Crítica | O Urso do Pó Branco
A premissa de “O Urso do Pó Branco” é totalmente absurda e é justamente isso que torna o filme dirigido por Elizabeth Banks interessante. Para completar a trama é inspirada em um evento real onde um carregamento de cocaína caiu em uma floresta nacional nos EUA, sendo que um urso comeu um dos pacotes. A realidade para por aí, então com esse fiapo de história o roteirista Jimmy Warden imagina qual seria o efeito da droga no animal. Assim temo um urso totalmente insano que ataca as pessoas em um suspense misturado com comédia.
Podemos dizer que “O Urso do Pó Branco” é um slasher no qual o animal do título é o grande assassino incontrolável. Dessa forma, para a trama funcionar é necessário que o roteiro apresente personagens minimamente interessantes para que o espectador se importe com eles. Nesse sentido, o argumento escrito por Jimmy Warden é eficiente.
Só que isso só funciona graças à escolha do elenco com bons nomes e cheios de carisma. O principal destaque é a dupla infanto-juvenil formada por Brooklynn Prince (de Projeto Flórida) e Christian Convery (da série Sweet Tooth da Netflix), que rouba a cena quando está na tela. É bom também ver o último trabalho de Ray Liotta, que infelizmente faleceu pouco depois das filmagens em maio de 2022.
Outro elemento importante é o suspense, pois no gênero a tensão é fundamental. Assim a diretora Elizabeth Banks é hábil em construir esse sentimento, especialmente ao equilibrar bem o poder da sugestão, onde vemos o urso apenas de relance e suas ações feitas fora da tela, com elementos sanguinolentos. Afinal de contas, um pouco de violência gráfica é importante em um filme desse tipo em que o tom thrash e lado B é necessário para que a narrativa funcione.
Nesse sentido é importante ressaltar o bom trabalho do diretor de fotografia John Guleserian, com direito até a algumas cenas do ponto de vista subjetivo do urso, e a montagem de Joel Negron, bastante ágil em manter o ritmo da narrativa, pois juntos eles fazem a tensão funcionar.
A trilha sonora de Mark Mothersbaugh também contribui para gerar a tensão e o compositor é inteligente ao criar temas com influência dos anos 1980, período no qual a trama se passa, com uso de sintetizadores, misturando suspense e nostalgia. A escolha das músicas também é importante para a imersão na época da história e tem uma seleção interessante que foge do óbvio.
Outro ponto importante são os alívios cômicos, pois é impossível levar a sério um filme na qual a premissa envolve um urso atacando pessoas sob o efeito de cocaína. Banks sabe disso, então aproveita da sua experiência em comédias para incluir o tom humorístico em “O Urso do Pó Branco”, tanto em piadas em texto quanto humor físico, especialmente os que envolvem o próprio animal protagonista.
Dessa forma, “O Urso do Pó Branco” é um filme que não deve ser levado a sério. Seu absurdo é justamente o que o torna tão divertido. A diretora Elizabeth Banks equilibra bem tensão e humor, resultando em um longa-metragem muito competente no que se propõe.
Uma frase: – Eddie: “O urso mandou ver na coca.”
Uma cena: Dee Dee e Henry experimentando cocaína.
Uma curiosidade: Muito vagamente baseado em um urso real que morreu após ingerir cocaína que foi jogada de um avião. Nenhuma fúria do urso realmente aconteceu. Na verdade, nenhum ataque do urso foi registrado. Em vez disso, isso foi inspirado por um post do Reddit contando a história, no qual eles concluem que “provavelmente houve uma janela de cinco minutos antes de ele morrer, onde ele era o predador mais perigoso do continente”.
O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear)
Direção: Elizabeth Banks
Roteiro: Jimmy Warden
Elenco: Keri Russell, O’Shea Jackson Jr., Christian Convery, Alden Ehrenreich, Brooklynn Prince, Isiah Whitlock Jr., Margo Martindale e Ray Liotta
Gênero: Comédia, Suspense
Ano: 2023
Duração: 95 minutos