiais, seja pelos bonecos digitais durante as lutas, seja pelo ambiente da Força da Aceleração, cujo design não parece ter sido uma opção de estilo, mas falta de capacidade para maior apuro visual.
A tentativa de contar muitas histórias num só filme para mantê-lo conectado a outros do passado e futuros tem prejudicado quase todas as produções recentes de heróis e heroínas, assim como não entender o que há de mais relevante e instigante em seus personagens, como visto em Adão Negro e em Shazam! Fúria dos Deuses. Dessa forma, não é uma surpresa que as amarras a um universo descartado para o futuro da DC no cinema tenham, em alguma medida, prejudicado o filme solo de The Flash. Mas foi bom perceber que houve aprendizado em relação ao olhar para Barry Allen.
The Flash entrega um filme de comédia divertido, que entende a força do seu protagonista tanto por sua personalidade divertida, quanto por suas dores pessoais. Compreende também a extensão dos seus poderes, apresentando novas habilidades, e propiciando, ao menos, uma notável cena de ação ainda no seu primeiro ato. Não dá para prever o que James Gunn trará ao DCU, contudo, há um encerramento de ciclo interessante de um personagem que poderia ter sido e ainda pode ser melhor aproveitado.
Ah, existe uma cena extra após todo o crédito do filme.
Uma frase: “Nem todo problema tem uma solução”
Uma cena: Barry Allen conversa com uma pessoa conhecida num supermercado
Uma curiosidade: Sasha Calle é a primeira atriz com ascendência latina a interpretar a Supergirl. Nascida em Boston (EUA), chegou a morar por dois anos, ainda criança, com a família na Colômbia. Na disputa pelo papel, concorreu com a atriz brasileira Bruna Marquezine, que acabou ganhando o papel de Jenny Kord em Besouro Azul, também filme da DC.
The Flash
Direção: Andy Muschietti
Roteiro: Christina Hodson; história de John Francis Daley, Jonathan Goldstein e Joby Harold
Elenco: Ezra Miller, Sasha Calle, Michael Shannon, Ron Livingston, Maribel Verdú, Kiersey Clemons, Antje Traue e Michael Keaton
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Ano: 2023
Duração: 140 minutos
Vi tempos depois longe dos cinemas e gostei de rever Michael Keaton, ele é um Batman divertido e foda e também Kara (apesar que quando falaram em está na Sibéria ter me animado com a ideia do Super Man Comunista), fora isso o filme não me prendeu muito.
Não gosto muito do humor de Ezra, ele era mais engraçado nos filmes tristes, densos e sombrios de Snyder porque tudo ao redor dele era em 50 tons de cinza