Review | Marvel – Fugitivos – 1ª Temporada

Review | Marvel – Fugitivos – 1ª Temporada

Fugitivos (Runaways) é uma adaptação da celebrada série de quadrinhos de excelente qualidade de Brian K. Vaughan (responsável também por outras pérolas como Y: The Last Man e Saga, só para citar algumas). A premissa da série em quadrinhos é simples, porém genial: um grupo de adolescentes descobre que seus pais formam um dos grupos de super-vilões mais poderosos e perigosos do mundo. Diante dessa descoberta eles se colocam em uma rota de colisão com os pais.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados na primeira temporada de Marvel – Fugitivos.

A premissa é genial pois Vaughan traduz o velho choque de gerações para a linguagem dos quadrinhos de super-heróis. Nada mais Marvel do que explorar o velho conflito entre pais e filhos no âmbito dos embates entre seres super-poderosos. O amadurecimento desses jovens e suas escolhas, divididos entre as ligações emotivas da família e a ética, e das próprias relações que forjam entre si, através da pena de Vaughan é, sem dúvida, o ponto forte da série. A série de TV, infelizmente, não consegue reproduzir essa dinâmica da mesma forma.

Não se trata de uma série de TV ruim. Muito pelo contrário. A série que leva o selo Marvel, produzida pelo canal Hulu (hoje parte da propriedade da Disney o que deve, esperemos, ajudar a série a melhorar mais ainda) está com a sua primeira temporada disponível na Netflix. A produção é competente com efeitos visuais audaciosos (os produtores tiveram a corajosa decisão de manter na adaptação Old Lace, a dinossauro de Gert que é, afinal, efetivamente um dos “poderes” da personagem). Incomodam, porém, que algumas decisões de roteiro parecem subverter uma certa coerência para mitigar a exposição da situações de super-poder na série. Não chega a ser nada absurdo e não é um artifício incomum nesse tipo de adaptação.

O maior problema da série, porém, se revela na dificuldade em contextualizar o Orgulho (ou Pride, o grupo de super-vilões formado pelos pais dos heróis da série) fora do universo das Marvel. Como a série de TV não dialoga com o universo Marvel, seria difícil apresentar um grupo de super-seres. É compreensível, assim, que o Orgulho ganhe a forma de um misto de seita com máfia dominando, nas sombras, uma comunidade, ensaiando encampando uma agenda misteriosa. Isso, porém, compromete um dos grandes charmes da criação de Vaughan que é a mencionada tradução do conflito de gerações entre pais e filhos para o embate de super-seres.

Porém, o maior problema é a escolha dos produtores da série em romper com o maniqueísmo necessário para a dinâmica de Fugitivos funcionar. A tentativa de humanizar e conferir uma certa dubiedade aos vilões – ou parte dos vilões – de Fugitivos, ironicamente, é um equívoco. No material original, propositadamente, não há muito espaço para áreas cinzentas no comportamento dos pais. E isso tem a ver com a proposta mesmo de super-vilões que, por excelência, tendem à caricatura. Nos quadrinhos, de forma muito inteligente, Vaughan opta por explorar as áreas cinzentas da narrativa pela ótica da emotividade dos personagens principais, o que suscita conflitos internos e escolhas éticas interessante em uma história de formação de identidade.

É mais ou menos como se os jovens se fizessem os seguintes questionamentos: meu pai é mal. Ponto. Vou ignorar isso nele porque ele é meu pai? Eu sou igual a ele? Vou necessariamente ser mal ou vou decidir ser mal, a despeito de minhas escolhas morais, porque meu pai ou mãe são malignos? É escolher entre família e moral. Na série de TV isso é muito atenuado na medida em que os produtores da série decidem por justificar a vilania de certos membros do Orgulho como frutos das circunstâncias. Alguns dos membros do Orgulho, particularmente os pais de Gert, podem até ser considerados pessoas legais.

Embora haja esse problema a série tem um bom elenco e funciona bem. A trama se desenvolve com um ritmo satisfatório e a primeira temporada é bem sucedida em explorar diversos arcos, apresentar desenvolvimentos, e encerrar bem a primeira temporada. Faço votos que as próximas temporadas (a segunda já está sendo veiculada no canal Hulu, mas ainda não chegou na Netflix) sejam melhores e resolvam melhor as questões aqui apontadas.



Marvel – Fugitivos – 1ª Temporada

Criado por: Josh Schwartz e Stephanie Savage
Emissora: ABC Signature Studios, Marvel Television e Fake Empire Productions, distribuído pelo HULU (nos EUA) e Netflix (no Brasil)
Elenco: Rhenzy Feliz, Lyrica Okano, Virginia Gardner, Ariela Barer, Gregg Sulkin, Allegra Acosta, Angel Parker, Ryan Sands, Annie Wersching, Kip Pardue, Ever Carradine, James Marsters, Brigid Brannagh, Kevin Weisman, Brittany Ishibashi, James Yaegashi e Julian McMahon
Ano: 2017/2018

Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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