Crítica | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
“Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, dirigido por Sam Raimi, talvez seja o primeiro filme do MCU em que o cineasta responsável pela direção consegue manter o seu estilo de filmar, apesar das imposições do produtor Kevin Feige para que o resultado final esteja dentro dos padrões do estúdio, mantendo a “coerência” do universo.
Sam Raimi já dirigiu a trilogia Homem-Aranha, que contribuiu bastante para definir o que viria a ser o MCU. Contudo, nessa continuação de “Doutor Estranho” ele incluiu elementos de terror, gênero no qual ele tem um enorme domínio por ter dirigido nada menos que a clássica trilogia Evil Dead.
É visível a influência de terror em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” e o diretor usa elementos do gênero tanto de maneira clássica, como de forma mais explícita. Não por acaso esse é o filme mais violento do MCU, mesmo que com pouco sangue, mas com direito até mesmo a um olho sendo arrancado, fazendo referência à Evil Dead. A trilha sonora de Danny Elfman também ajuda a definir o tom, transitando muito bem entre fantasia épica e horror.
Na trama o Doutor Estranho tem a missão de proteger America Chávez (Xochitl Gomez), uma jovem que tem o poder de transitar entre as dimensões, mas não sabe bem como fazer. Quem está interessado nessa habilidade é Wanda / Feiticeira Escarlate, que após ter vivenciado de maneira artificial a maternidade (como vimos na série Wandavision) decide que quer viajar para outra dimensão em busca dos filhos.
A decisão de transformar Wanda em vilã é arriscada, mas sem dúvidas é condizente com as HQs. No MCU a personagem ganhou a simpatia dos fãs por ser uma das mulheres mais poderosas do universo e uma das responsáveis por salvar a Terra nos últimos filmes dos Vingadores. Em Wandavision já vimos um pouco disso, mas em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” ela tem a oportunidade de mostrar seu real poder, só que para o mal. O roteiro de Michael Waldron explora corretamente o dilema dela, dividida entre o lado maléfico e o amor de mãe, assim ela se torna uma antagonista bem interessante para o Doutor Estranho. E Elizabeth Olsen está muito bem no papel, conseguindo explorar bem as novas nuances de Wanda.
Por outro lado, o roteiro não explora tão bem a figura de America Chávez. A atriz Xochitl Gomez tem pouco tempo em tela, mas consegue deixar a sua marca. Parece que Michael Waldron está mais interessado em manter a “coesão” e o formato do MCU do que explorar mais os novos personagens. Dessa forma, tirando o Doutor Estranho e Wanda, o restante do elenco não tem muito espaço para explorar melhor seus respectivos papéis.
A jornada mental de Wanda e Stephen Strange é interessante ao explorar de maneira eficiente o lado psicológico dos personagens. Wanda, como já foi citado, lida com sua dualidade. Já Strange lida com sua própria felicidade, especialmente na maneira como reage ao casamento de Christine Palmer (Rachel McAdams) — sua ex-namorada — ou da forma como descobre sobre o comportamento de suas outras versões no multiverso.
O filme de Sam Raimi explora de maneira até comedida o recurso do multiverso, ainda mais se compararmos com “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”. É claro que temos muitos fan services, mas eles funcionam melhor dentro da narrativa e não apenas como um artifício gratuito de agradar os fãs.
Em síntese, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” se destaca mais pela direção inspirada de Sam Raimi do que pelo roteiro apenas correto de Michael Waldron. Ainda que consiga se diferenciar um pouco das outras obras do MCU, o filme ainda fica preso dentro dessa obrigação de manter a “coerência”, que mais atrapalha do que contribui para o resultado final.
Uma frase: “Você é feliz?”
Uma cena: A batalha musical do Doutor Estranho.
Uma curiosidade: Sam Raimi inicialmente não queria dirigir nenhum futuro filme de super-herói, tendo perdido a fé em si mesmo devido à reação da crítica e do público que recebeu de Homem-Aranha 3 (2007) devido à interferência do estúdio da Sony. No entanto, receber a ligação de seu agente sobre este filme o encorajou a tentar novamente, pois ele havia gostado muito do primeiro filme do Doutor Estranho (assim como do próprio personagem) e queria ver se ele poderia cumprir o desafio de atender às expectativas do público mais uma vez.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness)
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Michael Waldron
Elenco: Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Chiwetel Ejiofor, Benedict Wong, Xochitl Gomez, Michael Stuhlbarg e Rachel McAdams
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Ano: 2022
Duração: 126 minutos