Crítica | A Grande Muralha (The Great Wall)

Crítica | A Grande Muralha (The Great Wall)

O diretor chinês Zhang Yimou se consagrou ao realizar filmes com um visual estonteante. O seu estilo mistura artes marciais coreografados de maneira belíssima com cenários exóticos da cultura oriental. Sempre histórias com tom épicos, com cenas de batalhas e com histórias inspiradas na cultura do seu país. Em A Grande Muralha, ele realiza seu primeiro trabalho em parceria com um estúdio americano e também quase todo falado em inglês.

Mesmo contando uma lenda chinesa, fica claro que a essência é perdida resultando em um filme genérico sem a mesma qualidade dos trabalhos anteriores do diretor. Yimou mantém a sua qualidade técnica como realizador, mas o roteiro escrito por Carlo Bernard, Doug Miro e Tony Gilroy é cheio de problemas.

A começar pelo desenvolvimento de seus personagens, principalmente o protagonista vivido por Matt Damon. Um homem que vive perambulando pelo mundo se envolvendo em alguns conflitos, mas sempre com um interesse financeiro e pessoal por trás. Ou seja, um mercenário. Assim, ao chegar na muralha da China junto com seu parceiro Tovar (Pedro Pascal), ele encontra um exército responsável pela segurança do país. Liderados por Lin Mae (Jing Tian), eles lutam contra monstros alienígenas (!?). E por acaso William (Damon) conseguiu arrancar o braço de uma dessas criaturas. Então ele pode ser a resposta na resolução do conflito.

Iremos conhecer também Lin Mae (Tian Jing), comandante da parte feminina do exército da muralha. Ela é a personagem mais interessante do filme. A começar pelo fato de ser uma mulher no meio militar. Mas ela também é a única que tem um arco dramático razoavelmente desenvolvido. E felizmente o roteiro não investe nela como um interesse romântico do protagonista americano. É dela os melhores momentos da história.

Só que o roteiro falha em criar um trama minimamente interessante para justificar as cenas de batalha. O protagonista é genérico e nem mesmo o talento e carisma de Damon conseguem salvá-lo do desastre. Além disso, os diálogos em muitos momentos são expositivos para explicar coisas que estão acontecendo na tela.

Logo na primeira cena de batalha, tanto William quanto Tovar conversam como se estivessem comentando as ações ocorrendo diante de seus olhos tentando explicar ao espectador o que está ocorrendo. E muitas das falam soam como frases de efeito, só que sem o mínimo de impacto. Dessa forma transformam os personagens em figuras caricatas perdidas dentro do universo pouco desenvolvido do filme.

Existe também uma metáfora para os monstros da história representarem a ganância dos homens, como a do protagonista. Mas ela é tão simplória e artificial que é necessário um personagem citá-la, em mais um diálogo expositivo, para que o espectador a identifique. Isso sem falar da presença de outro personagem gringo, interpretado por Williem Dafoe, que serve apenas para justificar o fato de alguns dos chineses terem aprendido a falar inglês.

Mas se o roteiro falha completamente, a parte técnica é competente. Mesmo sem conseguir criar o mesmo clima épico e belo de seus filmes anteriores, o diretor realiza boas cenas de batalha. Yimou separa o exército com cores e esse recurso ajuda a identificar a função de cada um deles. As mulheres, por exemplo, usam roupas azuis. Então é fácil identificá-las em cena. Esse efeito colorido cria um visual interessante. Seguindo um visual estilizado, em alguns momentos são utilizados de forma correta câmera lenta e closes para destacar alguns detalhes do combate. O uso do 3D ajuda a enfatizar esses efeitos, mesmo a utilização não sendo essencial a narrativa.

Vale destacar também a trilha sonora de Ramin Djawadi, que utiliza um recurso similar ao realizado em “Mad Max: Estrada da Fúria”, incorporando a música ao que está acontecendo na tela. Então temos personagens dentro do exército responsáveis por tocar tambores e o ritmo dos instrumentos os ajuda a saber qual ação deve ser tomada. Então uma mudança para um tom mais intenso significa atacar, então vemos os músicos tocando dentro da história e a música é a mesma que ouvimos na trilha. Ou seja, que nem o guitarrista de Mad Max tocando no meio das perseguições de carro.

Mesmo com uma parte técnica bem realizada, o filme não consegue ser mais do que uma simples aventura de fantasia genérica e artificial. Sem conseguir recriar o mesmo charme dos épicos de trabalhos anteriores, o diretor chinês se entrega ao tom de blockbuster americano perdendo a sua essência, mesmo contando uma história inspirada em uma lenda do seu país. E nem mesmo Damon consegue dar algum brilho a um personagem tão sem graça.


Uma frase: – Tovar: “Você acha que eles te veem como um herói?”

Uma cena: A primeira cena de batalha.

Uma curiosidade: Esse foi o filme chinês mais caro já realizado.

 

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A Grande Muralha (The Great Wall)

Direção: Zhang Yimou
Roteiro: Carlo Bernard, Doug Miro e Tony Gilroy; história de Max Brooks, Edward Zwick e Marshall Herskovitz
Elenco: Matt Damon, Jing Tian, Pedro Pascal, Willem Dafoe e Andy Lau
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Ano: 2016
Duração: 104 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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