Perfil | Potencial do cinema oriental na filmografia de Asghar Farhadi
Cidadão Kane, Forrest Gump e Cantando na chuva foram filmes produzidos por Hollywood que marcaram espectadores com seus personagens e histórias, mas se olharmos para fora de Hollywood é possível encontrar um cinema rico capaz de provocar as mesmas emoções. Diretores, roteiristas e atores de diversas nacionalidades conseguem surpreender com atuações e narrativas diferentes. Entretanto, seus trabalhos não são muito divulgados. Um deles é o do diretor e roteirista Asghar Farhadi.
Com sete filmes na sua carreira, nascido em Khomeini-Shahr no Irã, o diretor de 47 anos estreou no cinema escrevendo o roteiro de Low Heights – um longa-metragem sobre uma família iraniana que precisa sequestrar um avião para obter uma oportunidade de emprego. Já sua estreia como diretor veio com Dancing in the Dust, história de uma prostituta da região do Irã.
O primeiro grande filme de Farhadi foi The Beautiful City, que retrata a história de dois jovens que estão em uma prisão para menores de idade localizado em Shahr-e-Ziba, um bairro no noroeste de Teerã. Na época, o filme ganhou destaque internacional por trabalhar questões como implementação do código penal no país baseado no Islã.
Com seu terceiro filme, Fireworks Wednesday, sobre uma mulher que se encontra disputada pelo seu chefe e a esposa dele, Asghar conseguiu ganhar relevância. O drama venceu o festival de cinema de Chicago. Na condição de roteirista, em Canaan, Dayere Zangi, The Night, Trial on the Street, e ao escrever e dirigir About Elly, Asghar passou a chamar atenção dos críticos e espectadores em diversos festivais.
Mas, foi em 2011 com A Separação que Farhadi idealizou um de seus melhores filmes. O longa-metragem foi vencedor de vários prêmios como melhor longa estrangeiro pelo Oscar de 2012 e o Urso de ouro, “o Oscar alemão”. Com roteiro brilhante e tensão em várias sequências, o diretor reflete sobre a realidade social diante de um núcleo familiar dentro da sociedade iraniana.
Já em 2013 com O passado, Farhadi narra o conflito de um pai que, ao abandonar os filhos e a esposa, tenta se reaproximar da família. O drama reflete sobre questões amplas da moral religiosa no Irã e o espectador acaba se envolvendo com o suspense produzido por recursos como o silêncio, que ajuda a ambientar o desenvolvimento dos personagens.
Sem parar por aí, Asghar levou para casa mais um Oscar de melhor filme estrangeiro pelo seu excelentíssimo trabalho em O Apartamento que, com referências a Alfred Hitchcock, o diretor prende o espectador logo no início, ao usar sua inteligência e paixão pelo teatro no drama de um casal forçado a sair de seu apartamento que, nessa mudança, vivencia um incidente transformador. Ao longo do filme, Asghar provoca muitos questionamentos, ao mostrar a realidade e a ficção de forma incisiva, o que faz com que as horas do longa se tornem tensas – ao lado de um jogo de câmera crescente e relevante para a história.
Recentemente, o diretor esteve no Festival de Cannes com o filme Todos já Sabem, produzido por Pedro Almodóvar e elenco formado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darin. O suspense narra a história de um crime ocorrido em uma festa de casamento, quando laços familiares passam a ser testados. A interpretação dos atores e o mistério da trama despertam a curiosidade do espectador sobre os fatos mesmo com a condução lenta de Farhadi. O longa-metragem, infelizmente, não foi bem aceito pelo Festival. Entretanto, isso não desmerece o trabalho do cineasta, que vale a pena ficar de olho.