Sertãopunk – Histórias de um Nordeste do Amanhã
Não é de hoje que existe um certo esforço de apagamento histórico ou de uma pretensiosa e falsa admiração vinda das outras regiões do país, em especial do sudeste, e no mundo literário não é diferente. Pessoas de fora e que não vivem o Nordeste brasileiro ocupam os espaços e acabam sendo tidas como “referências nacionais”, o que é bastante injusto e triste. Vivemos num país plural demais para aceitar as mesmas narrativas de sempre.
Para dar voz a uma região que quase nunca “aparece”, ou que quando é lembrada é por uma ótica de “exoticidade” e preconceitos, o movimento Sertãopunk é um ótimo ponto de partida para amantes da leitura e também para autores amadores ou profissionais. E o melhor, pode ser lido gratuitamente no Kindle (se você não tiver um, pode baixar o app gratuito para celular, tablet ou em seu computador).
Sertãopunk
Escrito por por Alan de Sá e G. G. Diniz, com organização de Alec Silva, “Sertãopunk – Histórias de um Nordeste do Amanhã” traz uma coletânea de contos e artigos apresentando conceitos e formas para colocar toda a diversidade cultural (e semelhanças também) do Nordeste sob o ponto de vista dos nordestinos, com suas diversas expressões culturais, artísticas, pluralidade de cores e tradições regionais.
O Sertãopunk conversa com diversos gêneros da ficção especulativa, em especial a ficção científica e também elementos de outros gêneros como o Afrofuturismo e também o Solarpunk (que traz uma visão mais utópica e menos pessimista do futuro). Nessa junção de ideias, movimentos e gêneros, o Sertãopunk propõe uma forma de pensar o futuro do nordeste de maneira mais otimista, onde fontes de energia renováveis e prosperidade tecnológica podem ditar um amanhã mais promissor, mas não longe dos velhos problemas que enfrentamos. Sem seca, sem cangaceiros, sem achar o sotaque “engraçado” e, principalmente, dando espaço e protagonismo às minorias.
Em apenas 50 páginas, “Sertãopunk – Histórias de um Nordeste do Amanhã” traz muitas informações e esclarecimentos interessantes que abrem um leque maior para se pensar a literatura nordestina. No final, existem dois contos que esboçam como este gênero/movimento pode ser representado; o que fecha o livro, chamado “Schizophrenia”, escrito por Alan de Sá, foi o que particularmente mais gostei e se passa numa Feira de Santana futurista.
A única coisa que faltou na obra foi um cuidado um pouco melhor na revisão do material lançado. Existem alguns erros bobos e uma ou outra repetição de palavras aqui e acolá, mas nada que atrapalhe a leitura e a imersão nas ideias que ele apresenta.
Para aqueles que querem conhecer novas narrativas e, em especial, para aqueles que pensam em escrever o Nordeste do amanhã, Sertãopunk é um ótimo ponto de partida. Com uma pesquisa rápida em qualquer ferramenta de pesquisa é possível achar diversas obras deste novo gênero literário (vamos chamar assim) e também alguns artigos contando mais a respeito do movimento.
Saiba mais sobre o Sertãopunk:
Para quem quer se aprofundar no assunto, vou deixar abaixo alguns links para outros artigos interessantes.
- Sertãopunk – O Nordeste no Futuro do Presente
- Estão inventando o Nordeste de novo
- Não troco meu “oxente” pelo “cyberagreste” de ninguém
- Um ano de Sertãopunk: o que mudou até aqui?
Sertãopunk – Histórias de um Nordeste do Amanhã
Autores: Alec Silva, Alan de Sá e G.G. Diniz.
Ano: 2020
Páginas: 50
ISBN: B08BPD1BLK
Disponível grauitamente na Amazon