Crítica | Buscando… (Searching)
Buscando…, filme de estreia de Aneesh Chaganty, aborda o efeito da tecnologia nos dias atuais e faz um retrato impressionante da influência dela na sociedade contemporânea e nos últimos anos. Além disso, o diretor apresenta uma história criativa, cheia de mistérios e com uma narrativa impecável.
O mais impressionante do filme é que ele é todo apresentado através da tecnologia. Isto é, todas as imagens vistas nela são obtidas através de chamadas de vídeo de celular, filmagem de webcam, vídeos no YouTube e coisas do tipo. Esse estilo lembra um pouco os longas de “found footage”, onde as filmagens são feitas em uma câmera que é encontrada após os fatos apresentados. A vantagem do que é visto em Buscando… é que o roteiro se preocupa em ser coerente para justificar o que é visto na tela. O resultado impressiona pela criatividade, apesar de não ser uma novidade, já que outros longas, como Amizade Desfeita, fizeram algo similar.
O filme fala sobre o desaparecimento de Margot Kim (Michelle La), filha de David (John Cho), e a busca do pai por ela com a ajuda da detetive Rosemary Vick (Debra Messing). A relação entre pai e filha é fundamental para a narrativa, pois eles estão sempre em contato através de troca de mensagens ou telefonemas via telefone celular. Então qual seria a causa do sumiço da garota? Ela teria fugido, sido sequestrada, ou algo pior?
A história explora muito bem a investigação sobre o paradeiro de Margot, e a tecnologia é fundamental. O primeiro passo do pai é ir atrás dos amigos da filha, mas quem são eles? Através do acesso às redes sociais David descobre um lado que não conhecia da garota. O roteiro faz uma reflexão acerca do uso da tecnologia, mostrando a relação entre a superproteção dos pais, sempre querendo saber onde e o que os filhos estão fazendo, versus a representação pessoal de cada um nos sites de relacionamento. Isso quer dizer que o pai não conhece a própria filha, mesmo com tanta “proximidade”?
Um bom exemplo apresentado no filme sobre essa questão da influência da tecnologia na relação entre as pessoas é quando David questiona uma suposta amiga de Margot sobre sua filha, mas a garota responde que elas não eram muito próximas. Porém, quando o caso do desaparecimento ganha grandes proporções na mídia, vemos um vídeo da moça emocionada contando o quanto elas eram melhores amigas e dela estar triste com a situação.
O roteiro, escrito pelo diretor junto com Sev Ohanian, pega uma história relativamente simples e explora diversas questões relacionadas ao uso da tecnologia e suas influências nas relações humanas, e como estas mudaram totalmente. Além disso, apresenta e desenvolve muito bem os personagens e a maneira como a investigação evolui.
Para isso funcionar o elenco é importante, e John Cho surpreende com muito talento e carisma. O ator constrói David de forma intensa e verossímil, mostrando um pai determinado a fazer de tudo para encontrar a sua filha. Debra Messing também está muito bem e a sua detetive Rosemary Vick fica no equilíbrio entre o lado familiar da família Kim e sua experiência como policial em casos desse tipo, levantando todas as possibilidades.
No entanto, o grande diferencial de Buscando… está em sua parte visual. O recurso narrativo de utilizar a tecnologia como forma de apresentar a história é fantástico. O início do longa mostra a evolução do uso dos computadores pela família Kim e como a informática está presente no dia a dia de forma cada vez mais constante. A representação dos computadores, sistemas operacionais, programas e sites é bem interessante, principalmente que uma boa parte das conversas é feita através de troca de mensagens de texto. É interessante notar que as mensagens e imagens nas telas das máquinas e celulares são apresentadas em português, o que facilita acompanhar a história. Afinal de contas, assim como a velocidade da informação, o ritmo do filme é bem rápido e dinâmico.
Sem dúvidas Buscando… é um dos melhores e mais interessante filme dos últimos anos. O longa do diretor Aneesh Chaganty capta de forma impressionante o impacto da tecnologia na sociedade atual. Através dela ele conta uma história simples e cheia de mistérios, capaz de prender a atenção do espectador durante toda a sua duração, com algumas surpresas e muita emoção.
Uma frase: – David: “Ela tem amigos, né?”
Uma cena: O jantar entre David e seu irmão Peter.
Uma curiosidade: O filme teve apenas 13 dias de filmagem. Contudo, levou 2 anos para ser realizado graças a preparação, montagem e animação. Todos os sistemas operacionais dos computadores, programas e os websites (a maioria) foram recriados do zero e feitos em animação no computador.
Buscando… (Searching)
Direção: Aneesh Chaganty
Roteiro: Aneesh Chaganty e Sev Ohanian
Elenco: John Cho, Michelle La, Debra Messing, Sara Sohn e Joseph Lee
Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Ano: 2018
Duração: 102 minutos
Gostei muito também do filme, acho que sua crítica justifica demais o que ele representa em si e digo, fui ver apenas por sua causa. Não me arrependi.
A forma como ela conversa sobre a influência da tecnologia em nossas relações no mundo atual é muito contundente e acertada, principalmente pela forma que a narrativa é apresentada (como você descreveu em sua crítica).