Crítica | O Retorno de Mary Poppins
A Disney ressuscitou, 54 anos depois, um de seus clássicos: Mary Poppins. O diretor Rob Marshall, que tem vasta experiência em musicais como Chicago e Nine, assume o comando do longa com o objetivo de apresentar a famosa babá britânica cheia de encanto para um novo público. Mas sem dúvidas, o grande trunfo de O Retorno de Mary Poppins é a nova protagonista: Emily Blunt.
A atriz brilha como Mary Poppins e é responsável pelos melhores momentos do longa-metragem. Seu carisma e talento transbordam pela tela. É incrível como ela consegue preservar a essência da personagem construída por Julie Andrews no passado. Blunt, contudo, acrescenta um pouco de acidez à personalidade da babá, de forma a equilibrar a ironia das suas ações. A britânica não imita os trejeitos imortalizados no filme de 1964 e consegue construir Poppins à sua própria maneira.
A nova história da personagem se passa anos depois do filme original, mas continua focada na família Banks. As crianças agora são adultas. Michael (Ben Whishaw) é viúvo, pai de três filhos pequenos, que além de ter de lidar com a recente perda de sua esposa também precisa arrumar dinheiro para pagar um empréstimo feito ao banco, para não ser despejado de sua residência. Nessa jornada, ele conta com a ajuda da irmã Jane (Emily Mortimer) e, indiretamente, com o apoio da babá Mary Poppins, que retorna para o lar dos Banks para novamente resgatar a inocência e a esperança dos adultos e o afeto e a alegria das crianças.
O filme começa um pouco arrastado e até um pouco “confuso”, mas basta Mary Poppins surgir na tela que a magia aparece junto com ela. É interessante notar o uso das cores do figurino para mostrar a relação dos personagens com Poppins. Todos os integrantes da família Banks estão usando roupas verdes, com exceção do caçula Georgie (Joel Dawson) que está de azul. Enquanto Mary está todo o tempo usando azul e vermelho, em uma clara conexão inicial entre o pequeno e a babá mágica. Obviamente, ao final do longa-metragem, após todas as transformações pelas quais a família passa, observamos que todos os Banks estão usando pelo menos alguma peça de roupa azul.
A parte visual, tanto o figurino quanto a direção de arte, são realizados de maneira muito eficiente. Os cenários são bonitos e retratam bem o período em que a história se passa. São nos momentos musicais que esses detalhes técnicos chamam ainda mais atenção. A cena na qual Mary Poppins dá banho nas crianças é excelente ao apresentar o espírito de aventura e diversão proposto pela presença da personagem na vida dos pequenos. O filme também homenageia e mantém o estilo visual do longa-metragem de 1964 ao fazer uma mistura entre atores reais interagindo com personagens e cenários feitos de animação que, ao seguir a mesma proposta do trabalho feito nos anos 1960, pode ser classificado como vintage nos dias atuais.
Com relação à montagem, a escolha por longas e desnecessárias cenas musicais prejudica o ritmo do filme, tornando-o arrastado e extenso, sem utilidade. Um bom exemplo disso é a dança dos acendedores de lâmpada, onde o diretor Rob Marshall – que também assume o papel de coreografo – homenageia o sapateado dos musicais clássicos, mas prolonga o momento e transforma a cena em um momento cansativo e até mesmo confuso. Em compensação, quando o cineasta faz uma espécie de autorreferência, ao colocar Mary Poppins cantando como se estivesse no filme Chicago, ele constrói um belo instante no longa-metragem.
Durante toda a duração de O Retorno de Mary Poppins, alguns dos atores tentam brilhar – infelizmente sem sucesso – em momentos em que assumem o protagonismo como Ben Whishaw cantando sozinho no sótão de casa ou nas cenas de Lin-Manuel Miranda, como Jack, que nem mesmo dançando e cantando apresenta uma cena marcante.
A surpresa é a personagem de Meryl Streep que, mesmo com pouco tempo de tela, rouba a cena de Emily Blunt. A atriz interpreta Topsy, uma excêntrica prima de Poppins. É fantástica a cena na qual ela recebe a visita da babá com Jack e as crianças Banks. É, talvez, o único momento do filme em que o diretor Rob Marshall foge um pouco da sombra do filme de 1964 e apresenta uma passagem musical criativa, com movimentos de câmera ousados e uma performance maravilhosa de Streep.
O Retorno de Mary Poppins é muito bom em sua parte visual e tem como destaque a performance mágica de Emily Blunt como a personagem do título. No entanto, ao seguir demais a sombra do clássico da Disney, o diretor Rob Marshall não consegue fazer mais do que uma boa homenagem. O cineasta, inclusive, repete alguns dos “problemas”, principalmente na montagem, ao realizar um filme com mais de duas horas de duração, sem necessidade, que resulta numa experiência inicialmente divertida, a qual se torna cansativa no final.
Uma frase: – Mary Poppins: “Tudo é possível! Até mesmo o impossível!”
Uma cena: A visita na casa de Topsy, prima de Mary Poppins.
Uma curiosidade: Sequência do filme Mary Poppins (1964) lançada 54 anos após o original, estabelecendo um novo recorde na história do cinema de maior intervalo de diferença no lançamento entre um filme live-action e sua continuação.
O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns)
Direção: Rob Marshall
Roteiro: David Magee
Elenco: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw, Emily Mortimer, Julie Walters, Dick Van Dyke, Angela Lansbury, Colin Firth e Meryl Streep
Gênero: Comédia, Família, Fantasia
Ano: 2018
Duração: 130 minutos
Amo o “Mary Poppins” original, mas ainda não conferi esse remake. Curiosa para ver como Emily Blunt se saiu.
Gostei muito do novo filme. É mais do mesmo? É, mas com a fórmula clássica da Disney que não decepciona. Todos os principais elementos do musical original estão ali presentes. As cenas de música são perfeitamente produzidas e dirigidas. A minha favorita é a dos lumes. Emily Blunt está impecável no papel. O ator mirim que interpreta o personagem George também é encantador e arranca muitas risadas do público.