Review | Super Pumped – A Batalha pela Uber
No capitalismo não existe uma grande empresa que não tenha sido construída dentro de preceitos éticos ou sem que o seu criador não tenha passado por cima de alguém. Contudo, nos tempos atuais em torno das empresas de tecnologias a situação é ainda pior. Se olharmos exemplos como Amazon, vemos que uma das estratégias é acabar com a concorrência, mesmo que para isso a companhia não tenha lucros inicialmente, para depois “surfar” nos lucros. Dessa forma, com a Uber isso não foi muito diferente. A série antológica “Super Pumped – A Batalha pela Uber” foca sua história em Travis Kalanick, o fundador da Uber.
A série criada por Brian Koppelman e David Levien é baseada no livro Super Pumped: The Battle for Uber (A Guerra Pela Uber em português) de Mike Isaac e é dividida em 7 episódios de 1 hora de duração em média. O grande trunfo do seriado é mostrar o lado humano de Travis Kalanick, como ao explorar sua relação com a família, amigos, namoradas e colegas de trabalho, em sua “luta” contra si mesmo por causa do ego e questões do passado.
É interessante ver o seu lado “revolucionário” na “guerra” contra o “sistema”, já que a Uber enfrentou questões legais referentes ao transporte de passageiros, mais especificamente os táxis, que são regulados normalmente pelo governo local. Por outro lado, Super Pumped não poupa Travis de críticas ao mostrar que ele não estava muito preocupado com ética, assim ele estava disposto a fazer qualquer coisa para que sua empresa desse certo.
Essa humanidade só funciona graças à combinação do ótimo roteiro e da excelente atuação de Joseph Gordon-Levitt. O ator mostra todo o seu carisma e constrói um personagem multidimensional, que se por um lado demonstra sensibilidade ao sempre se comunicar com a mãe, interpretada por Elisabeth Shue, em busca de aprovação, por outro não demonstra empatia com os motoristas da Uber.
Contudo, o grande conflito de Travis Kalanick é com Bill Gurley (Kyle Chandler), que foi o investidor inicial da Uber. A relação entre eles começa de forma amigável, mas se complica no desenrolar da narrativa. O motivo é simples: a forma como a empresa era gerida. Bill não quer dar ordens, mas sim servir de “guia” para Travis e que dessa forma Kalanick se transforme em um grande CEO. A questão é que o ego de TK, que era como os mais próximos o chamavam, é forte e não demora para surgir o conflito devido a “visões” diferentes na tomada de decisão em relação à Uber.
É curioso também a “distorção da realidade” de TK, quando ele conta como uma coisa aconteceu, mas na verdade foi bastante diferente. O melhor exemplo disso é quando Bill conversa com Travis a respeito da ideia sobre a Uber e TK conta que estava junto com Garrett Camp (Jon Bass) no alto da Torre Eiffel, quando na verdade, como vemos em seguida, os dois estavam apenas sentados conversando em um restaurante.
Super Pumped segue um estilo narrativo similar ao visto em filmes como “A Grande Aposta”, ao mostrar um tom “pop” cheio de referências, onde em alguns momentos os personagens conversam com a câmera ou algum elemento visual surge na tela para apresentar algum nome ou termo. A narração é de ninguém menos que do diretor Quentin Tarantino, o que diz muito sobre tonalidade narrativa da série, que é carregada de ironia e humor ácido.
Outro elemento narrativo importante é a trilha sonora, tanto a original composta por Brendan Angelides, que apresenta um tom moderno e interessante, quanto o uso de músicas pop. A principal banda utilizada é Pearl Jam e Super Pumped usa essas canções em momentos importantes onde a música ajuda de alguma forma a contar a história. Um bom exemplo é “Better Man” em uma cena em que TK sente a necessidade de que precisar ser um “homem melhor” diante dos problemas da Uber, ou quando ouvimos “Breaking the Law” do Judas Priest e vemos os funcionários da empresa “quebrando a lei” sem se preocupar com as consequências.
O seriado também não tem medo de mostrar o lado “podre” da Uber e de TK. Essa parte sem dúvidas é a mais interessante da série, já que muitas vezes não paramos para pensar no que está por trás de um aplicativo que “revolucionou” o transporte de passageiros. Assim, muitas questões importantes são abordadas, como o machismo dentro da Uber e a ética em relação a privacidade dos usuários. E tudo isso muitas vezes não era necessariamente por dinheiro, mas sim pelo ego, já que ele tinha o objetivo de se juntar a outros “mestres” do mundo da tecnologia como Mark Zuckerberg.
Em síntese, “Super Pumped – A Batalha pela Uber” apresenta de forma brilhante a história da criação e evolução da Uber, principalmente a jornada de Travis Kalanick e de como é possível ser uma pessoa sem ética e empatia, sem deixar de ser humana por isso. É importante lembrar que grandes CEO não são “monstros”, mas sim pessoas e de como isso ainda é mais “assustador”.
Super Pumped é uma série antológica, então na próxima temporada contará a história de outra grande empresa de tecnologia: o Facebook. E mais uma vez será inspirada em um livro de Mike Isaac.
Super Pumped – A Batalha pela Uber (Super Pumped – The Battle For Uber)
Criado por: Brian Koppelman e David Levien
Emissora: Showtime (Paramount+ no Brasil)
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Kyle Chandler, Kerry Bishé, Babak Tafti, Jon Bass, Elisabeth Shue, Bridget Gao Hollitt, Uma Thurman e narração de Quentin Tarantino
Ano: 2022
Só discordo num ponto de achar que TK não era um monstro, sim ele era e nada mudou isso. A série é excelente realmente e vale os 5 bacons, ainda que não ache que tenha nada que abone TK e, mesmo com o esforço narrativo que a série cria pra mostrar que os outros do conselho eram melhores pessoas, no fundo no fundo sabemos que são apenas um bando de bilionarios fdp se fazendo de disruptivos.