Crítica | Alice Através do Espelho

Crítica | Alice Através do Espelho

Era natural que Alice no País das Maravilhas, dirigido por Tim Burton, ganhasse uma sequência após o enorme sucesso de bilheteria. Especialmente porque o livro de Lewis Carroll, no qual o longa metragem é baseado, tem uma continuação. Entretanto, desta vez o próprio Burton optou por não comandar as filmagens, ficando apenas na produção de Alice Através do Espelho. A direção ficou com o não tão conhecido James Bobin. Porém, a pergunta permanece: era realmente necessário a produção de um novo filme? Em Hollywood, isso não tem muita importância, afinal de contas, uma franquia de sucesso tem grandes chances de arrecadar mais dinheiro. A sequência poderia ser, no mínimo, divertida, como o filme anterior, mas emperra em alguns problemas.

O filme começa nos mostrando Alice (Mia Wasikowska) como capitã do navio que pertenceu ao seu pai. A cena inicial é o momento mais interessante do filme, embora o tema ‘igualdade de gêneros’ pudesse ter sido melhor explorado. A trama se passa no final do século XIX, época em que as mulheres lutavam arduamente por direitos básicos. Ao voltar para casa, nossa protagonista tem que lidar com problemas financeiros e não sabe se conseguirá comandar uma nova expedição.

Mas nada disso importa. Ela recebe a visita de Absolem (voz de Alan Rickman), que agora é uma borboleta, e retorna ao País das Maravilhas para ajudar o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp). Apesar de já ser considerado louco, o personagem encontra-se confuso, por achar que os pais ainda vivem. Eis que Alice decide voltar no tempo para impedir que os genitores do Chapeleiro morram, só assim seu amigo poderá voltar ao “normal”. Em visita ao personagem Tempo (Sacha Baron Cohen), Alice pede emprestado a cronosfera, uma fonte de energia que alimenta o grande relógio, capaz de fazê-la viajar no tempo.

Nem sei como comentar o absurdo das ideias de Alice para salvar o amigo. Para começar, ela causa uma grande confusão ao voltar no tempo, mas depois é considerada heroína por ter conseguido salvar a situação – que ela mesma causou, diga-se de passagem. Fica uma sensação parecida com a que se tem em Batman VS Superman, quando se cria um conflito desnecessário e que poderia ter sido facilmente resolvido em uma conversa. Em Alice Através do Espelho, ela poderia ter simplesmente acreditado no Chapeleiro Maluco em vez de causar tanto tumulto.

Uma pena que o filme desperdice boas ideias e prefira embarcar em uma viagem no tempo com tantas confusões. Em vez disso, o longa poderia ter explorado temas profundos e atuais como equidade de gênero, já que a protagonista é uma mulher forte e independente. Tudo fica bastante superficial. Alice abandona os problemas do mundo real para ajudar os amigos, em Wonderland, e se esquece de si mesma. O passado de alguns personagens é explorado durante a volta no tempo. Porém, o roteiro de Linda Woolverton não consegue dar relevância a essas informações no sentido de resolver os conflitos do filme.

O elenco faz o que pode, mas o roteiro não ajuda. Apesar de menos tempo na tela, quem, mais uma vez, rouba a cena é Helena Bonham Carter, como a Rainha Vermelha. A personagem é a que tem o melhor arco dramático, embora o desfecho deixe muito a desejar. Já Sacha Baron Cohen atua bem fazendo o personagem Tempo, com uma encenação bastante característica, sem exageros nos trejeitos. Quem decepciona é Johnny Depp, que parece atuar no modo automático, sem nenhum carisma. Enquanto isso, Mia Wasikowska se esforça como Alice, mas as atitudes da personagem não a ajudam a angariar empatia enquanto ela está no País das Maravilhas. Ela é bem mais interessante quando está no mundo real da trama.

O 3D funciona muito bem ao utilizar a profundidade de tela para recriar cenários. Um bom exemplo é a cena em que os personagens caminham por um corredor, fazendo um ótimo uso da tecnologia. O problema é que o filme não foi produzido para ser 100% 3D, por isso algumas tomadas usam a troca de foco entre objetos para criar a impressão de profundidade, porém sem necessidade. Para alguns espectadores – como eu – esse efeito pode gerar incômodo e o resultado é sair do filme com dor de cabeça.

No fim das contas, o diretor James Bobin mantém o mesmo estilo visual de direção de Tim Burton. E, de fato, não havia muita coisa que ele pudesse fazer em relação a isso. Entretanto, o tom do filme soa um pouco mais sério que o anterior, fazendo com que ele seja menos divertido. Ainda que uma sequência seja desnecessária, não significa que não possa ser uma experiência positiva. Infelizmente, não é o que acontece aqui. O resultado final não é satisfatório.

* Texto revisado por Elaine Andrade


Uma frase: Rainha Branca – Ele (o Tempo) não é alguém que você queira como inimigo.

Uma cena: Logo no início do filme Alice como capitã do navio fazendo possível uma manobra aparentemente impossível para fugir de piratas.

Uma curiosidade: Esse foi o último filme de Alan Rickman, que faleceu 4 meses antes do lançamento do filme.

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alice-atraves-espelho-cartazAlice Através do Espelho (Alice Through the Looking Glass)

Direção: James Bobin
Roteiro: Linda Woolverton
Elenco: Johnny Depp, Anne Hathaway, Mia Wasikowska, Rhys Ifans, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Alan Rickman, Stephen Fry, Michael Sheen e Timothy Spall
Gênero: Aventura, Família, Fantasia
Ano: 2016
Duração: 113 minutos.

Ramon Prates

Analista de sistemas nascido em Salvador (BA) em 1980, mas atualmente morando em Brasília (DF). Cinema é sem dúvidas o meu hobby favorito. Assisto a filmes desde pequeno influenciado principalmente por meus pais e meu avô materno. Em seguida vem a música, principalmente rock e pop.

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