Crítica | Fúria Primitiva (2024)
“Fúria Primitiva” (Monkey Man, 2024) é a estreia do ator Dev Patel – que também protagoniza essa película – como diretor. A trama é a boa e velha história de vingança, no qual um homem sozinho busca, em face das injustiças perpetradas por pessoas poderosas contra ele – e outros oprimidos como ele – alguma medida de justiça com as próprias mãos (nesse caso, literalmente).
Patel se tornou mundialmente com o excelente “Quem quer ser um milionário?” (Slumdog Millionaire, 2008) de Danny Boyle. Britânico, nascido em Harrow na Inglaterra, porém de ascendência indiana, Patel logo associou seu carisma, beleza e talento para se tornar um dos grandes nomes de uma geração que buscava cada vez mais por ídolos para além do padrão caucasiano de Hollywood. Nesse mesmo período, Bollywood, a tão criativa quanto rentável indústria cinematográfica indiana, tornou-se cada vez mais popular no ocidente. Não por acaso, muito de “Fúria Primitiva” parece buscar acomodar características e tropos narrativos já típicos desse cinema, bem como do modelo industrial ocidental de cinema. O resultado, infelizmente, não é exatamente regular ou bem-sucedido.
“Fúria Primitiva” é daqueles filmes pelos quais, muito por conta de seu realizador, nutrimos de antemão uma grande simpatia. Se considerarmos ainda que a produção é do já aclamado Jordan Peele, as altas expectativas são difíceis de se afastar. Porém, o que temos é um filme pelo qual a todo tempo buscamos justificativas para nosso apreço empenhado. O resultado, nesse caso, tende a cair numa vala comum em que colocamos condescendentemente as limitações do projeto na conta da inexperiência do diretor.
Histórias de vingança são narrativas arquetípicas poderosas com as quais uma identificação imediata se produz do público para com os personagens quase que imediatamente e em esforço. O western, por exemplo, usa e abusa do mesmo. O problema, porém, reside em que esse apelo tão forte pode nos acomodar (tanto realizadores quanto audiência) em uma imensa zona de conforto. O resultado, nesses casos, ou é o desastre ou a mediocridade. E, em muitos casos, a mediocridade é mais lamentável do que o desastre em si.
Isso é o que mais lamento em “Fúria Primitiva”. Posso afirmar tratar-se de um filme ruim? Com certeza não. Mas é um filme bom? Vale a pena ser visto? Se você é fã de Dev Patel e torce – como eu torço – para que sua carreira como diretor seja tão brilhante e bem-sucedida como sua carreira como ator, em um mundo que necessita desesperadamente de vozes e olhares mais diversos, bom, então vale à pena ser visto, sim. Mas tenho mesmo minhas dúvidas se essa última afirmação pode ser classificada como uma “crítica positiva”.
Uma frase: “Você gosta de John Wick? Essa é a mesma arma do filme.”
Uma cena: A luta na cozinha já é uma sequência de luta bastante famosa na Internet e, sem dúvida, a melhor do filme.
Uma curiosidade: O filme teria sido inspirado pelo amor de Patel por filmes de Bruce Lee, filmes coreanos, títulos de Bollywood e histórias que seu avô lhe contava quando criança. O ator é diretor também pratica Taekwondo desde o 10 anos e fez parte das cenas de luta sem dublê.
Fúria Primitiva (Monkey Man)
Direção: Dev Patel
Roteiro: Dev Patel, Paul Angunawela e John Collee; história de Dev Patel
Elenco: Dev Patel, Sharlto Copley, Pitobash, Vipin Sharma, Sikandar Kher, Adithi Kalkunte, Sobhita Dhulipala, Ashwini Kalsekar, Makarand Deshpande, Jatin Malik e Zakir Hussain
Gênero: Ação, Suspense
Ano: 2024
Duração: 121 minutos