Na sala de espera do inferno tem uma tv com um ‘fifinha’ para relaxar
Ainda me lembro do som forte e explosivo da bola entrando no gol em Fifa Soccer 94, era como se a rede fosse feita de algum tipo de metal. O som da torcida imaginária vibrando e a imagem dos bonequinhos pixelados em campo era o suficiente para me alegrar naqueles tempos. Ali estava a perfeita união de duas coisas que tanto gostava quando criança.
Não me orgulho muito, mas dediquei muito tempo da minha vida ao futebol nos videogames. As melhores lembranças dos simuladores de futebol começaram com o saudoso International Superstar Soccer e Winning Eleven, muitos anos antes do Fifa Soccer se consolidar. Após um tempo longe da franquia, voltei ao Fifinha apenas por conta da jogatina online, já que nunca fui muito fã de jogar contra a ‘máquina’.
Acredito que a maioria das pessoas procura nos videogames um lugar para fugir um pouco dos pesadelos do mundo real. É um escape, um relaxamento para dias tensos, pensamentos ruins e tempos difíceis. Ao tentar isso com o Fifa Soccer o efeito era sempre o reverso, quanto mais eu jogava, mais estressado ficava. Mais raiva eu passava, mais indignação eu sentia e não era por conta de não saber jogar. Não sou nenhum viciado, mas tenho uma habilidade razoável. O problema na verdade é que poucos lugares são tão eficientes em reunir tanta gente horrível como a comunidade dos “Fifeiros”.
Um dos modos mais jogados no Fifa é um que é, basicamente, um simulador de coleção de figurinhas. O balanceamento das partidas nesse modo é ruim e as pessoas fazem qualquer coisa para ganhar mais “figurinhas”, que variam desde itens cosméticos: como uniforme ou estádio, até o que realmente interessa: os jogadores. Aí é que se encontra o inferno das desistências no meio das partidas, num verdadeiro formigueiro de pessoas que estão ali apenas para tornar a sua experiência, que deveria ser divertida, em um verdadeiro filme de terror e agonia.
Se alguém sair da partida antes do fim é punido com perda de pontos, só que isso não parece intimidar a comunidade das criaturinhas que não sabem brincar. Dificilmente lhe deixarão chegar até o apito final de uma partida e, por consequência disso, você pode deixar de ganhar mais pontos – quantidade de gols, por exemplo, é um dos diferenciais – que poderiam lhe ajudar a melhorar o seu time. De um lado está você, fazendo papel de palhaço e, do outro, quase sempre está algum indivíduo que fazia parte daquela mesma turma que melava a mão com cuspe para virar mais figurinhas no bafo.
A maioria das partidas online são uma verdadeira tortura onde, se você fizer gol muito cedo, é capaz da pessoa do outro lado desconectar, e se abrir dois ou três gols de vantagem, também. Virou a partida e falta pouco tempo? Já era jovem, a pessoa vai pular fora! Lá se vai mais tempo perdido até chegar novamente na tela para iniciar uma nova partida e aguardar um novo adversário num loop infinito que me consumia tempo de vida e a pouca paciência que tinha separado para me divertir.
O mesmo acontece se você estiver atrás do placar. Por mais que a EA tenha tentado criar algumas formas de combater alguns comportamentos idiotas com a diminuição das pausas durante o jogo, por exemplo, ainda assim essas medidas não são suficientes para evitar que você passe raiva. É muito comum um adversário abrir o placar, ou passar a sua frente em algum momento, e ele simplesmente usar todo o estoque de pausas possíveis repetidamente. É uma tortura psicológica criada para você desistir. Eu não sou de pedir penico e já virei muitas partidas assim, depois de toda a interminável espera. Claro, bastava eu virar a partida para a pessoa pular fora.
Ao todo foram mais de seiscentas horas jogadas no lixo numa atividade que era para ser um escape da realidade de 2020. Precisei perder todo esse tempo de vida até tomar a atitude de desinstalar o jogo para nunca mais retornar à franquia. Ainda gosto de futebol por motivos nostálgicos (e talvez um pouco de síndrome de Estocolmo, uma vez que torço por um time que me prende num círculo eterno de desesperança), mas voltar a jogar um ‘Fifinha’ para relaxar é algo que pretendo nunca mais fazer. Primeiro porque descobri que existem outras formas de viver e ser feliz, e segundo porque esse tempo que se abriu na minha vida deu espaço para voltar a me divertir com jogos eletrônicos (denunciei minha idade). Consigo jogar, do início até o fim, diversos games indies agora com esse tempo que “surgiu na minha agenda”. Em terceiro lugar e talvez mais importante, consigo novamente sentar no computador e escrever um texto que sei que quase ninguém vai ler, mas que pelo menos vai me trazer alguma satisfação por tirar algumas palavras que ficam entaladas aqui dentro querendo escapulir.
E tantas outras coisas podemos fazer quando não perdemos tempo com coisas desagradáveis e que apenas sugam a nossa vida e a nossa alegria. Sem contar que qualquer coisa é mais prazerosa do que dividir seu tempo com uma comunidade recheada de pessoas tóxicas e desagradáveis. Gente que não sabe perder, não sabe ganhar e nem dividir um espaço com outras pessoas.
Acho que não cheguei a jogar Fifa 94, mas sim um chamado Actua Soccer e era massa viu. Nostalgia total.
Ano retrasado desinstalei o ‘fifinha’ e foi só sucesso. Além da irritação dos jogos online, eu tava querendo levar um time da quarta divisão inglesa até a final da champions no nível mais difícil e isso demandou tempo haha
Quando larguei mão passei a jogar vários jogos que estavam aqui baixados e com certeza me diverti muito mais com eles.
Pretendo não voltar mais pra esse vício!
Se jogar com jota é ruim tb pq só perde
Gostaria de ter apenas esse problema jogando online hehehe, agora só jogo na casa de alguém o Fifa 2032
Eu passei muita raiva jogando Fifa online, mas no meu caso é porque eu sou ruim e sempre perdia kkkk
Mas tem a galera que só joga “apelando”, querendo dar drible e “humilhar” coisa e tal.