Crítica | Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Crítica | Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Em “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” o diretor Rian Johnson repete a fórmula bem-sucedida de “Entre Facas e Segredos” e agora o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) tem um novo mistério para resolver. Obviamente temos algumas pequenas variações dentro do formato para que não fique repetitivo, mas a essência continua a mesma. Mais uma vez o cineasta reúne um excelente elenco e cria personagens interessantes com um pano de fundo atual e crítica político-social.

Dessa vez a história se passa em uma ilha particular do bilionário Miles Bron (Edward Norton), que convida um grupo de amigos para uma festa em que ocorrerá um jogo: descobrir quem o matou. O dono do evento não contava com a presença do detetive Benoit Blanc, que também comparece ao local. Obviamente um crime de verdade acontece e mais uma vez todos os presentes têm motivos para ter cometido o assassinato. Aí entra o diferencial que é a investigação de Blanc, que não basta ter a motivação e como realizar, é preciso também ter um contexto.

O roteiro, também escrito por Johnson, é muito criativo e inteligente ao desenvolver o contexto para o crime, e principalmente na construção dos personagens. Tudo gira em torno do bilionário Miles Bron e seu grupo de “amigos” que depende dele financeiramente de alguma forma. Então temos uma ex-parceira de negócios que o ajudou a criar sua empresa (Janelle Monáe), um YouTuber (Dave Bautista) junto com sua namorada (Madelyn Cline), um cientista (Leslie Odom Jr.), uma política (Kathryn Hahn), uma ex-modelo (Kate Hudson) junto com sua assistente (Jessica Henwick). A ideia é mostrar o quanto diversos setores da sociedade são influenciados por dinheiro e de como funciona essa relação de “amizade” e poder entre eles.

Fica claro que o principal objetivo de Rian Johnson é ridicularizar os bilionários e mostrar o quão absurdo é uma pessoa deter tanto dinheiro e poder. Assim podemos enxergar em Miles Bron diversas outras figuras públicas e suas bizarras excentricidades (sim, estou falando de você Elon Musk). A começar pelo próprio Glass Onion do título, que em português poderia ser traduzido como “cebola de vidro”. Miles construiu uma casa de vidro em formato de cebola pensando em diversos simbolismos, mas que na prática não tem nenhuma serventia. Ou seja, “excentricidade” de bilionário simplesmente porque ele tem dinheiro para isso. 

Dessa forma o cineasta mostra que aprendeu bem com Agatha Christie, que também ridicularizava a “alta sociedade” e suas “extravagâncias”. Em “Entre Facas e Segredos” ele já tinha feito essa crítica a sociedade americana, mas em “Glass Onion” ele vai além mostrando as bizarrices da influência dos bilionários na sociedade como um todo.

É fascinante acompanhar o desenrolar da narrativa prestando atenção nos detalhes em busca de informações para identificar quem é o(a) culpado(a). Rian Johnson faz isso com maestria, também brincando com o espectador ao omitir certas coisas que só farão sentido no avançar da trama. Para isso funcionar, a montagem de Bob Ducsay é fundamental para ditar o ritmo do filme no intuito de não ficar cansativo e principalmente para que todas as peças se encaixem no final.

Além disso, o elenco também é essencial e a química entre os atores é muito boa. Obviamente temos alguns que têm mais tempo em tela do que outros, mas cada um deles tem o seu momento de destaque. Mais uma vez Daniel Craig esbanja carisma, ainda mais à vontade dentro do personagem. Mas quem rouba a cena é Janelle Monáe.

Um detalhe interessante é que a história se passa em 2020, no início da pandemia de covid-10. Isso acrescenta mais camadas à narrativa e serve para desenvolver os personagens através de detalhes. A maneira como cada um deles usa a máscara diz muito sobre sua forma de pensar. Se tem uma coisa que aprendemos depois da pandemia é a quantidade de gente que simplesmente não acreditava que ela era letal e grave, mostrando o quão individualista e negacionista certas pessoas são.

A trilha sonora também serve para mostrar a importância de determinados personagens dentro da história. Na cena em que o grupo se reúne para pegar o barco, por exemplo, apenas um deles tem uma música tema, dando a dica para o espectador prestar a atenção nele e mostrando a inteligência do compositor Nathan Johnson. Além disso, a escolha de músicas também contribui para acrescentar camadas à narrativa. Um bom exemplo é no momento que o pessoal se reúne na casa de Miles para começar a festa e ouvimos de fundo “To Love Somebody” do Bee Gees. É uma balada romântica, mas que pode ser interpretada de forma irônica como a relação tóxica existente entre o bilionário e seus “amigos”.

Em síntese, “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” pode ser definido como uma simples história de detetive, mas o diretor Rian Johnson mostra mais uma vez todo o seu talento para construir uma narrativa cheia de camadas, assim como uma cebola, mas que não é de vidro, pois é desenvolvida de forma resistente e sem fragilidade.


Uma frase: – Miles Bron: “Convidei todos à minha ilha porque hoje à noite um assassinato será cometido. O meu assassinato.”

Uma cena: A chegada do grupo na casa de Miles Bron.

Uma curiosidade: O título Glass Onion se refere a uma música dos Beatles do Álbum Branco (The White Album). A música é enigmática, provocando vários mitos sobre a banda, pela banda (especificamente John Lennon, que a escreveu), cabendo assim como o título de um filme de mistério. Knives Out (Entre Facas e Segredos) também é título de uma música, só que de outra banda: Radiohead, do disco “Amnesiac”.


Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery)

Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Elenco: Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Jessica Henwick, Madelyn Cline, Kate Hudson e Dave Bautista
Gênero: Comédia, Policial, Drama
Ano: 2022
Duração: 139 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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