Review | The Flash – 2×01: The man who saved Central City

Review | The Flash – 2×01: The man who saved Central City

A crítica a seguir contém comentários sobre o episódio que podem ser considerados spoilers, para leitores mais sensíveis.

No season premiere da segunda temporada de The Flash, os produtores da série optam por um jeito diferente de narrar a conclusão do season finale da primeira temporada, que nos faz lembrar qual o principal diferencial da melhor adaptação de um personagem da DC Comics que a televisão já pôde nos prover.

A temporada passada se encerrou em um cliffhanger de enormes proporções com nada mais nada menos do que o Flash (Grant Gustin) disparando para tentar fechar uma singularidade – para os leigos, um buraco na tessitura do tempo-espaço similar a um buraco negro – que se abriu sobre os céus de Central City, após o Professor Zoom (Tom Cavanagh) ter sido apagado da existência pelo paradoxo do tempo criado graças ao sacrifício de Eddie Thawne (Rick Cosnett).

A conclusão para essa situação de perigo foi ansiosamente esperada pelo público durante meses. E, graças a uma acertada opção dos roteiristas e criadores da série, assim que o episódio se inicia percebemos que não teremos essa resposta. Pelo menos não de imediato. Ora, era evidente que todos sabiam que o Flash salvaria o dia. Assim não há muita surpresa quando reencontramos o velocista escarlate enfrentando as consequências dos eventos do final da primeira temporada, seis meses após a conclusão daquela.

TheFlash04Correndo sozinho.

E as consequências são acima de tudo emocionais. Abalado, Barry decidiu se afastar de seus amigos e aliados passando a se desdobrar para defender sozinho Central City e ajudar a reconstruir, em segredo, os estabelecimentos da cidade que foram arruinados pela singularidade. A cidade, por outro lado, celebra o seu herói e prepara uma cerimônia de homenagem ao homem que salvou Central City, para entregar as chaves da cidade ao Flash.

Cerimônia para à qual Barry se nega a comparecer a despeito da insistência de Joe (Jesse L. Martin), Cisco (Carlos Valdes) e Iris (Candice Patton). E logo fica claro que a resistência de Barry é fruto muito mais do que mera humildade. Há um profundo pesar sobre os ombros do Flash. Central City foi salva, o Flash Reverso derrotado, mas ele não venceu. E é claro tudo isso tem a ver com o homem que salvou Central City.

O homem que salvou Central City

Como dito antes, ao não recorrer à típica fórmula de um episódio em duas partes divididos entre duas temporadas, Greg Berlanti e Andrew Kreisberg fogem do lugar comum, e provam mais uma vez o motivo pelo qual a série do Flash se destaca como uma das melhores produções do sub-gênero de super-heróis que, para o bem ou para o mal, se tornaram muito comuns na atualidade. A resposta a pergunta de como Central City foi salva só é dada ao longo do episódio, à medida que observamos a dificuldade de Barry Allen em lidar com as consequências daquele dia. O mais importante é que a estrutura em flashback não é utilizada como um mero recurso narrativo. Ela serve a um propósito muito claro: mostrar a culpa e o sofrimento de Barry, e de como esses sentimentos interferiram na sua relação com seus amigos e aliados. Mais ainda, nos efeitos que essa situação tiveram sobre o homem mais rápido vivo.

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É muito difícil construir boas narrativas em torno de seres tão poderosos quanto deuses, como são os personagens da DC Comics. Se isso é verdade nos quadrinhos, na TV isso é desafio ainda maior. O segredo está sempre em se lembrar – e nos fazer lembrar – de que esses indivíduos apesar de seus dons extraordinários ainda são humanos em sua essência. A série do Flash sempre apostou nisso em primeiro plano, mais do que um mero pano de fundo como ocorre em outras séries do gênero. E o faz muito bem, sem exagerar no melodrama, e no tom apropriado do personagem, afinal Barry Allen sempre foi, acima de tudo, um grande coração.

É gratificante quando, enfim, esse grande coração finalmente consegue uma vitória significativa. E essa vitória vem de onde menos se espera. Graças a um último e gracioso gesto do Dr. Harrison Wells. O testamento do mentor do Flash na primeira temporada acaba deixando mais para Barry do que o controle dos Star Labs. E é curioso ver que mais uma vez é o gesto de Wells que contribui para finalmente reunir Barry a seus amigos e fazê-lo se lembrar, através das palavras de outro importante personagem para ele, aquilo que ele realmente é o que precisa ser: o herói de Central City.

