Crítica | Ad Astra – Rumo às Estrelas
O cinema é uma forma de arte fascinante e é interessante quando um cineasta cria toda uma alegoria para falar sobre algo que aparentemente não está na superfície da narrativa. Ad Astra – Rumo às Estrelas de James Gray é um bom exemplo disso. O filme protagonizado por Brad Pitt usa o tema espacial, envolto de mistérios, para falar sobre algo universal: a relação entre pai e filho.
Pitt interpreta Roy McBride, um astronauta que entrou na profissão por influência do pai, que foi um herói e grande cientista. No entanto, surge uma ameaça na Terra através de misteriosas “tempestades elétricas” que tem conexão com experiências realizadas por seu pai. O astronauta é convocado para uma missão onde terá que ir em busca do paradeiro do senhor McBride em busca de respostas.
O universo criado por James Gray é intrigante e ambicioso. Os astronautas são constantemente submetidos a avaliações psicológicas para saber se tem condições de continuar trabalhando. Também precisam tomar remédios para manter o humor calmo para evitar alterações nos seus batimentos cardíacos. Isso faz sentido se pensarmos no quanto esse tipo de missão pode afetar as pessoas quando são expostas a longas missões, onde eles tem que deixar de lado o lar, família e amigos.
O diretor Damien Chazelle abordou muito bem esse tema em O Primeiro Homem ao contar a história do astronauta Neil Armstrong do ponto de vista pessoal e de como o trabalho afetou sua vida particular. No entanto, nele a relação afetada era entre marido e mulher.
Viver com um humor constante também teve um preço na vida de Roy McBride e acompanhamos através de flashbacks como isso afetou sua vida amorosa na relação com Eve (Liv Tyler). Estaria Roy destinado a seguir literalmente o mesmo caminho do pai, que abandonou sua família em busca da jornada do conhecimento?
A atuação de Brad Pitt como Roy nesse sentido é notável, já que o ator precisa criar um personagem de poucas palavras e expressões corporais, muitas vezes apático, mas que ao mesmo tempo tenha um carisma suficiente para carregar a história até o final. E ele faz isso com maestria. A narração em off do protagonista ajuda ao espectador entender o que está se passando em sua cabeça.
Outro ponto interessante da construção da narrativa é a apresentação do futuro onde Roy se encontra. Uma versão peculiar de um “futuro distópico”, no qual viajar para a Lua é possível através de um “vôo” comercial ou o centro de pesquisa em Marte parece mais uma repartição pública e não um lugar cheio de inovações.
Contudo são nas cenas de espaço que Ad Astra mostra toda a sua qualidade técnica, principalmente no desenho de som, ao misturar o silêncio do espaço com uma trilha sonora marcante, algo bem similar a “Gravidade”. É notável como o compositor Max Richter usa o batimento cardíaco do personagem para expressar a tensão e como isso reflete também a mudança do comportamento do protagonista, que não deveria ter alterações nos batimentos.
Entretanto, após desenvolver uma história cheia de mistérios e ambição, Ad Astra – Rumo às Estrelas tem um desfecho um pouco frustrante. É difícil lidar com expectativas e James Gray não consegue atender o que ele mesmo criou. Fica um paralelo com a própria pesquisa científica, onde muitas vezes o pesquisador cria diversas teorias fascinantes e quer prová-las, mas no final consegue “apenas” descobrir que eram falsas.
Existe sempre um risco na arte e nem sempre a alegoria criada, mesmo usando um tema universal como a relação entre pai e filho, pode ter um resultado totalmente satisfatório. Muito mistério cria expectativas, quando na verdade estamos diante de uma história minimalista sobre a relação humana que é “dissolvida” pela imensidão do espaço.
Uma frase: – “Descreva da melhor forma seus estados mental e emocional atuais.”
Uma cena: A perseguição de “carros” na superfície da lua.
Uma curiosidade: Ad Astra traduzindo do latim significa “para as estrelas”, que no título em português ficou “rumo às estrelas”.
Ad Astra – Rumo às Estrelas (Ad Astra)
Direção: James Gray
Roteiro: James Gray e Ethan Gross
Elenco: Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga, Liv Tyler e Donald Sutherland
Gênero: Aventura, Drama, Mistério
Ano: 2019
Duração: 124 minutos
Infelizmente, não consegui assistir a tempo… Gosto muito do cinema de James Gray e esse seria o primeiro filme dele que eu assistiria na grande tela. Uma pena!
Concordo bastante contigo Ramon, aliás excelente crítica parabéns. Tecnicamente excelente e a metáfora para falar da relação de pai e filha é muito bem feita. Também fiquei um pouco frustado com seu desfecho porque prometia mais do que entregou.