Crítica | Nomadland

Crítica | Nomadland

Vencedor do Leão de Ouro no festival de cinema de Veneza em 2020, “Nomadland” é um dos filmes que estão mais bem cotados para o Oscar de 2021. Dirigido pela cineasta Chloé Zhao, o filme mistura histórias reais com ficção para dar um mergulho no mundo de estadunidenses que vivem como nômades pelo país.

Na trama somos apresentados a Fern (Frances McDormand, “Três Anúncios para um Crime”), uma mulher que no alto dos seus sessenta e poucos anos embarca numa jornada rumo ao Oeste dos Estados Unidos após perder tudo. Vivendo numa van e de bicos com trabalhos esporádicos, ela resolve ir até um encontro com outros nômades ‘modernos’. Lá ela vai conhecer pessoas que, como ela, decidiram “sair do sistema”.

A cineasta Chloé Zhao, que vai estar à frente de “Eternals” da Disney/Marvel, faz um trabalho incrível com o elenco, em especial com aquelas pessoas que não são atores. É justamente essa união da realidade de gente que nem se achava tão importante ao ponto de terem suas histórias contadas em tela (como muitos afirmaram), com a jornada criada para a personagem da sempre incrível Frances McDormand, que faz de Nomadland uma produção tão ímpar e intimista.

Sem se aprofundar muito em críticas mais contundentes, por exemplo, à precarização do mercado de trabalho (Frances inclusive trabalhou, de verdade, em um depósito da Amazon), Zhao aposta num olhar mais profundo nessas pessoas que são, costumeiramente, vistas como radicais. Como será que alguém pode escolher, nos tempos atuais, viver assim? Em vans, rodando pelo Estados Unidos, dormindo em estacionamentos, passando frio e tudo o mais? E o grande trunfo de Nomadland é mostrar que, na verdade, radicais são todos aqueles que se acham “normais”.

Existe uma frase dita pela personagem de Frances McDormand que merece um destaque especial por resumir bem essa ideia de “normalidade” que o sistema capitalista e todas as explorações e assédios que sofremos diariamente nos faz aceitar:

“É muito estranho que vocês encorajam as pessoas a pegar suas economias de toda uma vida para entrarem em dívida, apenas para comprar uma casa que elas não podem pagar.”

Nomadland é claramente um drama, mas traz elementos de diversos outros subgêneros que tornam a história que ele conta ainda mais rica. Pode ser visto como um roadmovie também, que quebra um pouco as barreiras do que estamos acostumados a assistir. Uma obra mais intimista, sem aqueles altos e baixos, sem gritaria, sem um grande clímax que é preparado desde a primeira cena. Ainda assim, é uma produção que emociona e toca fundo no peito de todos aqueles que estão vivos e despertos dessa conformidade que aprendemos a achar “normal”. 


Uma frase: “Uma das coisas que eu mais amo sobre a vida é que não existe um Adeus (para sempre). Você sabe, eu encontrei centenas de pessoas mundo afora e eu nunca disse adeus para elas. Eu sempre digo “Te vejo pela estrada”. E eu as vejo. E ainda que seja em um mês ou um ano, ou às vezes anos, eu as encontro novamente.”

Uma cena: Fern chega ao encontro e ouve o discurso de Bob Wells.

Uma curiosidade: Foi baseado em um livro de não-ficção homônimo escrito por Jessica Bruder.


Nomadland

Direção: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao adaptando livro escrito por Jessica Bruder.
Elenco: Frances McDormand, David Strathairn, Linda May, Angela Reis, Carl R. Hughes, Douglas G. Soul, Teresa Buchanan e Bob Wells.
Gênero: Drama
Ano: 2020
Duração: 1h e 48 min

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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