TheFlash08

A propósito, o fato de Central City abraçar e reconhecer seu herói parece finalmente estabelecer a noção geral de um mundo novo de maravilhas que se guia por novas e fantásticas regras. A relação entre o velocista escarlate e sua cidade – como se dá com a maioria dos personagens da DC Comics – sempre foi um dos pontos mais importantes na mitologia do Flash. Central City é tanto um personagem de fundamental importância na história de Barry Allen quanto Iris West ou a Galeria dos Vilões. Também percebemos que cada vez mais as séries da DC na televisão se aproximam mais do tom dos quadrinhos com um universo compartilhado que fala uma mesma língua. Cada vez mais fica a certeza que a DC está sendo melhor reproduzida na TV do que no cinema e que em seus seriados mais do que em seus filmes podemos ver diante de nossos olhos o melhor que a chamada Era de Prata dos quadrinhos foi capaz de produzir. E o Flash, não por acaso, é o personagem símbolo da Era de Prata. Sua jovialidade, heroísmo e bom coração e genialidade garantem a ele esse posto.

A Era de Ouro e a Era de Prata reunidas e o Multiverso da DC nas telinhas

Também é ótimo perceber que os elementos que atravessarão a segunda temporada buscarão inspiração em outra grande referência da DC Comics: a Sociedade da Justiça, uma das maiores e mais icônicas equipes de super-heróis da Era de Ouro dos quadrinhos. E o envolvimento da Sociedade da Justiça sempre foi uma aposta forte desde que observamos com mais atenção a escultura de ouro em forma de painel no hall de entrada da central de polícia de Central City.

TheFlash03Cara a cara com o Esmaga-Átomo.

Nesse primeiro episódio o Esmaga-Átomo – por sinal mais uma vez ponto para os competentes e bastante ousados efeitos especiais de uma série produzida para a TV aberta – surge como o meta-humano antagonista da noite, sinalizando uma trama que ao que tudo indica recorrerá a realidades paralelas, ou sendo mais específico, ao Multiverso da DC Comics.

E é claro que ao se mexer com Multiversos também não se pode deixar de se ter em mente que a porta para o retorne de certos arqui-inimigos, ainda que em outras versões, fica entreaberta. Zoom, aparentemente, não deixará de ser um calo no pé do velocista escarlate assim tão fácil, apesar de que ser bem possível esperar que haverá ainda muitas surpresas acerca de seu “retorno”. Afinal, já houve mais de um Flash Reverso nos quadrinhos, não é mesmo? Nada mais justo que numa trama que envolva o Multiverso um outro Zoom seja facilmente introduzido, e isso é o que parece que irá acontecer.

Na mesma medida, em se tratando de realidades paralelas, nada mais justo que um outro Flash venha a se apresentar. Durante todo o episódio vemos Jay Garrick (Teddy Sears) observando à distância situações nas quais Barry está envolvido. Garrick, nos quadrinhos, é o Flash da Era de Ouro em dos fundadores da Sociedade da Justiça, e a aposta é que nessa temporada ele assumirá o posto de mentor do Flash deixado vago por Harrison Wells.

Para que vocês me levem a sério eu não vou usar o penico na cabeça nessa primeira cena.

Apenas ao final ele se apresenta a Barry e sua equipe enfim reunida, para avisar, é claro, de uns grande ameaça ao mundo deles. Ameaça essa, evidentemente, que está relacionada com Zoom e talvez mesmo com a nova série do CW Legends of Tomorrow e que deve ser o plot principal de toda a segunda temporada.

A verdade é que The Flash inicia a sua corrida para a segunda temporada no ritmo certo, prometendo atingir velocidades ainda maiores e ser um sucesso ainda maior do que a primeira. Vamos acompanhar de perto para ver. De preferência sem piscar, afinal, estamos falando das aventuras do homem mais rápido vivo.



Posters-TheFlashSérie: The Flash
Temporada:
Episódio: 01
Título: The man who saved Central City
Roteiro: Greg Berlanti e Andrew Kreisberg
Direção: Ralph Hemecker
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Jesse L. Martin, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Victor Garber, Tom Cavanagh, Robbie Amell, Adam Copeland, Teddy Sears, Dominic Purcell, Wentworth Miller e John Wesley Shipp.
Exibição original: 06 de Outubro de 2015 CW

 

 


Mário Bastos

Quadrinista e escritor frustrado (como vocês bem sabem esses são os "melhores" críticos). Amante de histórias de ficção histórica, ficção científica e fantasia, gostaria de escrever como Neil Gaiman, Grant Morrison, Bernard Cornwell ou Alan Moore, mas tudo que consegue fazer mesmo é mestrar RPG para seus amigos nerds há mais de vinte anos. Nas horas vagas é filósofo e professor.

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