Crítica | Enquanto Houver Amor

Crítica | Enquanto Houver Amor

“Há algo que duas pessoas poderiam ter, que não temos e gostaria que tivéssemos?”

Essa é uma das perguntas que Grace (Anette Bening) fez por tanto tempo, vivendo algo parecido com revolta e insatisfação. É algo que sempre frustrou seu marido Edward (Bill Nighy), mas ele nunca fez questão de reclamar. Dois infelizes que vivem juntos, infelizes que se amam. Enquanto Houver Amor nos faz pensar se somos felizes de verdade com quem estamos ou se nos forçamos a estar com quem amamos?

Enquanto Houver Amor é sobre um casal que vivencia a experiência da separação. Viveram juntos por mais de duas décadas, o filho já está criado e a vida estabelecida, cada um com seus afazeres. A questão principal é o que acontece quando um deles não se sente mais motivado a permanecer casado.

Grace e Edward representam um casal de opostos que se encaixam em uma concepção de amor que ainda se faz remanescente, mas tem muito mais força numa forma de viver dos nossos mais velhos. Entretanto, existe uma forma de dialogar entre eles que se mostra mais próximo dos dias atuais, a proposição de uma abertura na comunicação e com inversão de papéis, subvertendo a imagem de uma hierarquia de gênero, pois, sim, existem muitos homens retraídos e sensíveis.

Sabe o que eu acho?

Filmes sobre separação não são uma grande novidade, mas assistir boas interpretações sobre o assunto sempre é muito interessante, porque é um assunto muito próximo do dia-a-dia. Nesse caso, acho que Enquanto Houver Amor tem um elenco que já se provou talentoso em tantas oportunidades, mas o material final não entrega a carga emocional necessária. Existe muita entrega no início, mas do meio pro fim… é tão desanimador quanto esse texto. Principalmente o encerramento.

Apesar da boa trilha sonora, excelentes frases e elenco talentoso, Enquanto Houver Amor não comove o suficiente. Posso estar exigindo sofrimento demais? Sim, mas porque conheço o potencial da equipe. Não é um filme ruim, mas fui perdendo a comoção com o passar do tempo.

Em alguns momentos me vi no lugar de alguns personagens que nem foram citados no texto, em outro me vi pensando “Porra, como é que ele vai falar pra ela isso? Como se dá esse tipo de notícia sendo quem ele é?”.

E aí acabou. Talvez o ápice tenha chegado cedo demais ou o arco do terceiro personagem, o filho, e seu problema em se comunicar bem com suas companheiras foi tão mal explorado quanto a citação dele nesse texto.

Enfim, eu não fiquei emocionado o suficiente e não sinto culpa alguma.


Uma frase: “Fiquei pensando nas duas grandes guerras e nas esposas e mães esperando em casa, e os telegramas do gabinete de guerra informando que seus maridos e filhos estavam mortos. Pensei em como deveria ser terrível, e de algum modo, mais fácil que perder Edward dessa maneira. De repente me dei conta. Essa é a nossa guerra e o que nos torna viúvas e órfãs hoje em dia. Só não há túmulos nem cerimônias do Dia da Lembrança. Não nos permitem viver o luto. Vê? Não estou aguentando firme, afinal de contas.”

Uma cena: O primeiro jantar durante a visita do filho.

Uma curiosidade: Enquanto Houver Amor teve sua premiere mundial no Toronto International Film Festival no dia 6 de Setembro de 2019.


Enquanto Houver Amor (Hope Gap)

Direção: William Nicholson
Roteiro: William Nicholson
Elenco: Annette Bening, Bill Nighy, Josh O’Connor, Aiysha Hart, Ryan McKen, Steven Pacey e Nicholas Burns
Gênero: Drama, Romance
Ano: 2019
Duração: 100 minutos

Junio Queiroz

Sou bonito, sou gostoso, jogo bola e danço. Psicólogo humanista. As vezes edito algum podcast da casa.

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