Review | Ozark – 3ª Temporada

Review | Ozark – 3ª Temporada

A família Byrde está de volta em uma terceira temporada na qual a série original da Netflix parece enfim encontrar o foco narrativo ideal.

Quando Ozark estreou, em 2017, aparentava ser uma aposta da Netflix em ocupar um nicho e um público similar ao daquele que adorava a excelente Breaking Bad. Jason Bateman (estrela, produtor e diretor da série), afinal, encarnava o desinteressante contador Marty Byrde que se via surpreendido com o envolvimento de sua firma de contabilidade com um cartel de drogas mexicano. As comparações, a princípio, assim, com o Walter White de Breaking Bad eram quase que inevitáveis. Mas logo ficava claro que, não se tratasse de comparações apressadas, elas, na melhor das hipóteses, paravam por aí. Ozark, aliás, é tão parecida com Breaking Bad quanto um hambúrguer é de um cachorro-quente.

A diferença fica clara, por exemplo, quando a trama começa a dar mais espaço à excelente Laura Linney e à sua personagem Wendy Byrde. Logo fica claro que Wendy é de longe a personagem mais interessante da série, e o talento de Laura Linney apenas a faz brilhar e tomar tanto a narrativa, quanto a tela por completo. Em Breaking Bad, Skylar, a esposa de Walter White, era seu freio moral. Mais ainda, em Ozark, também as crianças Jonah (Skylar Gaertner) e Charlotte (Sofia Hublitz) rapidamente descobrem as relações criminosas da família e passam, em uma medida ou outra, a atuar em conjunto com os pais.

Ozark, então, é uma série sobre atividades criminosas; ou melhor, uma série sobre uma família de classe média estadunidense que, em meio a uma crise matrimonial, se vê arrastada para o mundo violento do crime, mais especificamente, do narcotráfico, atuando, principalmente, na lavagem de dinheiro. O desafio dos Byrde de sobreviverem – fisicamente e enquanto família – em meio a essa realidade, e as artimanhas pensadas por Marty e Wendy para tanto, são mesmo o ponto central da série.

O grande problema de Ozark, porém, que é uma série que busca manter a audiência presa apostando em um progressivo aumento de tensão diante de um aparente situação da qual os Byrde não terão chances de se salvar (seja o inimigo aliados criminosos, inimigos criminosos ou mesmo as forças da lei e da ordem). Para fazer isso, recorre a soluções na trama que, por vezes, pesam na verossimilhança que a série pretende apresentar. Para essas soluções ficarem menos inverossímeis, a trama aposta em um aumento progressivo do número de personagens na trama, envolvidos na cada vez mais complexa rede de atividades criminosas dos Byrde. Assim, não raro, entre uma temporada e outra, temos que nos esforçar para relembrar quem é quem na trama e quais exatamente são as motivações de cada um.

Na terceira temporada os roteiristas tentaram atenuar esses problemas. Ao invés de inserir uma série de novos personagens relacionados às atividades criminosas dos Byrde, introduzem um personagem do núcleo familiar (Ben Davis, o irmão bipolar de Wendy, vivido por Tom Pelphrey) para ampliar o aspecto do drama. As relações com o Cartel Navarro se tornam mais um pano de fundo e a tensão se amplia a partir de acontecimentos que se dão fora da tela e, no geral, fora do controle dos Byrde.

Isso possibilita que os antagonismos desenvolvidos se dêem no âmbito de relações já estabelecidas. Particularmente as relações com Helen Pierce (Janet McTeer) formam os principais arcos de tensão dessa temporada, ao lado dos problemas familiares envolvendo Ben, ao ponto em que, invariavelmente, essas relações se entrelaçam no doloroso clímax da temporada. Clímax esse que, acertadamente, é desenvolvido da perspectiva daquela que se tornou a personagem mais importante da série e da temporada: a Wendy Byrde de Laura Linney.

A narrativa paralela envolvendo a nêmese de Wendy, Darlene Snell (Lisa Emery) ganha mais relevância justamente pelo contraste com a matriarca dos Byrde. E, nessa temporada, dão à Emery e sua personagem o tempo de tela e antagonismo adequado que parece preparar um embate maior entre ela e Wendy para a próxima temporada. A maneira como ela se aproxima dos Langmore, particularmente de Ruth, ao longo da temporada, deve render um foco narrativo importante futuramente.

Há espaço ainda para um certo alívio cômico com as sessões de terapia de casal dos Byrde, conduzidas pela ótima Marylouise Burke no papel da simpática terapeuta de casais Sue Shelby. A, digamos, flexibilidade moral de Sue é progressivamente explorada, ao ponto da resolução relacionada a sua personagem, embora amarga, ganhar força por sua verossimilhança, resgatando um importante aspecto da série que, também, beira o tragicômico.

Enfim, enquanto a segunda temporada apostou em muitas narrativas paralelas e muitos personagens, a terceira temporada de Ozark pareceu ser capaz de corrigir tais problemas da temporada passada, acertadamente, como pontuado, focando mais uma vez no núcleo emocional familiar e nas repercussões disso nas atividades criminosas da família, ao invés de investir em tramas mirabolantes para deixar a audiência entretida. Talvez por isso o final da temporada funcione de forma tão eficiente no impacto que pretende produzir nos espectadores.



Ozark – 3ª Temporada

Criado por: Bill DubuqueMark Williams
Emissora: Netflix (Original)
Com: Jason BatemanLaura LinneySofia Hublitz, Skylar Gaertner, Julia Garner, Janet McTeer, Tom Pelphrey e Marylouise Burke.
Ano: 2020

 

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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