Crítica | Cabras da Peste
“Cabras da Peste” é uma versão brasileira dos filmes de dupla de policiais, que ficou famosa graças a “Máquina Mortífera” e “48 horas”, mas existem também as versões cômicas como “A hora do rush”. A obra de Vitor Brandt segue a linha do humor, explorando o mesmo estilo de “Cine Holliúdy” e “O Shaolin do Sertão“, ambos protagonizados também por Edmilson Filho.
Desta vez, Edmilson interpreta Bruceuílis, um policial de uma cidade pequena do interior do Ceará muito pacata, onde praticamente nenhum crime acontece, tanto que sua missão atual é cuidar da cabra mascote do município. Mas o animal é sequestrado e levado para São Paulo, então o tira se vê obrigado a ir para a cidade grande resgatá-la. Assim, ele se junta a Trindade (Matheus Nachtergaele), um “policial de escritório” desprezado pela sua equipe após estragar uma missão envolvendo tráfico de drogas. Por coincidência, os dois casos estão interligados, então essa dupla improvável de agentes tem a oportunidade de mostrar o seu devido valor.
A premissa de “Cabras da Peste” é interessante e explora muito bem os principais clichês dos filmes policiais. O roteiro de Vitor Brandt e Denis Nielsen acerta ao brincar com o lugar-comum do gênero, mas derrapa em alguns elementos da narrativa, abusando demais dos absurdos e coisas que não fazem sentido na trama ou são muito óbvias, como a revelação da identidade do vilão. Esses problemas, no entanto, são compensados pelo carisma da dupla de protagonistas.
Edmilson Filho mostra mais uma vez todo o seu talento para humor físico, protagonizando ótimas cenas de luta, que mesmo tendo elementos cômicos e exagerados, ainda parecem verossímeis. Elas são bem coreografadas e filmadas de maneira assertiva, sem muitos cortes, para que o espectador entenda a ação que apresentada na tela.
A química de Edmilson com Matheus Nachtergaele é excelente, garantindo a qualidade cômica de “Cabras da Peste”. Impressionante também a versatilidade de Nachtergaele, que mais uma vez comprova seu talento como um dos melhores atores em atividade no Brasil. O ator é capaz de ir do drama de filmes como “Piedade” ou da série sobre Zé do Caixão à comédia, sem deixar de entregar grandes atuações.
Na parte técnica, “Cabras da Peste” tem seus altos e baixos. Um dos pontos baixos são os efeitos visuais, especialmente uma cena de explosão próxima ao fim do filme, tão constrangedora que nem chega a ser engraçada.
Já a trilha sonora é um dos pontos positivos, que acerta bem na alternância de tons da narrativa. Um bom exemplo é a cena na qual Trindade e seu parceiro vão disfarçados em um encontro com traficantes: a música apresenta seriedade, mas basta começar uma troca de tiros para ela mudar completamente. Esse recurso funciona de forma orgânica no filme para mostrar que, mesmo sendo uma comédia, a parte policial tem alguma “seriedade”.
A escolha de músicas pop para compor a trilha também se destaca, como a versão de “The Heat is On”, conhecida do filme “Um Tira da Pesada”, que sem dúvidas também é uma grande influência. Em português ela vira “Calor do Cão”, na voz de Gaby Amarantos, e é usada na abertura de “Cabras da Peste” para mostrar uma cena de perseguição de Bruceuílis. Outra canção relevante é “Me chama que eu vou”, de Sidney Magal, que serve de trilha para uma luta do protagonista cearense contra traficantes em um restaurante, dando ao momento um tom cômico inusitado.
Em síntese, “Cabras da Peste” é uma comédia policial bem divertida, onde os problemas da história são compensados pela excelente dupla de protagonistas. O diretor Vitor Brandt acerta na brasilidade e mostra que a comédia nacional pode explorar outras nuances.
Uma frase: Bruceuílis: “Eu já era faixa preta de taekwondô, kung fu, caratê, aiquidô, krav-magá, judô. E agora eu sou faixa verde também de crossfit e já iniciei agora na zumba também.”
Uma cena: A luta de Bruceuílis contra os traficantes num restaurante ao som de “Me chama que eu vou” de Sidney Magal.
Uma curiosidade: O nome “Guaramobim” parece familiar, tipo uma mistura de Guaramiranga com Quixeramobim, dois dos 184 municípios do estado do Ceará. No entanto, a cidade que serve de cenário para o filme é fictícia, ainda que as cenas tenham sido gravadas no Ceará, mais precisamente em Guanacés.
Cabras da Peste
Direção: Vitor Brandt
Roteiro: Vitor Brandt e Denis Nielsen
Elenco: Matheus Nachtergaele, Edmilson Filho, Letícia Lima, Falcão, Evelyn Castro, Leandro Ramos e Juliano Cazarré
Gênero: Comédia
Ano: 2021
Duração: 97 minutos