Crítica | The Quiet Girl (An Cailín Ciúin)

Crítica | The Quiet Girl (An Cailín Ciúin)

A protagonista de “The Quiet Girl” (An Cailín Ciúin) é como o próprio título internacional do filme diz: uma garota silenciosa. A jovem Cáit (Catherine Clinch) é negligenciada pelos pais por fazer parte de uma grande família. Na escola a tímida garota não tem amigos e até mesmo suas irmãs a chamam de “estranha”. Estamos no interior da Irlanda no início dos anos 1980 e a protagonista faz parte de uma família humilde. A mãe descobre que está grávida novamente, então pede para que seu marido leve a menina para passar um tempo na casa de uma prima distante chamada Eibhlín (Carrie Crowley).

É difícil julgar as intenções da família de Cáit, pois entram questões sociais sobre como muitas famílias mais humildes não têm acesso a informações sobre planejamento familiar. No entanto, esse tipo de atitude também era comum aqui no Brasil onde crianças eram criadas por parentes (como primos ou irmãos) porque a família não tinha condições de sustentar muita gente. Dessa forma fica fácil para nós nos identificarmos com essa história.

Apesar disso, esse sentimento de não fazer parte de família ou de que a família que importa é aquela que cria, e não a de sangue, com certeza é algo universal. Assim é difícil não se conectar com a história apresentada em “The Quiet Girl”, ainda que ela não seja muito original.

Quando Cáit chega na casa de Eibhlín é facilmente perceptível a diferença do ambiente. O descaso do seu pai (Michael Patric) é tanto, que ele vai embora e nem se lembra de tirar a mala da jovem de dentro do carro. Contudo, a adaptação da menina demora um pouco. Lentamente seu jeito tímido de ser é mudado a partir do contato com o novo lar e uma “mãe” que te dá atenção e carinho. No entanto, o marido dela chamado Seán (Andrew Bennett) é frio com a garota. Fica claro que algo aconteceu naquela casa que abalou o casal, mas a presença da garota pode servir para “curar” todos.

The Quiet Girl” é um filme minimalista em muitos aspectos, a começar pela trilha sonora de Stephen Rennicks que em muitos momentos é tão baixa que serve apenas para ambientar o filme. Obviamente que isso é um reflexo da própria protagonista, que é tímida e fala pouco. Assim, para funcionar a atuação da jovem Catherine Clinch é fundamental. Sua performance é muito boa e aos poucos ela constrói a evolução de Cáit e de como o contato com a nova família impacta no seu jeito de ser. Como ela não fala muito, sua expressão corporal é fundamental no desenvolvimento da personagem.

A sutileza da história também é notada através da ótima fotografia de Kate McCullough que capta bem as belezas naturais do interior da Irlanda e ao explorar os detalhes da nova residência de Cáit. Dessa forma temos belos planos, como na cena em que a protagonista e Eibhlín visitam um poço e vemos o reflexo delas na água. Ou como em outro momento em que a mulher penteia os cabelos da menina, que observa uma janela que tem um pequeno espelho que mostra o seu rosto. É através desses detalhes que o diretor Colm Bairéad capta a essência dos personagens e mostra o potencial da narrativa.

O minimalismo também é notado no período em que a história se passa. A trama se passa no início dos anos 1980, mas o diretor só mostra isso em poucos detalhes, como um programa de televisão passando ou através dos carros. O tempo realmente não faz diferença, é apenas um algo a mais que pouco interfere na narrativa.

Em síntese, é difícil não se emocionar com a história de Cáit ao descobrir o que é ter uma família de verdade. O diretor Colm Bairéad conduz muito bem a história e explora de maneira eficaz os detalhes e o minimalismo da narrativa. E tudo isso só funciona graças ao incrível talento da jovem Catherine Clinch, que rouba a cena quando está na tela.


Uma frase: – Eibhlín: “Se você fosse minha, eu nunca te deixaria em uma casa com estranhos.”

Uma cena: Quando Cáit corre pela primeira vez para pegar cartas na caixa de correio.

Uma curiosidade: Primeiro filme falado em irlandês que é indicado ao Oscar de filme estrangeiro.


The Quiet Girl (An Cailín Ciúin)

Direção: Colm Bairéad
Roteiro: Colm Bairéad
Elenco: Carrie Crowley, Andrew Bennett, Catherine Clinch, Michael Patric e Kate Nic Chonaonaigh
Gênero: Drama
Ano: 2022
Duração: 94 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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