A Nostalgia Era Melhor Antigamente: O Inferno de Noturno
Seja bem vindo à coluna A Nostalgia era Melhor Antigamente, na qual eu covardemente analiso histórias escritas em outro contexto e aponto incongruências inaceitáveis em gibis sobre inferno falso e incesto verdadeiro.
No episódio de hoje descobriremos que os anos oitenta eram bem mais tolerantes com relacionamentos pouco ortodoxos, que os castigos maternos eram bem mais severos que hoje em dia e, acima de tudo, que Colossus é um tremendo imbecil.
O Inferno de Noturno
Roteiro: Chris Claremont
Arte: John Romita Jr.
Arte-final: Bob McLeod
Cores: Glynis Wein
Lançado no Brasil como parte do encadernado Dias de um Futuro Esquecido, Editora Panini (originalmente publicada no Brasil em Superaventuras Marvel 35, Editora Abril)
Nossa história começa com a festa de aniversário surpresa do personagem que aproveitou a saída do Fera para entrar nos X-Men pela cota para membros azuis, a qual tem apenas cinco convidados, mas uma notável quantidade de caixas de presente.
Tudo bem que Wolverine não queira cantar parabéns, é direito dele, mas custava pelo menos bater palmas para acompanhar? Aliás, por que só Kitty parece estar batendo palmas? Não quero soar racista, mas essa festa de aniversário mutante é meio esquisita, em vez de bater palmas o povo fica estendendo o braço para o lado, parecendo modelo em stand no salão do automóvel.
Mas o importante é que o aniversariante ficou feliz com o gesto e parece genuinamente surpreso, não tendo desconfiado nem por um momento que havia algo de estranho em escolherem o demônio azul com orelhas de elfo e rabo para resolver assuntos (presumivelmente) fora de casa.
Se bem que essa felicidade deve ter diminuído um pouco quando ele abriu os presentes e percebeu que quantidade não quer dizer qualidade. Além de uma camisa amarela de bolinhas estilo Zé Bonitinho, Noturno ganhou halteres, binóculos e… um porta-retratos gigante com a foto de Wolverine.
Aliás, falando no carcaju, que diabo é isso que ele está comendo? Pô, Wolverine, tudo bem que o Universo Marvel tem a Terra Selvagem e eu sei que é uma ocasião especial, mas acho vacilo você matar um bicho já extinto só para servir coxa de brontossauro no aniversário do seu amigo.
De todo modo, não há tempo para lamentar nem arrumar amigos melhores, pois o último dos “presentes” é na verdade uma armadilha que explode bem na cara do nosso herói!
Por sinal, eu preciso enfatizar isso: algum vilão teve o cuidado de esculpir uma delicada estátua de cristal, embrulhar numa caixa de presentes, de alguma forma entrar na Escola Xavier sem ser notado e colocá-la junto às demais lembranças. Há que se admirar o comprometimento desse cara com os detalhes.
Depois da explosão, Kurt é levado às pressas para a enfermaria da escola em vez de, sei lá, um hospital, mas acaba não resistindo, o que não deveria ser surpresa nenhuma já que seu atendimento foi feito por duas pessoas sem qualquer treinamento médico.
Contudo, convencido que a morte de Noturno tem algo de místico, o Professor Xavier pede ajuda ao Dr. Estranho, que por acaso ocorria de estar passando ali pela vizinhança e assim consegue chegar rapidamente.
Após examinar o X-Man, Dr. Estranho conclui que o diagnóstico dado por dois completos amadores na medicina estava surpreendentemente incorreto, pois Noturno está vivo, ainda que num estado de animação suspensa pois sua alma foi separada do corpo.
Porém, logo depois de finalmente ouvirmos a opinião de alguém com algum conhecimento médico, a enfermaria da Escola Xavier é invadida por uma entidade que se apresenta como “Margali dos Ventos Uivantes“, que ataca Dr. Estranho, Tempestade, Wolverine e Colossus e os leva para a dimensão onde a alma de Noturno está aprisionada.
