Crítica | Corra! (Get Out)

Crítica | Corra! (Get Out)

Um homem negro está indo conhecer os pais da namorada branca, mas ao chegar na casa deles sente que tem algo de errado. Será que é só impressão, medo de sofrer preconceito, ou realmente tem algo de estranho acontecendo no local? “Corra!” mostra uma situação aparentemente cotidiana, mas com um tom de mistério e suspense.

Rose Armitage (Allison Williams), namorada de Chris Washington (Daniel Kaluuya), avisa ao rapaz que seus pais são tranquilos em relação a questão racial. Dessa forma, a mulher não vê necessidade em contar a eles antecipadamente que o seu namorado é negro. Ao chegar na casa da família Armitage, a primeira coisa que o rapaz observa é o caseiro, um homem negro. Em seguida, após ser bem recebido por Missy (Catherine Keener) e Dean Armitage (Bradley Whitford), outro detalha chama a sua atenção: uma empregada negra. Será que a família enxerga os negros apenas como empregados? Não existe nada de errado em ter funcionários afro-americanos, mas o comportamento deles é meio peculiar.

Por coincidência, nesse mesmo final de semana acontece uma tradicional festa da família Armitage. Chris fica ainda mais nervoso por estar em meio a tantos brancos. Durante o evento ele encontra outro negro, mas homem não se veste e nem se comporta como alguém da mesma raça e idade do protagonista. Além disso, ele parece ser alguém familiar para Chris. Obviamente que o rapaz estranha o comportamento, mas esse parece ser apenas mais um fato inusitado durante sua estadia na casa dos pais da namorada. A certeza surge apenas quando Washington tenta tirar uma foto do homem e o flash da câmera o faz “despertar” de algum tipo de transe, que o faz virar para Chris e dizer: “corra!”.

Por que correr? O que será que os Armitage estão fazendo com os negros? E sim, por que pessoas da raça negra? Será apenas preconceito ou existe algo a mais por trás disso. Será que Rose também está envolvida? Esses são alguns dos questionamentos que Chris se faz enquanto tenta entender o motivo do comportamento estranho dessas pessoas.

O filme de Jordan Peele não tenta fazer muito mistério sobre ter algo de errado no lugar. A questão é descobrir exatamente o que é e também quem está envolvido. A história segue um caminho um pouco óbvio, mas a narrativa é bem construída pelo roteiro, escrito também por Peele, apresentando detalhes sobre os personagens que são bem aproveitados pela trama sem parecerem gratuitos.

No meio da tensão e do suspense, o personagem Rod Williams – interpretado por Lil Rel Howery – surge como alívio cômico à história. Ele é o melhor amigo de Chris e o alerta sobre o “perigo”, quando o rapaz diz que está indo visitar os pais brancos da namorada. Claro que ele está se referindo ao preconceito, mas seu questionamento ironicamente se torna algo muito real e mais assustador do que ele poderia imaginar.

Corra!” faz uma alegoria bem interessante a respeito do preconceito. Mesmo em 2017 a questão racial ainda é algo que incomoda, então a preocupação do protagonista é pertinente. A história vai por um caminho mais literal e transforma essa hesitação em algo que ele deve temer por aos poucos perceber que está em uma real situação de perigo. Talvez o filme pudesse ser um pouco mais sútil na sua mensagem, no entanto a idéia de fazer a história de um homem negro literalmente com medo de pessoas brancas também é muito boa. Um suspense competente, acima da média, com ótimas atuações e um clima de tensão que vai crescendo de forma gradativa.


Uma frase: – Chris: “Eu fico nervoso em meio a tantos brancos.”

Uma cena: Chris sendo hipnotizado por Missy Armitage.

Uma curiosidade: Jordan Peele se inspirou em Eddie Murphy para escrever o filme. Durante um show de comédia stand-up, Murphy falou sobre ir visitar os pais brancos de uma namorada.

 


Corra! (Get Out)

Direção: Jordan Peele
Roteiro: Jordan Peele

Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Lil Rel Howery, Bradley Whitford, Caleb Landry Jones, Stephen Root e Catherine Keener
Gênero: Horror, Mistério
Ano: 2017
Duração: 103 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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