Crítica | Pinóquio por Guillermo del Toro

Crítica | Pinóquio por Guillermo del Toro

O livro Pinóquio foi escrito por Carlo Collodi e publicado pela primeira vez em 1883 e já foi adaptado para o cinema das mais diversas maneiras. Talvez a mais conhecida seja a animação da Disney feita em 1940. A versão de Guillermo del Toro sem dúvidas é uma das mais interessantes e o cineasta inclui temas relevantes e um novo contexto, que deixam a obra de Collodi mais intrigante. O uso da técnica de stop-motion, comandada por Mark Gustafson (que divide a direção com del Toro) também é um excelente diferencial.

O início de Pinóquio conta a história de Geppetto e seu filho Carlo é um bom exemplo da diferença da versão de Guillermo del Toro, pois através dela é possível entender melhor as motivações do personagem na construção do boneco de madeira que dá título ao filme. Assim a trama vai além e o personagem do pai se torna mais humano e multidimensional. Sua reação ao ver que sua obra ganhou vida é negativa, pois foi em um momento de bebedeira que ele a fez. A construção da relação entre pai e filho deles é muito melhor desenvolvida e mais verossímil.

Outra ideia interessante foi colocar a história durante a Primeira Guerra Mundial, adicionando um novo contexto à narrativa. Primeiro a trama faz um paralelo entre a manipulação do fascismo feito por Mussolini e o teatro de bonecos de corda comandado por Conde Volpe (Christoph Waltz). Pinóquio se transforma em uma figura de propaganda a favor da guerra, pelo fato dele não morrer. Isso também deixa ainda mais profunda a discussão da trama em relação ao que nos faz humanos e sobre o sentido da vida e da morte.

Fica claro que del Toro quer mostrar uma versão mais adulta de Pinóquio, mas nem por isso ele deixa os elementos clássicos de lado. Talvez em uma tentativa de não se distanciar tanto da versão clássica da Disney, ele inclui diversos números musicais na trama. As músicas Alexandre Desplat, que também assina a trilha sonora em mais uma bela parceria com o diretor mexicano, apresentam qualidade, mas não são tão marcantes quanto poderiam ser.

Agora sem dúvidas o grande diferencial da versão de Del Toro é o visual. O trabalho feito em stop-motion é muito bonito. O design de produção rico em detalhes acrescenta muito à narrativa, afinal de contas a parte visual sempre foi algo marcante na filmografia do diretor mexicano. O que mais chama a atenção é a aparência de Pinóquio, que parece mais verossímil para um boneco de madeira.

Em síntese, Pinóquio por Guillermo del Toro acrescenta novos elementos à história clássica, mas sem deixar a essência de lado. O visual é sem dúvidas o grande trunfo da obra cinematográfica.


Uma frase: – Pinóquio [olhando para um crucifixo]: “Ele é feito de madeira também. Por que eles gostam dele e não de mim?”

Uma cena: A abertura contando a história de Geppetto e o filho Carlo.

Uma curiosidade: Cate Blanchett disse a Guillermo Del Toro que queria um papel neste filme durante o trabalho em Beco do Pesadelo, mas o único personagem que ainda não havia sido escalado era Spazzatura, o macaco. Para a surpresa de Del Toro, Blanchett queria dublar o personagem de qualquer maneira, embora ele tivesse poucas falas reais e passassem a maior parte do filme fazendo sons. No documentário de making-of, Blanchett e Del Toro confirmam que ela disse a ele com entusiasmo “Farei qualquer coisa. Por você, eu interpretaria um lápis”.


Pinóquio por Guillermo del Toro (Guillermo del Toro’s Pinocchio)

Direção: Guillermo del Toro e Mark Gustafson
Roteiro: Guillermo del Toro e Patrick McHale, história de Guillermo del Toro e Matthew Robbins
Elenco: Ewan McGregor, David Bradley, Gregory Mann, Burn Gorman, Ron Perlman, John Turturro, Finn Wolfhard, Cate Blanchett, Tim Blake Nelson, Christoph Waltz e Tilda Swinton
Gênero: Animação, Drama, Família
Ano: 2022
Duração: 117 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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