Crítica | Carol (Carol, 2015)

Crítica | Carol (Carol, 2015)

Impressionante como uma história de amor entre duas mulheres ainda hoje é vista como algo controverso e diferente. A história de Carol se passa nos anos 50 e mostra como a situação já era complicada naquela época por conta do moralismo e conservadorismo. Como se houvesse algum problema entre pessoas do mesmo sexo se amarem. E é triste constatar como em pleno 2016 ainda temos problemas com isso. Dessa forma, o filme ganha ainda mais importância ao mostrar que as dificuldades que as personagens enfrentaram na época em que a trama se passa não seriam muito diferentes das que teriam que encarar nos dias de hoje.

O fato da história se passar nos anos 50 também é interessante por mostrar as dificuldades de uma mulher em querer ser independente, já que nessa época a mulher só era considerada bem sucedida se tivesse um bom casamento. E ainda as dificuldades de um divórcio de um casal com filho e de como a criança era usada pelos homens como moeda de chantagem. Pelo menos nessa questão já conseguimos evoluir bastante.

Na trama iremos conhecer Therese (Rooney Mara de “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres“), uma jovem que trabalha numa loja de departamento, mas que seu sonho mesmo é ser fotógrafa. Um dia Carol (Cate Blanchett de “Blue Jasmine“) vai a loja comprar um presente para sua filha pequena e uma acaba chamando a atenção da outra. Therese pelo seu jeito simples, meio inocente e tímido enquanto Carol por seu jeito sofisticado de uma mulher madura e interessante. Carol acaba esquecendo as luvas na loja, mas Therese dá um jeito de devolver. Isso acaba chamando a atenção de Carol que resolve convidar Therese para sair. A partir daí surge uma interessante relação entre as duas que inicialmente é mais curiosidade e amizade, mas que eventualmente acaba evoluindo para uma paixão.

É interessante notar como o roteiro de Phyllis Nagy consegue ir construindo aos poucos as personagens e a forma como surge o interesse de uma pela outra. Tudo é feito de maneira bastante sutil e delicada. Ao se desenvolver de forma lenta e interessante a história consegue apresentar bem as protagonistas e faz com que a paixão entre as duas surja de forma verossímil e satisfatória, fazendo com que o espectador se importe com elas ao ponto de torcer para que ambas consigam vencer as dificuldades impostas pela sociedade e consigam ser felizes e viver o seu amor.

Além disso, o trabalho das atrizes Rooney Mara e Cate Blanchett é impressionante. A química entre as duas é muito boa. Mara mais uma vez surpreende com uma personagem diferente e mostra cada vez mais o seu talento e capacidade de interpretar papéis tão distintos. Já Blanchett mostra novamente toda a sua experiência em mais um ótimo papel. Elas conseguem mostrar bem essa evolução e aproximação das personagens de uma amizade para uma paixão, mesmo que desde o início já fique claro que o interesse uma da outra tem um ‘algo mais’.

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Completando tudo isso entra o trabalho do diretor de fotografia Edward Lachman em captar os detalhes da cena para, dessa forma, apresentar a delicadeza e a sutileza da história e da interpretação das atrizes. A beleza desses pequenos detalhes, seja de um olhar ou de um toque de mãos, tornam o filme ainda mais bonito e intimista. A música de Carter Burwell ajuda a manter ‘o clima’ sem deixar o tom do filme ficar muito melodramático.

Já o figurino de Sandy Powell ajuda a caracterizar as personagens e mostrar principalmente o amadurecimento de Therese. No início, uma das coisas que mais chama a atenção em Carol é justamente suas roupas com cores fortes. Enquanto Therese se veste de forma mais discreta. Já mais para o final do filme essa mudança fica bem clara nas roupas quando vemos a influência de uma na outra e já vemos Therese se vestindo de forma bem mais elegante. E o fato da história se passar nos anos 50 dá um charme ainda maior a esse detalhe no figurino. Junto com o design de produção de Judy Becker ajuda a construir bem o clima da época.

No final das contas: o que é o amor? O que é amar uma pessoa? Qual o problema de pessoas do mesmo sexo se amarem? Esses são alguns dos temas que o diretor Todd Haynes consegue captar ao mostrar essa ótima história de amor entre duas mulheres e toda a sua dificuldade. E ao focar na beleza e na sutileza dos detalhes ele consegue um resultado bem interessante e que funciona muito bem graças ao incrível trabalho das atrizes Cate Blanchett e Rooney Mara. O final do filme consegue retratar bem essa delicadeza e a importância de mostrar todos esses pequenos detalhes.


Uma frase: Therese – “Eu não sei o que eu quero. Como eu posso saber o que eu quero se eu digo sim para tudo?”

Uma cena: O momento em que Therese e Carol se encontram pela primeira vez na loja onde Therese trabalha.

Uma curiosidade: O filme foi filmado em 16 mm para o visual e o formato da razão de aspecto fosse parecida com a dos anos 40 e 50.

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carol-cartazCarol (Carol)

Direção: Todd Haynes
Roteiro: Phyllis Nagy (baseado no livro The Price of Salt de Patricia Highsmith)
Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson, Cory Michael Smith e Jake Lacy
Gênero: Drama, Romance
Ano: 2015
Duração: 118 minutos

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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