Crítica | Uma Loucura de Mulher

Crítica | Uma Loucura de Mulher

É muito bom ver um filme protagonizado por uma mulher, principalmente no cinema brasileiro. Entretanto, em “Uma Loucura de Mulher” talvez a visão feminina mostrada seja um pouco antiquada e conservadora. Ou pode ser apenas a forma como a mulher seja, de fato, vista no Brasil. Aqui, cai como uma luva a referência polêmica de “bela, recatada e do lar” feita pela revista VEJA para descrever a atual primeira-dama, Marcela Temer.

Lúcia (Mariana Ximenes) é uma mulher que abriu mão dos próprios sonhos para se tornar esposa de um deputado. Gero (Bruno Garcia), o parlamentar, decide concorrer para o cargo de governador, mas depende do apoio de Waldomiro (Luís Carlos Miele), um importante senador. Durante uma festa oferecida por Gero para lançar sua candidatura, o deputado insiste para que esposa dance para Waldomiro – ela havia sido bailarina antes do casamento. A cena é, sem dúvida, o melhor momento do filme. O senador, porém, faz uma piada machista a qual Lúcia responde com um bom tapa na cara. Para se livrar do escândalo, Gero, orientado pelo assessor, afirma que a esposa enlouqueceu e será internada. Indignada, Lúcia foge para o Rio de Janeiro, sua cidade natal. Lá, ela tentará encontrar – enquanto resgata lembranças do passado – uma resposta para seus problemas.

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A abertura do longa metragem é uma animação com inspiração nas décadas de 1950 e 1960. Talvez essa tenha sido a referência do diretor estreante, Marcus Ligocki Júnior, ao realizar o filme. Ele também é o roteirista, juntamente com Angélica Lopes e Kirsten Carthew. O título, ao se referir à personagem feminina como louca, pode gerar um certo mal estar e já diz o que esperar da filmagem. Afinal, nem a protagonista, nem tampouco qualquer outra mulher, gosta de ser chamada de maluca, especialmente sem motivo algum. Se um homem grita ou perde o controle, é visto de forma positiva e, provavelmente, até aplaudido. Já as mulheres, são expostas como descontroladas e loucas.

Nossa protagonista se mostra cansada da vida que leva e está disposta a mudar, principalmente quando lembra que abriu mão da dança – seu sonho – por um casamento. Se isso tivesse sido melhor explorado no roteiro, talvez o filme pudesse ser mais interessante. Potencial ele tinha, pois a premissa era boa. A parte política, entretanto, foi abordada bem superficialmente. A mistura entre casamento, política e traição poderia ter sido utilizada de maneira mais inteligente. Além disso, o tom do filme fica meio perdido em alguns momentos, sem se definir como dramático ou como comédia leve e romântica.

O principal problema é que o filme deveria ser mais engraçado. Algumas piadas físicas simplesmente não funcionam. Mas, ao menos o roteiro não descamba tanto para piadas mais “popularescas”. Para compensar, a produção aposta em trilha sonora recheada de funk carioca. Nisso também ele tinha potencial para ser melhor. Os personagens secundários acabam roubando a cena da protagonista na maior parte do tempo. Miá Mello, Zéu Brito e Guida Viana tem as melhores piadas. Nem mesmo o carisma de Mariana Ximenes consegue fazer com que ela seja engraçada como deveria.

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A parte técnica do filme é muito boa. A fotografia, de André Carvalheira, capta belas imagens, tanto de Brasília quanto do Rio de Janeiro, e explora muito bem os clichês de ambas as cidades. O filme parece tentar compensar o roteiro conservador com a direção técnica. Há bons ângulos e ótimos movimentos de câmera. Porém, há algumas falhas na montagem de Marcelo Moraes que, algumas vezes, pula de uma cena para outra de maneira um pouco abrupta.

Em resumo, “Uma Loucura de Mulhertinha potencial para ter um resultado muito melhor, mas erra ao percorrer um caminho mais tradicional, conservador e seguro, sem conseguir ser tão engraçado quanto poderia ser. Esse é, sem dúvidas, o principal problema. Um bom elenco e uma boa parte técnica não conseguem compensar um roteiro bastante irregular. Mas, o diretor Marcus Ligocki Júnior mostra que tem algum talento. Quem sabe ele consiga realizar algo mais positivo em sua próxima produção.

* Texto revisado por Elaine Andrade


Uma frase: Lúcia: “Ele está me chamando de louca em rede nacional!”.

Uma cena: A dança entre o Senador Waldomiro (Luís Carlos Miele) e Lúcia (Mariana Ximenes).

Uma curiosidade: Esse é o primeiro filme do diretor Marcus Ligocki Júnior.

 

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uma-loucura-de-mulher-cartazUma Loucura de Mulher

Direção: Marcus Ligocki Júnior
Roteiro: Angélica Lopes, Kirsten Carthew e Marcus Ligocki Júnior
Elenco: Mariana Ximenes, Bruno Garcia, Sérgio Guizé, Miá Mello, Guida Viana, Luís Carlos Miele, Augusto Madeira, Erom Cordeiro, Zéu Brito e Ildi Silva.
Gênero: Comédia
Ano: 2016
Duração: 100 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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