Crítica | Adão Negro (Black Adam)

Crítica | Adão Negro (Black Adam)

O roteiro de “Adão Negro” tem uma grande dificuldade em definir o protagonista do filme, interpretado por Dwayne Johnson. O longa-metragem de Adão Negro primeiro define como uma pessoa com superpoderes, mas que não quer ser um herói. Depois ele cria um pouco de empatia com alguns personagens, só que não se importa de matar os “malvados” e causar um pouco de destruição. Em seguida, é definido como um homem que carrega o sentimento de culpa pela morte do filho, então resolve fazer o que é certo e assim se torna um herói.

Isso não seria um problema se o roteiro escrito por Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani desenvolvesse isso no personagem durante o filme. O problema é que eles usam uma “trapaça” para que isso funcione. No primeiro ato de “Adão Negro” somos apresentados ao passado e a origem do protagonista, mostrando como ele ganhou os poderes. Só que um detalhe sobre essa forma como ele ganha é omitido e revelado apenas mais para frente. Isso gera um problema na construção do comportamento de Teth-Adam, pois quando chega no último ato as coisas que ele fez no início não fazem sentido.

Para completar, talvez Dwayne Johnson não tenha sido uma boa opção para o papel. Ele é “simpático” demais, então sua seriedade e postura de “anti-herói” de que não se importa com as consequências não funciona. É difícil para o espectador levar a sério essa sua persona. Dessa forma, quando ele decide criar uma empatia e fazer o “certo”, a transição não parece natural.

Em alguns momentos “Adão Negro” tenta emular, de forma tosca, “Exterminador do Futuro 2” na construção da relação entre Teth-Adam e o jovem Amon Tomaz (Bodhi Sabongui). Amon tenta passar um pouco de “emoção” para o protagonista, afirmando que ele deve falar frases de efeito após derrotar algum inimigo. Esse recurso simplesmente não funciona como alívio cômico, trazendo apenas momentos constrangedores para o filme.

Contudo, a pior construção de relação de personagens é feita entre Teth-Adam e Carter Hall / Gavião Negro (Aldis Hodge). A masculinidade tóxica entre eles é ridícula, daquele jeito que tudo tem que ser resolvido na porrada. O conflito inicial é normal, já que Carter como líder da Sociedade da Justiça enxerga inicialmente Adam como uma ameaça. No entanto, mesmo após alguns diálogos, a briga recomeça. É muito cansativo e sem sentido, além de não acrescentar nada à trama, fora uma cena de luta ruim. E isso também prejudica o desenvolvido dos personagens, pois o Gavião Negro quer manter uma integridade de não querer que o Adão Negro mate os adversários, mas não vê problema na luta com ele que causa destruição e talvez até machucar alguém que esteja por perto (que o filme convenientemente não mostra).

Outro problema é que o diretor Jaume Collet-Serra adotou o tom “sério” dos filmes de Zack Snyder, com uma diferença de pelo menos incluir um pouco mais de cores na paleta do filme. Além disso, também trouxe de Snyder o uso excessivo de câmera lenta, na tentativa sem sentido de “estilizar” o longa-metragem, e pior, de transformá-lo em um “épico”. O resultado é apenas irritante.

A personagem mais interessante é Adrianna Tomaz, interpretada por Sarah Shahi. Ela é professora e faz parte da resistência da cidade de Kahndaq, que luta por liberdade. É ela quem liberta o Adão Negro e pede ajuda para salvar sua terra. Quando a Sociedade da Justiça chega para tentar deter Teth-Adam, é ela quem questiona Carter sobre como seu grupo nada fez para salvar o local do controle militar. Uma pena é que o roteiro pouco explora esse tema, apresentando os militares apenas como uma entidade que toma conta do local sem ninguém no controle.

Inclusive Sociedade da Justiça apresenta personagens interessantes e carismáticos, mas sem muito desenvolvimento. Fica aquela sensação de filme da Marvel que aproveita a estreia de um novo herói para introduzir outros por tabela, mas normalmente no MCU são explorados de forma mais satisfatória. Com certeza a Cyclone de Quintessa Swindell merecia mais tempo em tela, mas pelo menos o Senhor Destino de Pierce Brosnan faz o bastante para justificar sua presença na história. 

Em síntese, Adão Negro é prejudicado principalmente por seu roteiro irregular que não encontra o tom correto para utilizar com o protagonista. Alguns personagens carismáticos e poucas cenas de ação, prejudicadas pelo excesso de câmera lenta, não são suficientes para garantir um resultado satisfatório para o longa-metragem de Jaume Collet-Serra.


Uma frase: – Teth-Adam: “Nunca falei que eu era um herói.”

Uma cena: A luta entre Teth-Adam e a Sociedade da Justiça.

Uma curiosidade: Dwayne Johnson uma vez perguntou a seus fãs qual personagem ele deveria interpretar, o super-herói Shazam ou o supervilão Adão Negro. Seus fãs escolheram Adão Negro.


Adão Negro (Black Adam)

Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani
Elenco: Dwayne Johnson, Aldis Hodge, Noah Centineo, Sarah Shahi, Marwan Kenzari, Quintessa Swindell, Bodhi Sabongui e Pierce Brosnan
Gênero: Ação, Fantasia, Ficção científica
Ano: 2022
Duração: 124 minutos 

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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