Crítica |Presságios de um Crime (Solace, 2015)
O diretor brasileiro Afonso Poyart se tornou conhecido do grande público do cinema nacional pelo ótimo 2 Coelhos (2012). Logo seu jeito estiloso de filmar e sua boa condução da história chamaram a atenção de Hollywood e Poyart foi anunciado como o diretor de um filme de mistério e suspense com a presença de ninguém menos do que Sir Anthony Hopkins no elenco.
Claro, não é a primeira vez que um diretor brasileiro faz seu debut em Hollywood, mas sempre atrai nossa atenção quando um compatriota se aventura nas terras do Tio Sam , principalmente na disputada indústria do cinema. Sempre torcemos para que ele faça bonito, e acima de tudo é isso que nos atrai para os trabalhos desses artistas lá. Poyart, felizmente não faz feio e consegue produzir um filme bastante interessante e bem resolvido, a partir de um roteiro razoável e extraindo ainda também boas atuações dos atores, acima da média até do que o gênero costuma exigir.
Presságios de um Crime é anunciada como uma fita de mistério e suspense, daquelas que conhecemos bem e que envolve a caça de um psicopata e o FBI pedindo ajuda a um consultor externo que possui certas habilidades que classificaríamos como paranormais. Nada de muito inovador, então. Ainda assim Poyart opta por apresentar- na medida do possível – os dramas dos personagens principais, dando uma camada a mais à película que, ainda que não possa ser exatamente classificada de profunda, ainda é bastante incomum no gênero que esta explora.
Claro que desde o título original em inglês, passando pela linha principal e o questionamento moral de fundo entabulado, fica sugerido que o roteiro desde o princípio parece se esforçar em sair do lugar comum dos filmes de mistério. O título em português, como de praxe, deve, infelizmente, induzir audiências ao erro. Solace (ou alívio, conforto, na tradução mais aproximada), me parece um título muito mais feliz e que diz muito mais, com genuína franqueza e até uma certa singeleza mórbida, acerca da história que se pretende contar.
O roteiro tem também algumas ideias interessantes, e pequenas virada que fogem um pouco do previsível e cria um jogo interessante quando coloca dois personagens em lados opostos com habilidades similares e experiências pessoais também, separados apenas por uma escolha moral. Poyart dá conta de imprimir um bom ritmo ao filme, e lançando mão de bons recursos narrativos visuais (assim como em Dois Coelhos) explorar os jogos de probabilidades e de antecipação dos personagens principais, conseguindo assim conferir bastante clareza a uma história que poderia ficar confusa nas mãos de outro diretor.
Enfim, não é o caso de prestar apenas um serviço patriótico e assistir ao filme apenas por se tratar de um trabalho de um cineasta brasileiro. Embora não possua o mesmo vigor e inventividade de Dois Coelhos, Presságios de um Crime – dentro das bem conhecidas imposições e restrições impostas a roteiristas e diretores pelos produtores da indústria de Hollywood – é uma grande prova de que um bom diretor pode fazer a diferença entre um peça absolutamente medíocre e insossa, e algo que ao menos é capaz de nos conceder algumas horas de entretenimento legítimo e assim sustentar-se, dentro de suas limitações, por conta própria.
Uma frase: Às vezes, os maiores atos de amor são os atos mais difíceis de se cometer.
Uma cena: Uma ótima perseguição entre pessoas com poderes paranormais.
Uma curiosidade: O script para este filme foi originalmente adiquirido pela New Line Cinema , com a intenção de reescrevê-lo como uma seqüência de Se7en: Os Sete Crimes Capitais (1995), e recebeu provisoriamente o título de Ei8ht. O personagem principal deveria ser detetive William Somerset (Morgan Freeman) que teria adquirido poderes psíquicos. Esta ideia foi abandonada depois que o diretor David Fincher de Se7en reagiu negativamente à ideia.
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Presságios de um Crime (Solace)
Direção: Afonso Poyart
Roteiro: Sean Bailey, Ted Griffin
Elenco: Jeffrey Dean Morgan, Colin Farrell, Abbie Cornish e Anthony Hopkins.
Gênero: Crime, Mistério, Drama.
Ano: 2015
Duração: 101 min.
Graus de KB: 2- Anthony Hopkins atuou em Dragão Vermelho (2002) ao lado de Mary-Louise Parker que esteve em R.I.P.D. – Agentes do Além (2013) com Kevin Bacon.
Eu achei o trailer meio estranho, mas to curioso em assistir esse filme principalmente pelo comando do diretor brasileiro.
Pra mim a cena final do acidente de carro foi a melhor. Tomei um susto genuíno! hehehehe