Essa dimensão nada mais é do que uma forma pouco sutil do roteirista Chris Claremont nos mostrar que leu A Divina Comédia, jogando os X-Men num Inferno de Dante com menos rimas e celebridades italianas do Século XIV:
Mas, numa boa, não consigo compreender o espanto do Dr. Estranho. Quero dizer, eu provavelmente ficaria bem assustado se fosse teletransportado para uma dimensão infernal imaginada por um escritor da idade média, mas sou apenas um barnabé soteropolitano. Stephen Strange é o mago supremo da Terra, esse tipo de coisa é só mais uma terça-feira para ele.
De minha parte, acho que ele deveria ficar bem mais admirado com o fato de os X-Men irem a uma festa de aniversário com uniformes por baixo das roupas comuns:
Finalmente, os mutantes são recebidos pelo guardião do portão do inferno, Minós, que explica que Noturno deve ser castigado por infringir as leis morais, sem contudo explicitar quais são os seus pecados.
Noturno é enviado por Minós ao Segundo Círculo do Inferno, destinado aos pecadores que sucumbem à luxúria e prazeres da carne — e é lógico que eu sei disso graças à minha vasta cultura, e não porque acabei de olhar na Wikipedia [citation needed].
Tempestade consegue salvar Noturno, mas acaba ela mesma indo parar nas profundezas do inferno, de modo que os outros têm que ir ao seu resgate — obviamente passando por vários círculos para que o roteirista possa desfilar seus conhecimentos literários pré-Google.
Finalmente, os X-Men e Dr. Estranho salvam Tempestade e chegam ao final das profundezas infernais, que na verdade não passam de uma dimensão criada por Margali para punir Noturno, seu filho adotivo, pelo suposto assassinato do próprio irmão. Parece-me um pouco exagerado criar uma réplica em tamanho real do inferno para castigar uma única pessoa, mas talvez ela tenha cansado de esperar na fila do Ministério Público.
Quem intercede a favor de Noturno é sua também irmã adotiva Jimaine, que tenta explicar o mal entendido à mãe, mas acaba sendo transformada por ela em uma estátua de gelo.
Mesmo assim, toda a história consegue ser esclarecida e Kurt é perdoado por uma tecnicalidade jurídica (lembre-se que eles estão no inferno, tem muito advogado por lá), sendo devolvido à escola Xavier junto com os outros X-Men, Dr. Estranho e Jimaine.
E aí as coisas ficam realmente estranhas (até aqui, tudo normal), porque a irmã do mutante revela ter passado os últimos meses disfarçada como sua amante:
Noturno é basicamente um hipster do incesto, já pegava a própria irmã muito antes de Jaime e Cersei Lannister criarem a modinha.
Se bem que não dá para culpá-lo, não é? É mais ou menos a situação Luke Skywalker, ele não fazia ideia que estava pegando a própria irmã, coitado. Tenho certeza que agora, estando cientes disso, os dois vão fazer a coisa certa e dar um fim a essa relação incestuosa.
velho, parabéns. Espetacular. Rindo demais.
Acho inclusive que essa história deveria ser reescrita com comentários do “leitor”, que no caso seria você Lionel hahahaa
Hahahaha, valeu. Vou ver se Chris Claremont está no Twitter e farei essa proposta indecorosa para ele.
Rapaz, essa “análise”, ou melhor, HQ comentada, ficou sensacional.
Acho que ainda da tempo da gente transformar o site em comédia, tem mais potencial.
aahaahahahah
Valeu!
Cara, essa análise foi sensacional! kkkk Parabéns, eu ri muito! Tô louco pra saber qual outra história será vítima dessa “análise ferrenha e esmiuçada da obra” kkkk
Valeu, meu velho! A próxima rodada já está no forno!
Ficou bem legal mesmo Lionel. Parabéns!
Obrigado!
E o que é pior…o incesto continuou! E a galera acha que a coisa tá feia hoje. KKK.