A Nostalgia Era Melhor Antigamente: Caverna do Dragão – O Filho do Astrólogo
Ah, Caverna do Dragão! Um dos melhores desenhos dos anos 80 e que provavelmente nunca será adaptado para o cinema porque o nome original (Dungeons and Dragons) já foi utilizado naquele aborto estrelado por Jeremy Irons e por aquele cara d’As Branquelas.
Sinto muito por lhe fazer lembrar disso, eu sei que ainda dói.
Mas o desenho? Ah, o desenho era fantástico! Tinha um pouco de tudo: ação, comédia, romance e personagens completamente estúpidos, como veremos hoje na análise do excelente oitavo episódio da segunda temporada, intitulado…
O Filho do Astrólogo
Direção: John Gibbs
Roteiro: Michael Reaves
Nota: registro aqui meu agradecimento a Augusto Seoni e Rafael Saldanha, pois a ideia de comentar esse episódio veio de uma troca de tuítes entre eles. Valeu, Angolano! Valeu, Saldanha!
A história começa com um raro momento de tranquilidade para nossos heróis. Hank, Sheila, Eric e Bobby dormem, Presto brinca com flores e Diana cantarola a trilha sonora do próprio desenho, o que nos permite concluir que ela o assistia em outro lugar que não o programa da Xuxa, já que a Globo sempre cortava a abertura.
Depois desse incrível momento metalinguístico, o grupo é surpreendido por uma estranha movimentação em uma moita próxima. Alertas, eles se aproximam para investigar, mas não se trata de nenhuma ameaça, e sim um rapaz com um mullet ridículo que provavelmente estava há muitas horas escondido dentro do arbusto minúsculo, já que ninguém havia percebido sua presença até então.
Corta para um castelo e nós temos o primeiro contato com a cidade de Torad, que é governada há mil anos pela Rainha Syrith — a qual aparentemente é meio demônio ou precisa urgentemente consultar um dermatologista.
Syrith está enquadrando o Rei Travar, pois ele supostamente teria permitido que fugisse da masmorra o sujeito que, segundo uma antiga profecia, conseguiria derrotá-la e acabar com seu reinado de horror.
Essa parte, preciso confessar, não compreendi muito bem. A rainha está no trono há mil anos e só pode ser destronada pelo cumprimento da profecia. Então para que raios ela precisa de um rei, ainda mais um que é claramente da oposição?
O Rei Travar não é nenhum mancebo, mas não me parece que ele tenha mil anos de idade. Então a cada geração ela vai repondo, colocando outro inútil no trono, é isso? A política da cidade de Torad é mais complexa que a do Brasil, vou te dizer.
Voltando aos protagonistas, descobrimos que o nome do rapaz do mullet é Kosar. Ele já está bem mais recomposto, de alguma forma a sua roupa que estava completamente rasgada e amassada foi totalmente reconstituída, mas ninguém fala nada sobre ferro ou agulha; ele agradece a Presto apenas por ter tirado do chapéu um barbeador elétrico e, presumo, a usina elétrica que o fez funcionar.
Ficamos sabendo também no que consiste a tal profecia: o reino de terror de Syrith será encerrado quando, no dia da chuva de estrelas, o filho do “contemplador dos astros” que vem de uma terra distante entrar no Templo da Luz e banir o demônio. Como Kosar preenche os requisitos (e presumivelmente abriu a boca e saiu contando vantagem sobre isso para todo mundo), a rainha decidiu prendê-lo na masmorra por dez anos.
Já que ninguém faz nada de graça nessa vida, o Mestre dos Magos informa os garotos que, ajudando Kosar, eles verão o caminho para casa — e mesmo este sendo o oitavo episódio da segunda temporada, eles continuam caindo nesse papinho e não questionam por que ele falou “verão o caminho” em vez de “irão para casa”. Mas estou me antecipando.
A conversa é interrompida subitamente, porque o grupo é atacado pelos guardas de Torad montados em morcegos gigantes. É hora dos nossos heróis mostrarem suas espantosas habilidades!
