Crítica | A Menina que Matou os Pais / O Menino que Matou Meus Pais

Crítica | A Menina que Matou os Pais / O Menino que Matou Meus Pais

A ideia de separar “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais” em dois filmes onde cada um mostra o ponto de vista de um dos protagonistas é ambiciosa e interessante, mas ao mesmo tempo enfrenta problemas do ponto de vista ético e narrativo. O diretor Maurício Eça explora bem as narrativas de cada personagem ao se inspirar nos depoimentos de Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos, condenados por assassinar os pais de Suzane, mas o roteiro de Ilana Casoy e Raphael Montes peca por não ir além dessas perspectivas.

Ilana é especializada em serial killers e escreveu um livro sobre o caso Richthofen e, junto com Raphael, escreve histórias policiais, como o livro “Bom dia, Verônica” que virou série da Netflix. Com essa experiência era de se esperar que a dupla explorasse melhor a narrativa de Daniel e Suzane, pois ao se prenderem aos autos do julgamento fica claro que ambos os pontos de vista apontam exageros e fatos que foram esclarecidos no julgamento.

Um bom exemplo disso é a maneira como tanto a versão de Daniel quanto a de Suzane usam sexo e drogas como uma forma de julgamento moral um do outro. Assim, no ponto de vista dela, ela era uma menina inocente e que foi apresentada ao consumo de substâncias ilícitas e relações sexuais, e por isso, desvirtuada, enquanto para ele foi ela que o apresentou a isso, levando-o para o “mau caminho”.

Abstraindo esses problemas, pode-se afirmar que os longa-metragem de Maurício Eça são eficientes em apresentar a história do assassinato dos von Richthofen. Um dos destaques fica por conta do elenco, que teve um grande desafio em construir o mesmo personagem de duas formas diferentes. A mudança de um filme para outro fica clara como a maneira deles se comportarem são modificadas, com destaque para Carla Diaz que apresenta Suzane von Richthofen sem caricatura e abraçando muito bem cada ponto de vista. Ela explora os limites do excesso de inocência do ponto de vista de Suzane, para em seguida apresentá-la como fria e manipuladora.

A parte técnica também acerta na construção dos pontos de vista distintos, seja em detalhes como maquiagem, figurino e cenografia, mas também em outros elementos como a trilha sonora. É utilizado um cover da música “Everything In Its Right Place” do Radiohead, então no ponto de vista de Suzane a canção retrata um estado de alteração mental de efeito de drogas, como se ela estivesse chegado no fundo do poço, enquanto para Daniel mostra sua tensão enquanto aguarda a namorada retornar de uma viagem.

A montagem também é inteligente ao abrir ambos os filmes apresentando uma visão subjetiva de cada protagonista chegando ao tribunal para em seguida alterar a história entre a encenação dos fatos e o depoimento no julgamento. É interessante notar como a narrativa é basicamente a mesma, mas com pequenas alterações que fazem muita diferença. Observar essas nuances é importante para entender o que levou os realizadores a desenvolverem dois filmes diferentes.

Em síntese, “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais” funcionam como uma forma de apresentar dois pontos de vista diferentes de uma mesma história. Os filmes de Maurício Eça são ambiciosos e tecnicamente competentes, mas falham ao não se aprofundar mais na narrativa do que simplesmente adaptar o depoimento de cada um dos acusados. Além disso, talvez falhem por não apresentar nenhum elemento novo ou relevante para uma história que foi amplamente coberta pela mídia televisiva e também por outros meios como livros e documentários.


Uma frase: – Daniel: “Imagina, a gente livre, sem nada, sem hora pra nada, sem prisão, sem pressão. Imaginar não é crime, né?”

Uma cena: A primeira vez que Suzane e Daniel fazem sexo.

Uma curiosidade: Os filmes foram filmados juntos em 33 dias.


A Menina que Matou os Pais / O Menino que Matou Meus Pais

Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy e Raphael Montes
Elenco: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Kauan Ceglio, Allan Souza Lima, Débora Duboc, Augusto Madeira, Leonardo Medeiros, Vera Zimmermann e Gabi Lopes
Gênero: Drama, Policial, Biográfico
Ano: 2021
Duração: 80 minutos cada filme

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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