Crítica | Perlimps (2022)
Na animação “O Menino e o Mundo” o diretor Alê Abreu conseguiu a incrível façanha de levar seu filme à indicação ao Oscar de melhor animação em 2016. Em seu novo trabalho chamado “Perlimps” ele segue um estilo visual similar, mas aposta em uma pegada mais infantil sem deixar as suas ambições artísticas de lado.
Sem dúvidas o que mais se destaca em “Perlimps” é o seu visual similar a uma tela pintada em aquarela que ganhou movimento. A floresta é apresentada em tons pastéis e o resto da paleta de cores ajuda a definir não só os cenários como os dois protagonistas. Ambos são agentes secretos que agem em nome do seu respectivo reino.
Claé (Lorenzo Tarantelli) representa o reino do sol, então sua cor predominante é o laranja, sua característica principal é a similaridade com um lobo e ele usa bastante da tecnologia através de um relógio de pulso cheio de funcionalidades. Já Bruô (Giulia Benite) é do reino da noite, assim sua cor é o azul e ele tem as características de vários animais misturados, as melhores partes como ele afirma. O primeiro ato da animação serve para apresentar os personagens e suas particularidades.
Apesar de terem a mesma missão, que é salvar a floresta dos “gigantes” e para isso buscam pelos misteriosos Perlimps, os protagonistas resistem em trabalhar juntos por achar que o outro também é uma ameaça. Esse conflito é curioso, mas o roteiro do próprio Alê Abreu não explora tão bem quanto poderia. Inicialmente essa briga entre Claé e Bruô irrita um pouco, mas quando eles cedem ao objetivo em comum a narrativa fica mais interessante.
“Perlimps” fica mais interessante quando a jornada de Claé e Bruô se aprofunda pela floresta e explora outros ambientes. Dessa forma, após muitos diálogos expositivos, os protagonistas entram em um clima de aventura que desenvolve mais o tom inventivo da proposta inicial da animação. Assim Alê Abreu mostra ainda mais o poder do seu estilo de animação, especialmente quando mostra a cidade, que contrasta bastante com o visual da floresta.
A partir desse ponto o diretor mostra um estilo similar de contar história ao apresentado em “O Menino e o Mundo”, com um tom poético, subjetivo e reflexivo, além de muita poesia visual. Talvez isso tire um pouco do apelo ao público infantil, mas melhor não duvidar da capacidade de uma criança em aproveitar uma boa história. No fundo a animação tem como predominância o tom fantasioso, como a própria imaginação dos pequenos, e isso é refletido muito bem através da parte visual.
Outro ponto de destaque da animação é a trilha sonora de André Hosoi e O Grivo, que ajuda a criar o clima imaginativo através de belos temas que misturam um clima de mistério com um contemplativo. As músicas utilizam muito sintetizador e acertam ao usar estilo banda de rock, com guitarras e muita bateria, mesclando com música popular brasileira. A dupla utiliza a canção “Bola de Meia, Bola de Gude” de Milton Nascimento de forma brilhante, dando uma “brasilidade” à trilha sem soar clichê.
Em síntese, “Perlimps” é uma boa animação onde a parte visual é o principal destaque, que somados ao clima imaginativo e a ótima trilha sonora transformam o filme de Alê Abreu num resultado positivo, apesar de pequenos problemas no ato inicial. O cineasta mantém sua ambição artística e mostra que é possível fazer trabalhos em desenho animado de qualidade no Brasil.
Uma frase: – Claé: “So os Perlimps podem salvar o bosque.”
Uma cena: O encontro com João-de-barro.
Uma curiosidade: A estreia mundial de “Perlimps” foi em junho de 2022, na sessão “Événements Excepcionelles” do Festival de Annecy – considerado o evento mais importante do mundo da animação -, na França.
Perlimps
Direção: Alê Abreu
Roteiro: Alê Abreu
Elenco: Stênio Garcia, Giulia Benite e Lorenzo Tarantelli
Gênero: Animação
Ano: 2022
Duração: 75 minutos