Diana consegue derrubar um dos atacantes na água, mas acaba trombando com Kosar e caindo no chão. Muito embora eles ainda estejam sendo atacados, os dois acham muita graça daquilo tudo. Os demais se juntam a eles no bate papo, meio que ignorando os cavaleiros de morcego (morcegueiros?) com pontaria de stormtrooper.
Os morcegueiros, sentindo-se meio humilhadinhos por serem tão sumariamente ignorados, resolvem ir embora. Já dizia minha mãe, quando sete não querem, treze não brigam.
Assim, mesmo sob protestos de Kosar, o grupo decide rumar para Torad e resolver esse problema com demônios que eles têm por lá. Bobby, que tem o foco e a atenção de… bem, de um moleque da idade dele mesmo, pelo visto esqueceu que já havia sido comentado que a rainha prendeu Kosar por dez anos e diz que ela provavelmente vai agradecê-los por livrar a cidade do demônio.
Kosar então revela — de novo — que a própria rainha é o demônio! Todos, sem exceção, ficam surpresos, o que me faz concluir que estou sendo injusto com Bobby: o grupo inteiro tem memória de peixinho dourado e QI de ostra.
Corta mais uma vez para a cidade de Torad, quando vemos o Rei Travar discutindo com o Príncipe Droga (o brasileiro que escolhia nomes para George Lucas deve ter trabalhado nesse episódio) sobre formas de abrir o templo para que a profecia se cumpra.
Mas o Príncipe Droga não quer esperar! Pouco importa que ainda faltem horas para a tal chuva de estrelas, pouco importa que ele não faça ideia de onde está Kosar, ele quer abrir o portão imediatamente! Como alguma coisa na água do mundo de Caverna do Dragão faz com que todo mundo seja meio tapado, ele decide que o imenso portão do templo cederá se ele o atacar com… uma espada. Não um machado, não uma marreta.
Uma espada.
Como esse plano sagaz dá o resultado esperado (spoiler: nenhum), a história corta mais uma vez para o núcleo dos protagonistas, que estão a caminho da cidade de Torad. É nesse momento que ocorre a cena que eu reputo como a mais bizarra do episódio, quiçá de toda a série:
Caminhando com o grupo, vemos apenas Hank, Sheila, Bobby, Presto e Eric. Percebendo as ausências, Sheila resolve entrar na semana dos outros e perguntar onde foi parar Kosar. Eric então responde “lá atrás, com Diana, namorando“.
Até aí, nada demais. Os dois são jovens, na flor da idade, hormônios a mil. Não é nada além do esperado.
Mas aí Bobby resolve perguntar onde está Uni, ao que Eric responde “lá atrás, com Kosar, namorando“.
Aí eu já acho que eles cruzaram uma linha meio complicada. Tudo bem, compreendo que Kosar passou dez anos na masmorra e deve estar num atraso inacreditável, mas ménage à trois com bestialismo talvez seja um pouco demais na minha opinião de velho careta.
Bobby então decide incutir um pouco de moralidade no grupo e chama por Uni. Achando que as coisas não estão bizarras o suficiente, Eric faz a sua melhor cara de maníaco sexual e diz que é melhor Bobby ir se acostumando.
Estaria Eric insinuando que Bobby e Uni são mais íntimos do que deveriam? Kosar vai usar o barbeador elétrico que não depende de eletricidade para cortar seu mullet ridículo? O rei Travar usa a coroa para esconder a calvície? Não perca a continuação da nossa análise na semana que vem!
Atualização: a continuação já está no ar, clique aqui e seja feliz.
hahahahahha ri demais man, espetacular.
Eu ainda acho que a gente deveria encerrar a POCILGA e manter apenas estes seus posts. Melhor coluna
Muito boa a analise,rsrsrsrs
Valeu! Segunda feira que vem sai a segunda parte da análise.
Sensacional! Melhor que isso só se a gente fosse assistindo o episódio com você pausando e fazendo os comentários (risos).
Que nada, pessoal me xinga e joga pipoca em mim quando eu tento fazer isso.
Ótimo texto, só senti falta da piada envolvendo o Rei Travar e o Windows ME. No aguardo da parte 2.
Podia também ter uma piada com o rei Travar o dedo da rainha demônio.
Sensacional kkkkk Invejo sua criatividade cara, muito bom mesmo!