Crítica | Intimidade Entre Estranhos

Crítica | Intimidade Entre Estranhos

Fazer um filme inspirado na música de algum artista é algo complicado, mas o diretor José Alvarenga Jr. assumiu a responsabilidade de transpor a música/disco de Frejat para o cinema. Intimidade Entre Estranhos fala sobre a amizade entre pessoas aparentemente bem diferentes, mas que descobrem ter mais em comum do que imaginavam.

A protagonista é Maria, interpretada por Rafaela Mandeli, que é carioca, mora em São Paulo, mas topou voltar para o Rio de Janeiro por causa do trabalho do marido Pedro (Milhen Cortaz). O homem está trabalhando em uma minissérie bíblica televisiva – numa clara alusão/ironia com as novelas da Record -, então passa a maior parte do tempo gravando, enquanto a mulher fica sozinha no apartamento. Além deles, o único morador do prédio é Horácio (Gabriel Contente), um jovem solitário que nunca sai de casa. Inicialmente a relação entre Horácio e Maria é altamente desagradável, contudo a solidão os aproxima.

O diretor José Alvarenga Jr. é hábil em apresentar a solidão dos personagens de forma visual. A de Maria é simbolizada pela piscina, um lugar que a mulher usa como refúgio. A fotografia explora muito bem o lugar e também a beleza de Mandeli, que é a primeira coisa que chama a atenção do solitário vizinho e explica o fascínio inicial desenvolvido pelo rapaz. Já Horácio está sempre em casa com as janelas fechadas, num lugar meio escuro, usando roupas de tons também escuros.

O roteiro de Matheus Souza constrói os personagens de maneira eficiente e durante conversas entre os dois descobrimos mais sobre seus respectivos passados e de como eles têm muito em comum graças a traumas de infância. Além disso, a história apresenta Horácio como uma pessoa que gosta de música e de como ele usa suas canções como forma de se expressar. Esse fato cria um elemento de metalinguagem em Intimidade Entre Estranhos e transforma a composição do próprio jovem na música do título, justificando de alguma forma a sua presença no filme.

A química entre Rafaela Mandeli e Gabriel Contente faz com que essa amizade inesperada pareça verossímil. Os atores são talentosos e constroem muito bem seus respectivos personagens, sem transformar suas histórias em algo melodramático demais. A emoção entre eles é apresentada na medida certa, principalmente o desenvolvimento do interesse romântico “impossível” entre os dois.

Intimidade Entre Estranhos assume sua inspiração em “Houve uma Vez um Verão” (Summer of ’42) de forma explícita ao mostrar o cartaz do filme em uma cena. O longa de 1971 também apresenta a história da amizade/amor entre um jovem e uma mulher mais velha e casada.

Sem dúvidas o filme de José Alvarenga Jr. é bem interessante, no entanto Intimidade Entre Estranhos peca um pouco no seu encerramento ao não saber bem como concluir sua história de maneira satisfatória. Ao optar por um final “fácil” o cineasta compromete um pouco sua obra cinematográfica, mas ainda sim o resultado final é positivo, principalmente graças ao elenco.


Uma frase: – Horácio: “Fiz uma música pra você.”

Uma cena: O primeiro banho de piscina de Maria.

Uma curiosidade: O filme foi selecionado para a 20ª edição do Festival do Rio e a 2ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

 


Intimidade Entre Estranhos

Direção: José Alvarenga Jr.
Roteiro:
Matheus Souza
Elenco: Rafaela Mandeli, Milhen Cortaz, Gabriel Contente, José Dumont, Giovana Lancellotti e Jayme Periard
Gênero: Drama, Música, Musical
Ano: 2018
Duração: 111 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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