Crítica | Fogo-Fátuo
No sugestivo ano de 2069 o moribundo rei de Portugal relembra de um período importante de sua vida. Quando era um jovem príncipe ele deixou o privilegiado conforto da corte e ingressou no corpo de bombeiros para combater os grandes incêndios que assolavam a pátria. E foi ali que ele conheceu uma de suas paixões: o bombeiro Afonso.
O diretor português João Pedro Rodrigues define Fogo-Fátuo como uma fantasia musical, mas acho importante adicionar as palavras satírica e erótica. Dessa forma, o público pode ficar um pouco mais preparado para o que vem pela frente.
Em meros 67 minutos o roteiro aborda várias temáticas e alcança resultados insatisfatórios em quase todas elas. O ar satírico e crítico está presente nos diálogos entre os membros da família real e suas atitudes. Admito que é engraçado ver a matriarca criticando o pensamento daqueles contrários a monarquia, mas o humor aqui é extremamente seco e pouco inspirado no geral, sendo difícil ou quase impossível se divertir de fato.
Se a principal intenção era fazer um alerta em relação a questão climática, o roteiro também se mostra irregular. A quebra da quarta parede e a leitura do discurso da ativista Greta Thunberg não me parecem suficientes no contexto do filme para causar alguma comoção.
E quanto ao romance LGBT? Bem. A atração entre o príncipe Alfredo e o bombeirão Afonso não é das mais críveis, apesar do bom número musical no meio do filme. Rapidamente, as coisas descabam para cenas intensas envolvendo pênis de borracha e ejaculações um tanto gráficas. Mas acredito que o ápice da ousadia e do exagero foi comparar pintos com florestas de Portugal. Pois é.
Por se chamar de fantasia, Fogo-Fátuo parece considerar que um roteiro mais sólido não era necessário. Atirando para todos os lados, desenvolvendo pouco seus temas e fazendo rir apenas eventualmente, essa é daquelas experiências diferentonas demais para realmente funcionar.
Uma frase: “Isso é coisa de republicano!”
Uma cena: Número musical no quartel
Uma curiosidade: A música que toca no número musical se chama Ctrl + C ctrl + V da banda Ermo
Fogo-Fátuo
Direção: João Pedro Rodrigues
Roteiro: João Pedro Rodrigues
Elenco: Mauro da Costa, André Cabral
Gênero: Comédia, Fantasia, Musical
Ano: 2022
Duração: 67 minutos