Crítica | Eo (2022)

Crítica | Eo (2022)

O filme “Eo” de Jerzy Skolimowski narra a jornada do burro que dá título ao longa-metragem. É um road movie que explora de maneira curiosa e interessante o mundo através da visão de um animal. O cineasta se inspirou em “A Grande Testemunha” (1966), de Robert Bresson.

Eo é um burro que trabalha em um circo e faz parte do show de uma mulher chamada Kasandra (Sandra Drzymalska). Contudo, surge um protesto para a liberação dos animais e o protagonista inicia sua jornada. A ideia do diretor Jerzy Skolimowski inicialmente é fazer uma crítica aos maus-tratos feitos aos bichos, mas curiosamente os ativistas não se preocupam com o destino do pobre burrinho após ficar desempregado.

A partir desse ponto é que “Eo” se torna um road movie, onde acompanhamos a jornada do protagonista sem destino fixo após ser resgatado do circo. Assim o diretor mostra o real objetivo de seu filme que é apresentar uma visão da Europa contemporânea a partir do ponto de vista do burro. É interessante como em alguns momentos temos uma visão subjetiva justamente de Eo, então o cineasta nos faz refletir sobre o que estaria se passando na mente do animal.

Para que isso funcione, o diretor Jerzy Skolimowski utiliza muito bem a parte técnica. Um dos elementos de destaque é a trilha sonora de Paweł Mykietyn, que ajuda a guiar no tom da narrativa e para que os sentimentos do animal protagonista sejam transmitidos. 

Outro elemento importante é a fotografia de Michał Dymek, tanto no uso da já citada câmera subjetiva do ponto de vista do burro, como ao explorar a beleza dos ambientes pelo qual Eo transita. É curioso o uso da cor vermelha, que inicialmente é utilizada como luz do espetáculo conduzido por Kasandra e depois serve para simbolizar o pensamento de nostalgia do burrinho ao lembrar do seu passado. Além disso, o filme tem belos planos, como um no qual vemos o protagonista sendo transportado em um veículo enquanto observa do lado de fora cavalos livres correndo pelo mato, passando a ideia de que ele olha aquilo com inveja da liberdade dos outros animais.

No entanto, a jornada de Eo tem altos e baixos. Se alguns momentos são curiosos e divertidos como em uma cena na qual ele testemunha uma partida de futebol, outros parecem não fazer muito sentido dentro da narrativa, quando vemos o encontro entre dois personagens que nada acrescentam à história e parecem fazer parte de um outro filme. Esse trecho conta inclusive com a presença da atriz Isabelle Huppert.

Apesar de se perder um pouco no seu ato final, o desfecho de “Eo” é muito impactante e nos faz refletir sobre sua jornada onde encontra pelo caminho diversos tipos de pessoas. Em alguns momentos ele encontra empatia e carinho, mas em outros ele sofre violências e abusos. Assim o cineasta Jerzy Skolimowski nos faz pensar sobre nós mesmos, ainda que de uma forma um pouco ingênua.


Uma frase: – Kasandra: “Que todos os seus sonhos se tornem realidade.”

Uma cena: Quando Eo testemunha uma partida de futebol.

Uma curiosidade: O burro Eo foi interpretado por seis burros diferentes chamados Tako, Ola, Marietta, Ettore, Rocco e Mela. Tako era o burro principal e os outros eram seus duplos.


Eo

Direção: Jerzy Skolimowski
Roteiro: Jerzy Skolimowski e Ewa Piaskowska
Elenco: Sandra Drzymalska, Lorenzo Zurzolo, Mateusz Kościukiewicz e Isabelle Huppert
Gênero: Drama
Ano: 2022
Duração: 88 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *