Resenha de Livro | Bom Dia, Verônica
Uma complexa trama policial genuinamente brasileira com requintes perturbadores de mistério e violência faz de Bom dia, Verônica uma obra muito envolvente e viciante. Ao mergulhar na história, o leitor é conduzido por descrições detalhadas e incômodas de cenários e do estado emocional dos personagens do thriller. O desfecho da obra é surpreendente e gera grande expectativa para uma possível sequência da história.
A narrativa central do livro é construída sob a perspectiva de Verônica, uma escrivã da Polícia Civil de São Paulo, que trabalha como secretária de um delegado. Um suicídio misterioso e a denúncia de uma mulher que sofre violência doméstica a colocam no “olho do furacão” de pistas sobre crimes abomináveis.
A investigação dos casos se revela uma atraente oportunidade de ascensão na carreira e Verônica se joga sem pensar muito nas consequências de seus atos. Diversas reviravoltas nos acontecimento desafiam a policial, ao mesmo tempo em que a confrontam em seus valores morais, suas escolhas de vida e até em suas tragédias particulares mal resolvidas.
Raphael Montes e Ilana Casoy – autores que na primeira edição do livro se ocultavam sob o pseudônimo Andrea Killmore – são experientes escritores brasileiros e, juntos, elaboram um apurado romance ficcional que devassa com muita habilidade os contornos de psicopatia presentes na conduta do tradicional serial killer e também em pessoas, aparentemente, saudáveis e “normais”.
Gatilhos
Vale alertar que, por abordar a violência contra mulher em suas minúcias mais sórdidas e abomináveis, a história do livro pode despertar sensações e sentimentos de gatilho em mulheres que já vivenciaram situações semelhantes. As cenas narradas são brutais e, por vezes, propícias a provocar perturbação, taquicardia e náuseas até mesmo em quem nunca foi vítima desse tipo de violência física e emocional. Portanto, siga com a leitura apenas se houver segurança para lidar com todas essas questões.
Representação feminina
Um ponto positivo inquestionável da narrativa é o protagonismo feminino do thriller. A policial Verônica é uma mulher cheia de camadas, uma personagem complexa, cheia de inseguranças, vulnerabilidades, mas também forte, corajosa. No contraponto, há Janete, que ora se vê como vítima, ora como algoz. A trama expõe como as diferenças entre elas, às vezes, as colocam como aliadas e em outros momentos como rivais. Porém, a narrativa peca ao utilizar da descrição muito detalhada das formas de violação de corpos femininos para construir as figuras dos criminosos. Há excesso de sexualização da violência.
Título: Bom dia, Verônica
Autor: Andrea Killmore (Raphael Montes e Ilana Casoy)
Editora: Darkside
Número de páginas: 256
Já peguei o livro para ler, mas acho que não vou conseguir ler antes da série da Netflix estrear.