Review | A Maldição da Residência Hill – 1ª Temporada

Review | A Maldição da Residência Hill – 1ª Temporada

A série da Netflix A Maldição da Residência Hill é essencialmente uma história sobre uma casa mal assombrada. No entanto, não é possível definir o seriado de forma tão simplista. Criada por Mike Flanagan e inspirada no livro de Shirley Jackson, o programa televisivo impressiona em seus 10 episódios com uma história fascinante, personagens bem construídos e um primor técnico. O próprio Flanagan dirigiu todos eles e dessa forma conseguiu manter a lógica visual e narrativa durante a temporada. É interessante a imersão dentro da história da família Crain e como de forma sutil o espectador é induzido a sentir o drama dos personagens. Estamos diante de uma obra de terror, mas que não está interessada em sustos fáceis. A idéia é criar um clima de conexão com a trama e dessa forma sentir o medo e a tensão de forma irracional, da mesma forma que os envolvidos na tela.

Nas palavras de Steven Crain (Michiel Huisman), que de certa forma é o protagonista da série: “Medo. O medo é o abandono da lógica. O abandono voluntário dos padrões racionais. Nós cedemos a ele ou o combatemos. Mas não existe meio-termo.”. E A Maldição da Residência Hill explora esse conceito de forma excelente.

[button-red url=”#” target=”_self” position=””]Aviso de SPOILERS[/button-red]

Os comentários a seguir falam sobre acontecimentos narrados na primeira temporada de A Maldição da Residência Hill.

A história gira em torno da família Crain e os acompanhamos em um momento no presente e outro no passado. O casal Olivia e Hugh tem cinco filhos: o mais velho e já citado é Steven, Shirley, Theodora “Theo”, e os gêmeos Luke e Eleanor “Nell”. O casal vive de comprar uma casa, reformá-la e depois vendê-la. Durante a reforma eles moram no local, enquanto alternam o serviço com o cuidado dos filhos. Isso é mostrado em flashbacks, enquanto no tempo presente vemos como eles estão, principalmente os filhos já adultos e de como o que ocorreu na Residência Hill do título os afetou.

A Maldição da Residência Hill, foto

Os primeiros cinco episódios seguem o mesmo formato, com cada um deles focado em um dos irmãos Crain. A montagem alterna entre as linhas temporais, criando uma rima visual entre elas bem interessante. O 2º, chamado “Caixão aberto”, centrado em Shirley, é o que faz isso com maior louvor. A mulher se tornou dona de uma funerária, então a história faz a conexão entre sua dificuldade em lidar com o enterro da mãe quando era criança, com a naturalidade que ela lida com a morte no tempo presente.

No entanto, é no 1º “Steven vê um fantasma” que a série apresenta toda a sua lógica narrativa quando, através do ponto de vista do protagonista, o espectador é levado encarar o medo e as alucinações dos personagens de forma racional. Como ele mesmo diz, os fenômenos sobrenaturais só têm esse nome porque ainda não foi encontrada uma explicação natural para isso. E outro ponto fundamental da narrativa é apresentado: o fato de que ele escreveu um livro, que virou um sucesso, contando o que ocorreu quando ele era criança na Residência Hill. Contudo, sua visão é que tudo aquilo não foi real, só que afetou totalmente a família Crain.

O roteiro de todos os episódio explora muito bem o drama dos personagens, utilizando acertadamente simbolismos e metáforas para demonstrar como os seres humanos lidam com os mais diversos tipos de medos, a relação com a culpa, desejos e, principalmente, a morte. Esse tema é clichê em produções de terror, mas A Maldição da Residência Hill sabe bem o explorar. A série usa um tom que tem sido visto no gênero, como em A Bruxa, em focar mais no drama dos personagens, de maneira mais verossímil, onde eles se questionam se as alucinações não seriam simplesmente um sinal de que estão perdendo o controle dos seus próprios sentidos e sentimentos.

A série também surpreende em sua parte técnica. O design de produção é incrível, principalmente dentro da Residência Hill. A resposta sobre o significado do quarto vermelho, apresentada no último episódio, é um bom exemplo de como o seriado se preocupou em mostrar uma lógica visual e que tudo faz sentido no final. Os efeitos visuais também têm muita qualidade, sempre bem realizados. A trilha sonora dos The Newton Brothers também é excelente e a mistura entre tons minimalistas com outros grandiosos e tensos ajudam a intensificar o sentimento apresentado na tela.

A Maldição da Residência Hill, foto

A montagem já citada, aliada à fotografia, também se destaca pela qualidade. O episódio 6 “Duas tempestades” é bom exemplo de como esses elementos funcionam juntos. Temos alguns momentos filmados no mesmo plano-sequência, e é fascinante quando o pai chega para o funeral da filha, primeiro ele vê os filhos em sua versão adulta, mas após a câmera o mostrar e retornar para eles, os vemos crianças. Isso mostra o quanto o pai ainda sofre para vê-los no momento presente. Em outra cena, quando Nell caminha por dentro da funerária da casa da irmã e vai parar de volta na residência Hill, também fica clara o quanto a série se preocupa com sua parte visual.

Outro destaque é o elenco, tanto o infantil quanto o adulto. Todos os atores entregam ótimas atuações e apresentam uma química muito boa entre si. É curioso notar as semelhanças entre os personagens e de como os adultos refletem os comportamentos das crianças.

Em síntese, A Maldição da Residência Hill é uma série que entrega ao espectador uma experiência de excelente qualidade, seja na parte visual quanto na dramática. Não é uma série de terror interessada em entregar sustos fáceis (apesar daquela cena no carro no episódio 8 “Marcas de uso“, mas que funciona totalmente dentro da narrativa), mas sim em proporcionar uma imersão dentro da narrativa para que quem está assistindo se importe com os personagens e se identifique com seus medos e sentimentos. Será que você é capaz de encarar isso de forma racional?



A Maldição da Residência Hill, cartazA Maldição da Residência Hill (The Haunting of Hill House) – 1ª Temporada

Criado por: Mike Flanagan
Emissora: Netflix
Elenco: Michiel Huisman, Carla Gugino, Henry Thomas, Elizabeth Reaser, Oliver Jackson-Cohen, Kate Siegel, Victoria Pedretti, Lulu Wilson, Mckenna Grace, Paxton Singleton, Julian Hilliard, Violet McGraw e Timothy Hutton
Ano: 2018

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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