Crítica | Alice Júnior

Crítica | Alice Júnior

Alice Júnior vem colecionando alguns prêmios em diversos festivais de cinema pelo país. Além de divertido é um filme importante e se não fosse a pandemia de 2020, provavelmente teria seu lançamento nos circuitos comerciais de cinema, pois tem tudo o que uma boa comédia adolescente precisa para fazer sucesso.

Na trama somos apresentados a Alice Júnior (Anne Celestino), uma adolescente trans que vive em Recife e faz um relativo sucesso como vlogueira. Sua vida vira de cabeça para baixo quando o seu pai (Emmanuel Rosset) é transferido para uma pequena cidade do sul do país. Enquanto busca dar o seu primeiro beijo, Alice enfrenta uma população um pouco mais conservadora que a da sua cidade natal.

O roteiro escrito por Luiz Bertazzo e Adriel Nizer acertou ao colocar uma personagem trans para protagonizar a história, trazendo um pouco de novidade em relação a outros filmes de comédia adolescente. A direção de Gil Baroni trabalha razoavelmente bem com o elenco de apoio, mas é a atriz principal Anne Celestino quem rouba as cenas. A parte técnica, por sua vez, adiciona algumas animações que ajudam a transpor o mundo virtual e também os sentimentos da protagonista em tela com uma boa imersão nas lutas diárias de Alice.

As discussões e situações que são apresentadas a respeito dos preconceitos que a protagonista sofre, apesar de serem um pouco superficiais, ajudam a conversar de forma leve sobre temas importantes. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos, ainda acompanhamos de maneira divertida a jornada dela em busca do seu primeiro beijo. Amizades, crushes e valentões se misturam com sua busca por autoconhecimento e aprendizado.

Talvez o melhor do filme mesmo seja a forma como a personagem principal, ao invés do “padrão perdedor” que vemos em tantas produções gringas, escolhe o caminho do enfrentamento. Sim, Alice Júnior vai chorar e vai passar por momentos difíceis algumas vezes, mas na maior parte do tempo ela encara tudo de frente, com cabeça erguida, sem se intimidar e essa é uma das boas lições que o filme nos deixa.

Alice Júnior possui seus clichês como boa parte das produções do gênero, mas mesmo com o baixo orçamento consegue entregar um filme redondinho e com uma produção caprichada. A atuação inspirada da atriz Anne Celestino ajuda a deixar tudo mais leve, interessante e divertido. Uma boa pedida para aqueles que querem fugir um pouco das produções mais pesadas e querem apenas dar algumas risadas gostosas.


Uma frase: “É ‘A’ travesti do ensino médio!”

Uma cena: Quando um professor faz a chamada usando o nome social de Alice.

Uma curiosidade: O filme marcou a estreia na atuação para a Anne Celestino.

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Alice Júnior

Direção: Gil Baroni
Roteiro: Luiz Bertazzo e Adriel Nizer
Elenco: Anne Celestino, Emmanuel Rosset, Surya Amitrano, Matheus Moura, Thaís Schier, Katia Horn, Gustavo Piaskoski, Antonia Montemezzo, Igor Augustho e Melissa Locatelli.
Gênero: Comédia
Ano: 2019

marciomelo

Baiano, natural de Conceição do Almeida, sou engenheiro de software em horário comercial e escritor nas horas vagas. Sobrevivi à queda de um carro em movimento, tenho o crânio fissurado por conta de uma aposta com skate e torço por um time COLOSSAL.

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